domingo, 16 de dezembro de 2018

HITLER E OS ALEMÃES



Foi publicada em 2003, com o título Hitler et les Allemands, a tradução francesa das célebres lições dadas pelo doutor Eric Voegelin (1901-1985), na Universidade de Munique, em 1964, que haviam sido já editadas em inglês, em 1999 (Hitler and the Germans), a partir do dactilo-escrito alemão (com base na gravação sonora) daquele filósofo (que leccionou na mesma cátedra de Max Weber), aquando de um regresso  temporário à Alemanha, vindo dos Estados Unidos, onde se refugiara em 1938, fugindo da Áustria, após o Anchluss.

A obra compõe-se das dez lições do Mestre, sobre a responsabilidade dos alemães na ascensão do Nazismo, mais uma undécima, relativa à grandeza de Max Weber, e inclui ainda uma conferência dedicada a "A Universidade e a Esfera Pública. Sobre a Pneumopatologia da Sociedade Alemã". Curiosamente, não existe (pelo menos à data da edição francesa), uma edição em língua alemã desta obra considerada uma das mais singulares críticas do totalitarismo hitleriano, juntamente com a Terceira Noite de Walpurgis, redigida em 1933 pelo escritor vienense Karl Kraus (1874-1936), aliás só publicada em 1952, pois o seu autor, em 1934, desistira de imprimir o texto.

A fim de explicar a natureza do nazismo, Voegelin não escolheu como referências preferidas obras científicas, mas sim romances, dramas e poemas. Durante as suas lições, desfiou Os Demónios e Os Merovíngios, de Heimito von Doderer, Doutor Fausto, de Thomas Mann, O Homem sem Qualidades, de Robert Musil, Os Sonâmbulos, de Herman Broch, os Sonetos Sagrados, de John Donne, Gargantua e Pantagruel, de Rabelais, o Rei Lear, de Shakespeare, Biedermann e os Incendiários, de Max Frisch, Dom Quixote, de Cervantes, e, certamente, a Terceira Noite de Walpurgis.

Apenas cabem neste texto alguns apontamentos sobre a volumosa obra, mas importa sublinhar o interesse que as lições de Voegelin despertaram na imensa assistência que se apinhava no anfiteatro da Universidade. Surpreendente e provocante, o professor assinalou metodicamente a necessidade de se dotar de uma linguagem que lhe permitisse dissecar propriamente sobre o tema, uma linguagem que abrisse uma crítica e um julgamento adequados. Tal linguagem, ignorada enquanto conjunto de chaves teóricas, elaborou-a Voegelin sistematicamente no seu curso, e demonstrou-a por meio da análise filosófica, da ironia, da sátira, da polémica, do poder de despertar, do esclarecimento e, no plano moral, da imunização. Para ele, a morte foi a primeira e a última realidade do nazismo. Karl Kraus já o constatara em 1933. E é contra essa morte, que ele articulou a vida da inteligência atenta, crítica, imunizante, ao redigir a Terceira Noite de Walpurgis, que encontra a origem nesta frase: «Mir fält zu Hitler nichts ein» («A propósito de Hitler, nada me vem ao espírito»).

Da Introdução dos Editores: As aulas de Eric Voegelin constituem o apogeu da sua carreira de professor universitário e sábio alemão, ainda que controversas na Alemanha daquela época [e porventura hoje], ao explicar os conceitos fundamentais da sua filosofia política. O tema de Voegelin era a cumplicidade dos alemães com o governo nazi, o nível espiritual da vida intelectual alemã e o tratamento habitual pelos próprios alemães do seu passado nacional-socialista. «Selon lui, le défi le plus important que devait relever la société allemande n'était pas la "maîtrise du passé"(Vergangeinheitsbewhältigung) - expression courante et opaque pour désigner ce processus -, mais bien plutôt une "maîtrise du présent". Pour Voegelin, cela revenait à se demander si les Allemands avaient correctement réfléchi sur leur passé nazi et accompli une révolution spirituelle ou si la mentalité qui avaient rendu possible l'accession de Hitler au pouvoir ne dominait pas l'Allemagne de manière continue et ininterrompue.» (p. 17) «Dans l'esprit du célèbre livre de Jaspers La Culpabilité allemande, de 1946 - qui fut un temps important dans la discussion après guerre en Allemagne du passé nazi -, la question principale de Voegelin concernait les conséquences politiques, pour la République fédérale, de la mauvaise volonté apparente ou de l'incapacité à aborder sur le plan individuel la question de la culpabilité et de la responsabilité collectives.» (p. 18)

Segundo Voegelin, a resolução de enfrentar a questão da culpabilidade exige o vocabulário espiritual adequado. Por isso, a sua indignação relativamente à caracterização de Hitler por Percy E. Schramm (1894-1970), eminente historiador alemão, professor da Universidade de Göttingen, na edição dos Propos de table tenus par Hitler à son quartier général, 1941-1942 (Hitlers Tischgespräche im Führerhauptquartier, 1941-1942), de Henry Picker. Foi Schramm que escreveu a introdução a esta obra, publicada em 1963, e a que deu o título Anatomia de um ditador. Esta introdução foi editada mais tarde em inglês, em conjunto com outro ensaio, sob a designação Hitler: The Man and the Military Leader.

Não que Schramm tivesse afinidades secretas com o nacional-socialismo, mas o facto de ter sido membro do Partido Nazi e ter sido recrutado para prestar serviço durante a guerra, junto do general Alfredo Jodl, levou a que fosse demitido da sua Universidade, onde mais tarde foi reintegrado. Aliás, em 1958 o governo da República Federal da Alemanha condecorou-o com a Ordem do Mérito, de que viria a ser chanceler desde 1963 até à sua morte. O próprio Voegelin iliba Schramm das acusações que então lhe foram dirigidas, apenas o criticando pelas suas afirmações, demonstrativas de que a elite intelectual alemã estava desarmada dos conceitos elementares que permitiriam julgar correctamente Hitler. As considerações de Schramm acerca de Hitler são mesmo um dos motivos que levaram Voegelin a proferir na Universidade de Munique as lições em apreço.

Seria impossível compilar aqui, mesmo sumarissimamente, as lições de Voegelin, mas é conveniente registar algumas notas, principiando pela forma como este volume foi elaborado. A Primeira Parte intitula-se "Descida ao Abismo" e inclui: Introdução (Lição 1), Apresentação dos Instrumentos de Diagnóstico (Lições 2 e 3), Descida aos Abismos Académicos tornados manifestos pela Anatomia de um ditador, de Schramm (Lições 4 e 5), Descida ao Abismo Eclesiástico: a Igreja Protestante (Lição 6), Descida ao Abismo Eclesiástico: a Igreja Católica (Lições 7 e 8) e Descida ao Abismo do Direito (Lição 9). A Segunda Parte intitula-se "Para uma Restauração da Ordem" e inclui: A Primeira e a Segunda Realidade durante os Períodos de Crise Antiga, Pós-medieval e Moderna (Lição10) e Grandeza de Max Weber (Lição 11). Em Apêndice: A Universidade e a Esfera Pública: Sobre a Pneumopatologia da Sociedade Alemã.

O autor começa por fazer uma análise da chegada de Hitler ao Poder e procede a uma violenta crítica, já nessa altura (1964) à forma como começaram a ocupar altos cargos na República Federal da Alemanha, logo após a sua criação (1949), inclusive lugares de ministro, pessoas altamente comprometidas com o regime nazi. É um dos trechos mais interessantes, e acessíveis, deste livro obviamente complexo.

Curiosa a definição de canalha. Transcrevo da página 75: «Je proposerai donc l'expression neutre "canaille" (Gesindel). Il existe des hommes qui sont des canailles, en ce sens qu'ils n'ont ni l'autorité qui vient de l'esprit et de la raison, ni l'aptitude à répondre à la raison ou à l'esprit s'ils se manifestent sous forme de conseils et de mises en garde. Nous rencontrons ici de nouveau le "sindrome Buttermelcher": il est extrêmement difficile de comprendre que l'élite d'une société puisse être composé de canailles. Mais elle se compose réellement de canailles, nous devons en être bien conscients.»

A propósito de Hitler: «Hitler savait donc exactement ce qu'il faisait. Il possédait les grandes lignes d'une vision du monde. Il devait défendre des thèses comme orateur, et ces théses étaient étayées par un matériau qu'il se procurait par ses lectures, afin de réfuter son adversaire à l'occasion d'un débat.
[...] Ce que j'ai dit, dans les cours précédents, sur la curieuse division, chez Hitler, entre les aptitudes pragmatiques impérieuses, qui, selon lui, ne sont pas méprisables, et le caractère méprisable de l'homme dépourvu de raison se confirme ici tout seul. C'était un homme sans esprit ni raison, et il ne s'est jamais appuyé sur aucun ouvrage important de l'histoire de l'humanité en s'y confrontant vraiment pour son propre développement. Il possédait exactement le même niveau que le doctrinaire libéral fondamentaliste qui soutient des thèses et cherche ensuite des arguments en faveur ou en défaveur de ces thèses, faisant ainsi un mauvais usage de l'histoire universelle et de ses productions littéraires, en les utilisant à des fins subjectives. C'est peut-être le document le plus pertinent sur Hitler, fourni par lui-même et, pour autant que je sache, auquel personne n'a prêté attention. De même que, de manière générale, Mein Kampf de Hitler n'est pas un document si méprisable que cela, parce que Hitler était beaucoup plus intelligent que la plupart de ses interprètes - et, naturellement aussi, beaucoup plus intelligent que Schramm, qui se trouve désarmé devanr ces choses là.» (pp. 136-7)

Sobre a Igreja Protestante: «Nous devons plutôt établir la problématique générale de la décadence petite-bourgeoise, y compris dans l'Église. Cette situation de décadence, qui remonte avant Hitler et le nazisme, n'a pas changé fondamentalement depuis Hitler. Je vais vous présenter certains documents importants du Kirchentag protestant de 1960. »(p. 178) Voegelin explica depois que o sínodo protestante, baseando-se no Antigo e no Novo Testamento, se recusou a condenar as agressões de que os judeus foram alvo na época.

O autor inicia a Lição 7 com uma observação sobre o curso: «Permettez-moi de vous retracer brièvement le plan de ce cours. Il se divise en deux parties. Premièrement l'étude de Hitler e des Allemands à partir de la question suivante: quel type d'Allemands et quelle attitude spirituelle spécifique ont amené Hitler au pouvoir? C'est la question de la petite bourgeoisie allemande, des philistins instruits, de la décadence intellectuelle des élites, etc. La seconde partie traite évidemment de la question de savoir quels sont les Allemands qui n'ont pas participé à l'entreprise nazie, qui ont saisi le problème grâce à des analyses très précises, et lesquels poursuivent cette analyse aujourd'hui. Et c'est au cours de cette seconde partie que, la dernière fois, j'ai dû prononcer plus tôt que prévu la leçon sur Max Weber, ou du moins une grande partie de celle-ci, en raison de mes obligations universitaires. J'ajoute tout de suite que le reste de l'étude sur Max Weber précédera une leçon sur Thomas Mann. Il y aura ensuite une leçon sur la première et la seconde réalité, en commençant par Rabelais et Cervantès, et en poursuivant par l'étude du traitement ultérieur de ce phénomène chez Musil et Doderer. Pour conclure, il y aura encore une leçon sur Goethe et Novalis, afin d'expliquer davantage la problématique intérieure à l'Allemagne. Malheureusement, cette partie plus réjouissante du cours, dans laquelle nous aurons affaire à des hommes et à des oeuvres d'un haut niveau spirituel, est encore à venir. Pour l'instant, il nous faut descendre dans l'abîme en poursuivant notre étude des Églises.» (pp. 191-2)

«Mais il existe encore bien d'autres différences notables entre les deux Églises, qui se manifestent dans le traitement des questions posées par le nazisme. Dans l'Église protestante, en conséquence du libre examen, il existe une libérté théologique, en ce sens que les protestants ne sont pas liés à une tradition de doctrines dogmatiques [...] Donc, du côté catholique, il y a niveau philosophique plus élevé. Et cela a des conséquences sur les formes sur laquelles les dignitaires cléricaux de l'Église protestante et ceux de l'Église catholique expriment leur opinion sur ces questions.» (pp. 192-3)

«Sans l'Église catholique, nous pouvons, par exemple, observer ce fait curieux: alors que dans l'Église protestante il y a eu toute une série de figures qui ont joué par la suite un rôle important et qui, sous la République de Weimar, ont allégrement voté pour Hitler (par exemple, le célèbre pasteur Niemöller), ce phénomêne ne se retrouve pas dans l'Églse catholique. Avant la prise du pouvoir par Hitler, nous possédons des documents condamnant fermement le nazisme en tant qu'idéologie incompatible avec l'attitude chrétienne. Il n'existe pas de  condmnations aussi radicales du côté protestant. [...] Immédiatement après la prise du pouvoir, en mars 1933, commence un grand retournement de veste politique de l'Église catholique, lorsqu'elle exprime son soutien à Hitler par la voix de son épiscopat, et lorsqu'elle exorte les chrétiens catholiques à se montrer des citoyens dociles, fidèles et obéissants à Hitler, et à se mettre à son entière disposition. Mais ce n'est là qu'une phase, marquée par la conclusion du Concordat.» (p. 193)

«Mais la docilité et la volontés soudaines de collaborer avec les nazis sont étroitement reliées aux pourparlers sur le Concordat. Or immédiatemengt après le Concordat, cette attitude, loin de se montrer payante, amena un sérieux revers, lorsque les nazis commencèrent une lutte systématique contre toutes les organizations catholiques,...[...] Durant la même période, il existait un mouvement qui reprenait le thème qui avait suscité le refus du nazisme avant 1932, à savoir l'existence persistante de l'idéologie représentée, en particulier, par Rosenberg et son Mythe du XXe siècle. Au sujet de cette idéologie, l'épiscopat a soutenu l'idée que le néo-paganisme - c'est ainsi qu'on appelait ce phénomène - et l'idéologie du régime ne s'identifiaient pas. Le régime a volontiers encouragé ce malentendu - s'il s'agit bien d'un malentendu - afin de détourner l'attention sur des personnages tels que Rosenberg, qui n'avaient prétendumment rien à voir avec le nazisme en tant que forme de gouvernement, et afin de les distinguer du régime hitlérien lui-même en tant que gouvernement du Reich allemand. Donc, sous prétexte que l'Église était contre le néo-paganisme mais n'avait aucune objection à formuler à l'endroit d'un régime autoritaire, l'affaire a encore duré un certain temps.» (pp. 194-5)

O autor refere a seguir a conduta do cardeal Faulhaber, arcebispo de Munique (que ainda hoje suscita discussão na Igreja Católica). Escreve Voegelin: «La conduite étrange du cardinal Faulhaber en 1933 et 1934, ses sermons d'Avent et les événements qui allaient les suivre, tout cela s'inscrit dans ce contexte de la question juive. Il suffira que je vous fasse un exposé des faits. Les sermons d'Avent de 1933 ont connu une certaine célébrité, à cause, notamment, de leur défense du caractére sacré de l'Ancien Testament. Mais Faulhaber est allé encore plus loin pour faire comprendre à ses auditeurs qu'en défendant l'Ancien Testament il ne défendait pas ses contemporains juifs.» (p. 198). [No sermão, que Voegelin transcreve, o cardeal faz expressa referência aos judeus antes da vinda de Cristo e depois da sua  morte, condenados a errar sobre a terra]. Este, e outros textos, deram lugar a uma falsificação histórica publicada em 1961, em Recklinghausen, Die katholische Kirche und die Rassenfrage (A Igreja Católica e a Questão Racial) pelo padre dominicano Yves-Marie Congar (elevado a cardeal em 1994), que pretendia que o sermão fosse uma condenação das perseguições aos judeus. A posição do cardeal não se presta a qualquer equívoco, como o demonstra a seguir Voegelin nas subsequentes tomadas de posição por Faulhaber.

«Il était embarrassant pour le clergé catholique, de même pour le clergé protestant, du type Niemöller¨, que Jésus soit un Juif.» (p. 199)

Carta pastoral de Mgr Gröber, arcebispo de Friburgo (considerado hoje um opositor do nazismo) em 1939: «Même avec la meilleure volonté du monde, le Christ ne pouvait pas être transformé en Aryen; mais le Fils de Dieu était fondamentalement différent des Juifs de son époque, au point que ceux-ci l'avaient haï, avaient demandé sa crucifixion et que "leur haine meurtrière s'était poursuivie dans les siècles ultérieurs".» (p. 200)

Também as Igrejas católica e  protestante, que mantinham os registos de nascimento antes da introdução do registo nacional do Estado, não se recusaram a cooperar com o regime a fim de determinar a origem judaica dos cidadãos. (p. 200)

Aquando da "Noite de Cristal", o deão Bernhard Lichtenberg, prior da catedral de Santa Edvige, de Berlim, protestou: «Ce qui s'est passé hier, nous le savons; ce qui se passera demain, nous ne le savons pas; mais ce qui se passe aujurd'hui, nous en somme témoins; tout près d'ici, la synagogue (c'était donc juste en face de l'église) est en flammes, et c'est aussi l'une des maisons de Dieu.» (p. 201). Lichtenberg foi preso em 1941 e depois transferido para o campo de comcentraçao de Dachau, onde morreu em 1943. Foi beatificado em 1996.

«En Juin 1936, Mgr Berning, évêque d'Osnabrück, membre du Conseil d'État prussien (nommé par Göring), visita des camps de concentration dans sa diocèse, et selon ce que raporta la Kölnische Volkszeitung, en loua les installatins. [...] Et l'on prétendit qu'après avoir conversé avec les gardiens du camp, après avoir fait l'éloge de leur travail, l'évêque termina en lançant trois fois "Sieg Heil!" en honneur du Führer et de la patrie.» (p. 203)

É claro que houve resistência de protestantes, e especialmente de católicos, contra a degenerescência nazi. Voegelin fornece exemplos. É o caso do padre Alfred Delp, que esteve implicado no atentado de 20 de Julho de 1944, organizado pela resistência militar, embora não participasse pessoalmente na conspiração. Foi enforcado em 2 de Fevereiro de 1945, por alta traição. O autor transcreve muitos dos textos escritos por Delp contra a desumanização operada pelo nazismo.

No início da 8ª Lição, escreve o autor: «Dans la dernière leçon j'ai commencé la discussion du probléme du corpus mysticum, parce qu'il est au fondement de l'attitude curieuse du clergé et des théologiens, et que, pour cette raison, il mérite donc d'être clarifié. Je me suis d'abord référé au passage dans lequel saint Thomas dit que le Christ est la tête de tous les hommes depuis le commencement du monde jusqu'à sa fin. Et cette communauté de toute les hommes sous Christ est l'ecclesia. De cette idée globale de l'Église il faut donc distinguer l'idée des Églises en tant qu'institutions sociales dans des situations historiques données.» (p. 215)

Entrando no campo do Direito, Voegelin elabora sobre "Le Rechtsstaat en tant que concept spécifiquement allemand", "Le conflit entre système hiérarchique de normes juridiques et séparation des pouvoirs, illustré par la loi fondamentale (Grundgesetz) allemande", "Le positivisme juridique, le droit créé par le juge et le régime autoritaire", "L'arrière-plan historique des systèmes juridiques clos", "|Droit positive| et |Droit naturel|: le primat de la substance morale de la société" e "La question de la moralité dans les procès pour crime de guerre en Allemagne". Impossível desenvolver aqui a matéria.

Um extracto: «À Ulm, les juges et les jurés ont décidé que les véritables auteurs (une fois encore, il s'agissait de meurtres en masse) étaient Hitler, Himmler et Heydrich), et que les accusé qui avaient exécuté leurs ordres ne pouvaient être condamnés pour complicité. Par la suite, toutes le autres cours ont repris cette argumentation, et, depuis, les verdicts de culpabilité dans les procès des Einsatzgruppen parlent toujours de comdamnation pour "complicité d'assassinat."» (p. 250)

Entrando na Segunda Parte da obra, Voegelin aborda a primeira e a segunda realidade durante os períodos de crise antiga, pós-medieval e moderna. «Les concepts de première et seconde réalités, que j'ai souvent employés, et l'identification de la seconde réalité à l'ideologie ont été eleborés par Robert Musil dans les analyses que contient son roman - qui, en réalité, n'en est pas un, mais possède en grande partie toutes les caractéristiques d'un essai - intitulé L'Homme sans qualités (à quoi correspondent des qualités sans homme). Ces concepts de Musil ont été repris, développés et approfondis par Doderer, en particulier dans ses grands romans politiques, Die Dämonen ("Les Démons"), et Die Merowinger oder Die totale Familie ("Les Mérovingiens ou la Famille totale"). (p. 259). O fenómeno chamado "segunda realidade" pelos críticos do nosso tempo não é um simples fenómeno alemão, é muito mais antigo e mais geral, ainda que seja neste momento preciso que concentrou as atenções. Simplificando, a segunda realidade, a da imaginação, substitui-se à primeira realidade, a da experiência. O autor cita a Utopia, de Thomas More e Gargantua e Pantagruel, de Rabelais, e, de forma muita desenvolvida, a segunda realidade de Dom Quixote, como divertissement, um trecho notável. E aborda ainda o Paradoxo de Russell e a decisão in dubio pro reo.

«Doderer, dans Les Démons, remonte à la fin du Moyen Âge pour démontrer l'analogie avec le déclin moderne de la civilisation. La croyance aux sorcières, que l'on impute souvent au Moyen Âge, est un phenomène du Moyen Âge tardif et, surtout, de la modernité. Il a fallu attendre 1434-1445 et les années quatre-vingt du XVe siècle pour voir déferler la première vague de croyance aux sorcières, puis il y en a eu de nouveau aux XVIe et XVIIe siècles; on en a observé encore quelques cas isolés jusqu'au XIXe siècle. Il existe une continuité entre la seconde réalité de la croyance aux sorcières et la seconde réalité du national-socialisme. C'est cela que Doderer analyse. Dans l'article "Witchcraft" ("Sorcellerie") de l'Encyclopedia britannica, on peut lire qu'au sommet du Moyen Âge il n'y avait pas de croyance aux sorciéres. Dans une société chrétienne, on croit en Dieu et non aux sorcières. Celui qui croit aux sorcières est un hérétique. La croyance aux sorciéres n'a été rendue possible que par le développement d'une vaste démonologie.» (p. 277)

«Le roman Les Mérovingiens s'achève par la discussion entre le chroniquer du roman, le Dr. Döblinger, et un lecteur, M. Aldershot. Pour justifier la fin de l'histoire, c'est-à-dire la déposition de Childéric III suivie de sa castration, le Dr. Döblinger cite Heidegger, à quuoi M. Aldershot rétorque que sont là des "stupidités monstrueuses", et le Dr. Döblinger l'approuve: "Quoi d'autre, sinon des stupidités? Tout cela est absurde." Cela veut dire que le langage de la seconde réalité doit être castré, il doit être atteint dans sa virilité, il faut l'eradiquer. L'exposé du problème dans le roman débouche sur le burlesque. Doderer soutient sans cesse cette position: il ne faut pas engager de discussion avec la stupidité (Blödsinn). Si l'on est confronté à une société corrompue, il n'y a rien d'autre à faire que la boycotter, refuser de s'y impliquer - ou la représenter adéquatement sous forme littéraire, c'est-à-dire transformer la stupidité en burlesque (ce qui n'est pas la même chose qu'une satire). Le problème était insoluble pour Karl Kraus. La réalité du IIIe Reich était, selon lui, tellement corrompue qu'il ne pouvait plus en faire la caricature sous forme satirique. C'est la raison pour laquelle la Troisième Nuit de Walpurgis s'ouvre par la phrase: "À propos d'Hitler, rien ne me vient à l'esprit (Mir fällt zu Hitler nichts ein.)" (pp. 278-9)

A 11ª Lição é dedicada á grandeza de Max Weber.

«Dans l'histoire intelectuelle allemande de l'esprit, une rupture de style s'est produite dans les années trente du XIXe siècle. Celle-ci a été précédée, en philosophie, par l'époque de l'idéalisme et, en littérature, par celle du classicisme et du romantisme, qui s'est achevée à la mort de Hegel (1831) et de Goethe (1832).» (p. 281)

«En effet, c'est pendant cette période sans traits reconnaissables que le monde allemand a donné naissance à quatre figures de stature mondiale: Karl Marx (1818-1883), Friedrich Nietzsche (1844-1900), Sigmund Freud (1856-1939) et Max Weber (1864-1920). Quatre figures de stature mondiale - ce n'est pas rien." (p. 282)

O autor ocupa-se depois de Max Weber, o célebre autor de A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, em cuja cátedra leccionou em Munique, abordando especialmente "A Não-Experiência da Transcendência Conduzindo à Desumanização", "A Tensão não Resolvida de Weber em Relação à Transcendência" e "Weber, Místico Intelectual". Trechos demasiado extensos que não cabe aqui analisar.

A encerrar o livro, em Apêndice, "A Universidade e a Esfera Pública: Sobre a Pneumopatologia da Sociedade Alemã". Nesta parte final, Voegelin aborda "História Descritiva versus História Crítica", "A Desorientação Espiritual da Alemanha: Três Estudos de Casos (Heidegger, Niemöller, Schramm)", "A Desorientação Espiritual da Alemanha: A Resposta Literária (Musil, Doderer, Thomas Mann)", "Uma Teoria Narcisista da Cultura (Bildung)" e "A Universidade Alemã e a Perda da Comunidade Espiritual".

Apesar do comprimento deste post, mais não pudemos do que salientar alguns temas e proceder à transcrição de algumas passagens.

Mas vale a pena, a terminar, reproduzir o texto do próprio Eric Voegelin na contra-capa:

«Tel est donc l'argument qu'on nous oppose: si Hitler avait été stupide ou criminel, étant donné que les gens ont massivement voté pour lui, cela aurait impliqué que, eux aussi, étaient stupides ou criminels. Or cela n'est pas possible. Donc Hitler n'était ni stupide ni criminel.

L'autre possibilité - mais c'est ce point qu'on refuse d'envisager - est qu'un très grande nombre d'Allemands, peut-être l'écrasante majorité, se sont en effet montrés particulièrement stupides et le sont encore aujourd'hui en grande partie sur le plan politique, et que nous nous trouvons ici dans une situation de corruption intelectuelle et morale, due à un certain nombre de facteurs qui ont porté le phénomène Hitler au pouvoir. Ce n'est pas seulement un problème allemand, c'est un problème international. Car, parmi les droits de l'homme ne figure pas le droit d'être stupide et si la plupart des gens sont dépourvus de convictions et se sentent irresponsables, l'indifférence politique s'apparente étroitement à la perversion éthique. C'est un manque de culpabilité culpable



2 comentários:

Zephyrus disse...

Obrigado por mais um excelente post. Votos de Boas Festas.

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

PARA ZEPHYRUS:

Agradeço a atenção e retribuo votos de Festas Felizes.