Durante os últimos dias, tem o país vivido um autêntico e inusitado período de nojo. Nas duas acepções da palavra. De nojo, porque de luto pela morte de Eusébio, um estimável futebolista. Também de nojo, porque de náusea pela despudorada colagem dos órgãos de soberania, partidos políticos, autoridades autárquicas e outras entidades ao infausto acontecimento, na expectativa de obterem dividendos à custa das homenagens ao defunto.
Sou já suficientemente antigo para me recordar de outro notável jogador, também ele negro, de nome Matateu (1927-2000), cuja morte não constituiu motivo para uma "consternação nacional" como a que presentemente ocorre.
Na Antiga Roma, o Povo reclamava espectáculos e o Poder, complacente, concedia-lhos. Panem et circenses foi sempre uma forma de acalmar as reivindicações populares, e mesmo quando o pão escasseia, resta o circo. Convém compreender a psicologia das massas, Gustave Le Bon explica-o.
Durante o Estado Novo, os democratas apelidavam Portugal de país dos três "F": Fado, Futebol, Fátima. A tonitruante reivindicação, veiculada pela imprensa, a rádio, a televisão, a internet, de trasladar Eusébio para o Panteão Nacional prova que nada mudou.
Foi já na III República que Amália Rodrigues, expoente máximo do Fado, foi entronizada no Panteão de Santa Engrácia, quando, na verdade, os seus restos mortais ficariam melhor em mausoléu apropriado, num cemitério como o dos Prazeres, onde inicialmente se encontravam, o que mais facilmente permitiria a veneração dos devotos.
As multidões e quem delas se serve pretendem agora conceder honras de panteão a um vulto maior do futebol nacional, Eusébio da Silva Ferreira, de seu nome.
Para cumprir a trilogia dos três "F", porque não trasladar também para o Panteão o corpo da Irmã Lúcia, ícone do Milagre de Fátima, a quem a própria Virgem Maria terá aparecido? Estou certo de que os crentes das religiões monoteístas cristã e islâmica aplaudiriam com fervor e entusiasmo.
Por isso, proponho: a Irmã Lúcia para o Panteão Nacional. Já!
2 comentários:
Ora aqui está uma proposta coerente
Inteiramente de acordo. Ser coerente é essencial, nestes tempos complicados!
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