Está o primeiro-ministro (e o Governo) preocupado com o decréscimo da natalidade em Portugal, aliás como acontece com os líderes de outros países ocidentais. Não vislumbra essa gente, cujo horizonte, pretendendo ser de longo prazo, é de curtíssimas vistas, que o grande problema mundial é haver gente a mais, que morre de fome pelos quatro cantos do mundo, que é abatida em guerras de extermínio em vários países (quiçá para estabilizar o nível dos habitantes). Sabem todos, mas fingem ignorá-lo, que os recursos do planeta são limitados e que o problema actual consiste em diminuir o índice de natalidade como, por exemplo, a China já fez, e não em aumentá-lo.
Argumentar-se-á que a população do Terceiro Mundo aumenta enquanto a dos países Ocidentais diminui, enfraquecendo-os. A História encarregou-se de provar que a vontade de hegemonia de umas civilizações sobre outras é um combate inelutável. Toynbee explica isso em A Study of History.
Também carece de validade o problema da sustentabilidade da segurança social, uma vez que as reservas existentes são suficientes para o efeito, se não forem (ou não tivessem sido) desviadas para outras finalidades. E também é verdade que a diminuição das contribuições para o sistema será equilibrada, no futuro (não longínquo), por um menor número de pessoas a receber pensões.
Por outro lado, os avanços tecnológicos e a informatização acelerada da sociedade vieram dispensar a mão-de-obra de grande parte da população. Quanto mais indivíduos, certamente mais desempregados.
Poderiam também tecer-se considerações de natureza filosófica, mas o que se escreveu basta.
Assim, a promoção do aumento da natalidade é, de facto, uma iniciativa criminosa. Nem compreendo como há gente capaz de sustentar tal pretensão.
Subordinada a uma obscura agenda, surgiu agora a proposta de umas comissões ad hoc no sentido de penalizar progressivamente em sede de IRS os cidadãos sem filhos em relação aos detentores de numerosa prole.
Pela sua oportunidade, transcrevemos o post que, a propósito desta escabrosa ideia, João Gonçalves publicou hoje no seu blogue "Portugal dos Pequeninos":
Uma moral
Uma "comissão de reforma do IRS" e outra
da "natalidade" decidiram que apenas as famílias - com pais e mães que
dêem à luz preferencialmente com relativa assiduidade - merecem a plena
cidadania fiscal, ou seja, "deduções" progressivas consoante a vastidão
da prole. Os solteiros e os viúvos - não sei se as adopções por estes
seres esquisitos para o Estado contam - sofrem uma capitis diminutio
para que a fiscalidade possa contribuir, em glória, para o nascimento
de criancinhas. Para além de uma questão de direito, isto aparece como
uma questão moral. O Estado, afinal, tem uma moral para além das
tradicionais "funções" (agora devidamente apoucadas) que o justificam. O
Estado não aprecia os seus funcionários, os seus ex-funcionários, os
velhos, os solitários e os sozinhos (são coisas distintas) por força da
vida e das circunstâncias. Não. O Estado deseja "famílias numerosas" com
muitos meninas e meninos ranhosos que possam entrar nas colunas das
declarações do IRS. Se os portugueses não fodem, o Estado obriga-os a
foder com o elevado propósito procriativo que, depois, dá "desconto" nos
impostos. Outra "moral" estilo "a função faz o "órgão". Ou, mais
prosaicamente, o órgão tem uma função fiscal. Como dizia o
Chateaubriand, é um horror ter de envelhecer num mundo que não se
conhece. E que, cada vez mais, se despreza.
2 comentários:
O modelo económico e social em que vivemos é um entre muitos possíveis. Mas sem energia barata, este modelo é insustentável.
O modelo capitalista ocidental depende de um crescimento económico elevado e contínuo, e também depende do aumento da população. Ora o planeta não suportará tanta gente num futuro próximo por uma razão muito simples: o petróleo barato acabou, e sem energia barata, o mundo só poderá crescer umas décimas por ano. Mas o «modelo» que vigora agora em boa parte do planeta, é insustentável sem crescimento económico elevado e sem aumento da população no Ocidente.
Uma vez que os recursos naturais são insuficientes, esperam-nos assim décadas conturbadas, até que uma Nova Ordem Global imponha um novo equilíbrio que substitua o modelo dependente do petróleo e do gás natural. Só uma revolução tecnólogica que não se vislumbra poderia inverter esta situação. É possível que as elites se protejam e um neo-feudalismo poderá emergir, e se calhar já está em marcha!
Absolutamente notável!! Não posso estar mais de acordo com as razões expostas. Chega de conversa mole sobre um falso problema de natalidade. Cientistas afirmaram recentemente, que por volta do ano 2050, será preciso um planeta do tamanho da Terra para alimentar a população desta.
Quanto ao comentário do João Gonçalves é verdadeiramente arrasador e é mesmo do que se trata. Quem serão os membros da dita comissão? Convinha saber quem são e fazer a respectiva triagem para vermos quais são as suas apetências em matéria de criancinhas!!!
Parabéns
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