quarta-feira, 23 de novembro de 2011

BERNARD-HENRI LÉVY, UM FILÓSOFO DA IGNOMÍNIA


Bernard-Henri Lévy (BHL), que se tornou conhecido por fazer parte do grupo chamado dos "nouveaux philosophes" e que tem publicada uma vasta obra, é uma personagem presente em todas as guerras, sem ter feito nenhuma.

Vem isto a propósito do seu último livro, acabado de editar, La guerre sans l'aimer, sobre a revolução na Líbia. Esteve BHL em Benghazi desde o começo da revolta líbia, servindo de elo de ligação entre os insurrectos e Sarkozy, acabando até por levar uma delegação dos mesmos ao Eliseu. Exaltou desde o início a magnanimidade da revolução líbia e, supõe ele, tornou-se num dos principais responsáveis pelo derrube do regime de Qaddafi. Imagina já que a posteridade o colocará ao lado de outros escritores que estiveram no campo de batalha, como Malraux, T.E. Lawrence ou Byron. Puro engano, apesar da eficiência com que trabalha a sua imagem.

Uma crítica ao livro e ao seu autor foi publicada por Pierre Assouline no seu blogue "La République des livres", com o título "Lévy d'Arabie". Trata-se de uma análise lúcida e implacável sobre o homem e a obra, naquele que é um dos mais conceituados blogues literários franceses. É um post que explica tudo. Quero acrescentar que a crítica de Assouline à infamante carreira de Lévy não poderá ser em caso algum classificada de anti-semita, já que ambos são judeus.

Na verdade, se Qaddafi era um líder infrequentável, apesar de ter sido acarinhado por todos os grandes deste mundo (petróleo oblige), os homens que derrubaram o anacrónico e criminoso regime líbio não parecem ser melhores que o ditador assassinado. O actual presidente do Conselho Nacional de Transição da Líbia, Mustafa Abdul Jalil, foi ministro da Justiça de Qaddafi até ao estalar da revolução. Alguns dos principais novos dirigentes líbios eram até há pouco procurados pela justiça internacional, acusados de pertencerem à Al-Qaïda. E o novo poder instalado em Tripoli proclamou que a sharia seria a base da futura Constituição do país.


A imprensa internacional tem sido mais parca em notícias sobre a Líbia nas últimas semanas, mas não duvidamos das intenções do governo líbio. Comprovam-nas, o assassinato de Qaddafi, um criminoso, é certo, mas que deveria ter sido julgado por um tribunal competente. Ou o corte de três dedos ao seu filho Saif Al-Islam, os dedos com que apontava os revoltosos como ratos, que é reclamado pelo Tribunal Penal Internacional mas que o novo poder líbio insiste em julgar, podendo ser-lhe aplicada a pena de morte. Isto para mencionar apenas dois casos notáveis, esquecendo os ajustes de contas de parte da população mas que a comunicação social não divulga, até porque ignora muitas das coisas que agora se desenrolam no terreno.

A tomada do poder pelos islamistas na Líbia, a vitória do partido islamista nas eleições da  Tunísia, a agitação no Egipto, a revolta na Síria, e o mais que se verá, são sinais bastantes para uma preocupação internacional sobre o acesso dos países árabes à democracia, apesar da proclamação dos novos dirigentes relativamente à defesa dos direitos humanos.

Não cultivo ilusões quanto ao futuro da Líbia. E os países que se empenharam no ataque da NATO ao país, acção militar que por decisão do Conselho de Segurança deveria restringir-se à protecção dos cidadãos de Benghazi ameaçados por Qaddafi, arrepender-se-ão mais depressa do que julgam. E BHL terá de recorrer à mais rebuscada imaginação para justificar a sua interferência num processo em que se distinguiu mais por vaidade do que por convicção. Aliás, como sempre.

Adenda: Também Jean Daniel, no Nouvel Observateur desta semana (Nº 2454) se refere ao caso BHL no artigo "Plus fort que Malraux?".

1 comentário:

Anónimo disse...

Esse filósofo é um filho da puta