quinta-feira, 1 de setembro de 2011

ACTORES e actores


Pela sua oportunidade e pertinência, e porque importa distinguir os verdadeiros actores dos "actores circunstanciais", transcreve-se o artigo de Tiago Mesquita, no "Expresso":

A morangada: uma geração rasca de actores

«De alguns anos a esta parte, em especial desde que surgiram formatos televisivos amorangados, macacadas com vampiros de mochila às costas e rebeldias do acne que a televisão em Portugal (e parte do cinema por arrasto) se tornou numa espécie de viveiro de actores que apenas o são porque alguém os enganou enquanto espremiam as borbulhas uns aos outros num casting de manequins. Uma bandalheira generalizada. E perdeu-se espaço para o talento que marcou muitas e boas gerações de actores neste país.

A formação hoje em dia vem depois, quando o "actor" está farto de ser "actor" e decide ir estudar qualquer coisinha ligada à representação porque não pode fazer de adolescente toda a vida, normalmente escolhem o estrangeiro, vulgarmente Los Angeles porque " lá fora é que é bom". Para esta malta fazer um curso de representação nos EUA é como ir ali ao Pingo Doce comprar fruta da época, sabe bem. Resultado: em Portugal hoje em dia é comum uma pessoa sem qualquer formação ou aptidão especial para representar começar a fazê-lo, por variadíssimas razões, que vão da simples aparência ao facto de serem sobrinhos do não sei quantos ou, muito frequentemente, por não se importarem de dormir com metade da equipa de produção, som, imagem e ainda com o individuo que estaciona os carros à porta dos estúdios e vá -toma lá umas deixas que começas amanhã às 8 a ser uma vedeta.

Não querendo generalizar mas avaliando o estado geral de coisas (basta sintonizar as televisões portuguesas a algumas horas do dia e estar uns minutos atento - mas sem exageros não quero induzir o coma a ninguém) o vulgar jovem actor português de televisão é hoje uma espécie de batido de estupidez com natas e açúcar. E vale tudo. Do rapazola musculado modelo de roupa interior a fazer de galã mas com a expressividade de um pinheiro até à adolescente "boazona" mas que é necessário ter um tradutor de "troglodita" para português para se entender o que diz. Daí à passagem a apresentadores é apenas um passo, dois castings e três noitadas. Chamam-lhe produção nacional. Eu chamo-lhe disfunção cerebral. Completa estupidez de quem gere este sistema.

E nascem assim as novas "vedetas" deste país. Ganham tiques e começam a comportar-se como tal. O ridículo total. Alguns são detidos uns meses mais tarde por posse e venda de estupefacientes num qualquer bairro problemático dos arrabaldes. A passadeira vermelha está estendida a tudo o que é grunho. A maioria destas pessoas é desprovida de talento, capacidade ou inteligência. Infelizmente neste país à beira mar plantado e mal regado quem se dedica de alma a esta nobre arte de entretenimento do público através da representação, quem opta e sonha ser actor e para isso estuda e treina aptidões e a vocação com que nasce (não é coisa que de adquira na Bershka), raramente tem uma verdadeira oportunidade de o demonstrar, pois tem os caminhos tapados por uma fila de morangos deslavados e salas cheias de vampiros de boné na cabeça e brinquinho na orelha. Uma tristeza saloia.»   

Os sublinhados são meus.

4 comentários:

Anónimo disse...

Por estas e por outras é que o Ricardo Seabra acabou por ir parar ao xelindró

Zephyrus disse...

Uma amiga muito próxima de mim, que é actriz, relatou-me várias vezes casos de rapazes, na casa dos 20 anos, que entraram em peças de teatro, filmes portugueses ou telenovelas porque dormiram com o homem certo. O caso Renato Seabra é um exemplo paradigmático do mecanismo que muitos jovens utilizam para ascender no mundo da moda ou da representação, e que, lamentavelmente, terminou de forma trágica. O povo português, a maioria da população, permanece ignorante sobre tal realidade. Pena não termos um Marquês de Sade que a descreva... Curiosamente, entre os vários casos que essa amiga me relatou, nenhum envolvia uma mulher: eram todos sobre relacionamentos homossexuais, jovens adultos que dormiam com homens mais velhos.

Anónimo disse...

Os chavalos são capazes de tudo para aparecer na TV. E nem fazem sacrifício nenhum pois há coisas de que eles até gostam. Assim se fazem amizades para uma vida por umas horas de convívio intimo e uns minutos de glória televisiva.

Anónimo disse...

Exactamente.