sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

SALÓNICA V - A ROTUNDA



A Rotunda é um dos principais monumentos de Salónica, e o mais antigo. Quando foi edificada, o seu provável destino seria tornar-se num templo romano. Foi mais tarde convertida em igreja, depois em mesquita, e é hoje finalmente um museu.


A sua construção terá sido iniciada pelo imperador Galério (293-311) (até 305 como César e a seguir como Augusto), após a sua vitória sobre os Persas Sassânidas, comandados pelo rei Narses (298), ou mais provavelmente a partir de 305, quando, por morte de Diocleciano, Galério foi elevado (no conceito da Tetrarquia Imperial), de César a Augusto.


A Rotunda estaria pois destinada a servir como templo, e evoca de alguma forma o Panteão de Roma, concluído sob o reinado de Adriano. Poderia também estar na mente de Galério que o edifício viesse a tornar-se o seu mausoléu, mas quando o imperador morreu, em 311, ainda não estava terminado, e Galério foi sepultado longe de Salónica, na sua cidade natal, Romuliana, no Illyricum, hoje o sítio arqueológico de Gamzigrad, na Sérvia.


A Rotunda fazia parte de um complexo que incluía o Arco de Galério e o Palácio de Galério (a que nos referiremos mais tarde). Seguindo um eixo norte-sul perpendicular ao mar, encontramos a norte a Rotunda e a sul o Palácio. Caminhando deste para norte, existia um vestibulum (42 x 18 m), hoje submergido pela avenida Egnatia (Odos Egnatia), que dava acesso ao Arco de Galério (ou Kamara), de que subsistem três dos oito pilares. Passado o Arco, uma monumental colunata processional (hoje desaparecida) conduzia à Rotunda.


A Rotunda possui, como o nome indica, uma estrutura circular, é construída principalmente em tijolo, e encontra-se hoje rodeada por edifícios de apartamentos. O seu diâmetro interior é de 24 m e o exterior de 36,5 m.e as suas grossas paredes, de 6,3 m, ao nível térreo, eram interrompidas, em intervalos regulares, por oito nichos abobadados, sendo o que ficava voltado para sul a entrada original. Janelas em abóbada, a nível superior, permitem a entrada da luz.


O edifício incompleto, e provavelmente sem tecto, foi posteriormente concluído, coberto por uma cúpula e convertido em igreja, hoje conhecida por Igreja de São Jorge (Agyos Georgiou). Na Idade Média foi também chamada a Igreja de Asomatoi (os Anjos), mas terá sido originalmente dedicada a Cristo e aos mártires. Quando o templo foi transformado em igreja o nicho oriental foi aumentado pela adição de um coro em abside e as paredes finais dos outros sete nichos foram eliminadas para dar acesso a um amplo ambulatório que foi criado em volta do perímetro do edifício. Assim, a impressionante igreja ficou com um perímetro de 54 m. Um terramoto na primeira metade do século VI ocasionou vários estragos e quando da reparação foi construído um baptistério octogonal a oeste da entrada. O ambulatório foi mais tarde destruído e abandonado, presumivelmente em consequência de outro sismo que abalou a zona por volta do ano 620. Este sismo, que provocou sérios danos no edifício, está descrito nos Milagres de São Demétrio.  Os nichos foram depois reerguidos na forma como hoje os vemos.


A data da conversão do edifício em igreja é altamente controversa. e as opiniões variam entre o século IV e o século VI. Parece como mais credível a tese que sustenta que terá ocorrido por instigação de Teodósio I (379-395), que pretendia uma igreja para servir o palácio, sendo a Rotunda a construção mais próxima e mais adequada para o efeito. A superfície interior, paredes e tectos, foi revestida de mármores brancos e coloridos, que infelizmente não foram preservados, restando apenas minúsculos fragmentos. O chão original encontrava-se um metro abaixo do actual, e a distância ao zénite da cúpula é de cerca de 29 metros. A cúpula e as abóbadas de passagem estavam revestidas de mosaicos, que resistiram aos vários sismos e, apesar de danificados, chegaram aos nossos dias.


Não cabe aqui discorrer sobre a excelência dos mosaicos bizantinos, a sua técnica, a sua estética e as figurações apresentadas (especialmente Cristo e os Mártires), matéria para ocupar muitas páginas. A sua execução só poderá ter decorrido de uma iniciativa imperial. São apontados alguns soberanos obviamente posteriores a Galério, mas afigura-se consensual que a tese que atribui a decisão a Teodósio I, o Grande, que foi o último imperador do Império Romano unificado a residir em Salónica. Ele viveu na cidade de Janeiro de 379 a Novembro de 380, regressou por um longo período entre 387 e 388 (em Janeiro de 388 celebrou a sua decennalia, o décimo aniversário como imperador) e voltou em 391 e 394. Foi ainda Teodósio que, em 391, instituiu o cristianismo como religião oficial do Império, proibindo os cultos pagãos.


Como se escreveu em post anterior, Salónica foi conquistada pelos turcos em 1430. A data da conversão da Rotunda (Agyos Georgiou) em mesquita pelo poder otomano está estabelecida em 1591. Todavia, os turcos não destruíram os mosaicos, limitando-se a ocultá-los fazendo pinturas por cima deles. Curiosamente, ou não, os livros gregos sobre a Rotunda omitem qualquer referência ao período otomano. Esta observação é válida relativamente a todos os outros monumentos, como pudessem ser simplesmente apagados cinco séculos de história. No local, a única recordação desse período é um minarete que sobreviveu ao encerramento da mesquita.


Um novo sismo em 1978 voltou a danificar o monumento, que, após restauro, foi reaberto provisoriamente em 1999 e definitivamente em 2015.


A descrição dos mosaicos ocuparia um livro, mas eles representam além de Cristo e dos mártires, muitos desconhecidos do Martirológio oficial, faisões, patos, estrelas, flores, cestos, etc., e à primeira vista parecem coloridos tecidos de seda da época sassânida.


A maior parte das imagens evoca a escultura e pintura da Roma Imperial, misturando elementos ocidentais e orientais, e mesmo persas, os tradicionais inimigos do Estado.


No exterior, ainda se vêem restos da colunata que ligava a Rotunda ao Arco de Galério, que descreveremos noutro local.


Perto do minarete existe uma fonte e há uma edificação, provavelmente também da época turca, que não consta da maqueta que é apresentada nos jardins circundantes do monumento.


Pelo exposto, e por tudo o que não se escreveu, a Rotunda é um dos mais importantes monumentos que deve ser visitado na cidade de Salónica.


Lamenta-se que o catálogo, que privilegia em absoluto os mosaicos, e bem, seja contudo praticamente omisso quanto aos pormenores da utilização do edifício ao longo da história, nomeadamente durante a ocupação otomana, como dissemos, e mesmo depois desta até à sua transformação em museu.


Existem túmulos otomanos não identificados no recinto circundante a leste do santuário da igreja.


Durante o período otomano a Rotunda foi designada por Eski Metropol. O nome de Agyos Georgiou, por que é hoje conhecida, deriva de uma pequena igreja dedicada a São Jorge, edificada em frente à porta ocidental do complexo.


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