quinta-feira, 17 de novembro de 2011

EMBAIXADAS E CULTURA


O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, anunciou ontem o encerramento (provisório) (?) de 7 embaixadas e de vários serviços consulares e representações bilaterais e multilaterais, devido à contenção de despesas. As embaixadas que vão fechar são as seguintes: Malta, Andorra, Estónia, Letónia, Lituânia, Quénia e Bósnia. É sempre desagradável encerrar representações diplomáticas, mas compreende-se que a situação actual não permita a manutenção de serviços em países com os quais as nossas relações são escassas. Aliás, foram já encerrados por governos anteriores alguns postos abertos, com larga generosidade, a seguir à Revolução de 1974. Ter uma embaixada na capital de um país tem um significado simbólico mas há circunstâncias em que o serviço desenvolvido não justifica os gastos efectuados.

Coisa diferente é o encerramento de representações bilaterais e multilaterais, nomeadamente a extinção da representação na UNESCO, que passará a ser assegurada pela embaixada em Paris. A missão junto da UNESCO, para lá do seu simbolismo, tem características próprias que justificam a sua autonomia. Sendo um organismo dedicado às relações culturais, científicas e educacionais a nível internacional, a UNESCO desempenha um papel crucial na vida cultural dos povos, o que implicaria a existência de um embaixador próprio.

Lamenta-se que o Governo assim não o tenha entendido, mas não se estranha. Este executivo começou por baixar de categoria a pasta da Cultura, despromovendo-a de ministério a secretaria de Estado. Não se poupa nada com a despromoção do titular (talvez alguns euros no vencimento). O que não se justificava era a existência simultânea de um ministro e de um secretário de Estado. Parece que Rajoy, se ganhar as eleições em Espanha, adoptará o mesmo figurino. Também não fico admirado. Existe em certas áreas ideológicas um desejo ostensivo de menosprezar a Cultura. É claro que não é um departamento do Estado que faz a Cultura de um país, mas ajuda. E, neste caso, o simbolismo é altamente significativo. Mas talvez a Escola de Chicago e o seu mentor, Milton Friedman, que tanto parecem inspirar Vítor Gaspar, segundo o mesmo confessa, considerem a Cultura um acessório descartável.

Quando num governo se atribui ao mesmo titular a Economia, o Trabalho, as Obras Públicas, os Transportes, as Comunicações e já nem sei que mais, então nada mais é preciso acrescentar.

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