Como escrevi já mais do que uma vez, a crise internacional avoluma-se. Não é só a Grécia a braços com a dívida e a especulação dos mercados. São os países que, par lá da Islândia, já recorreram ao resgate: a Irlanda e Portugal. E os outros (europeus) que estão na mira de intervenção: Espanha, Itália, Bélgica e mesma a França. Há uma União Europeia que, por mal construída, e pela cupidez de alguns, provoca a desgraça de muitos e que por isso tende a implodir mais rapidamente do que se pensa. Os países do leste europeu (dentro e fora da União) em piores condições que os ocidentais, tentam a custo sobreviver.
O mundo árabe permanece numa situação inquietante: em Marrocos, multidões contestam o projecto de nova constituição entregue ao rei; na Argélia, mantém-se elevada tensão que a comunicação social não tem relatado; na Tunísia, as eleições previstas para 24 de Julho vão ser adiadas; na Líbia, Qaddafi não fica nem sai e a NATO, excedendo o mandato das Nações Unidas, já bombardeia casas de habitação; o Egipto continua (até quando) governado por uma Junta Militar; na Síria, que se supunha passasse relativamente ao lado de medidas extremas, há mais de 1.500 mortos, sem se vislumbrar saída para a confrontação; os países do Golfo tentam um delicado equilíbrio, à excepção do Iémen, onde a confusão é total; o conflito israelo-palestiniano mantém-se há mais de meio século; o Líbano, entalado entre Israel e a Síria, permanece expectante; do Iraque, nem vale a pena falar.
Da Ásia, pouco mencionada na nossa imprensa, nada corre pelo melhor. Aliás, no Paquistão corre tudo pelo pior. O Irão aguarda qualquer mudança, mas ignora qual. O Afeganistão voltou à era taliban, apesar dos biliões que foram gastos e dos mortos em combate ou "vítimas colaterais". A Índia debate-se com sérios problemas e continua miserável como no tempo da ocupação britânica e a própria China não manterá por muitos anos o milagre económica de um regime e dois sistemas.
Os Estados Unidos a braços com grave crise económica e elevado desemprego não acharam com Obama uma resolução para os seus problemas, largamente herdados dos dois sinistros mandatos de George W. Bush. E os países da América Latina (Brasil obviamente incluído) a par dos êxitos que registam, vão averbando progressivamente incontáveis fracassos.
Na África Negra, da Nigéria à Costa do Marfim, do Zimbabué à Tanzânia ou à Somália (teoricamente árabe), o panorama é o que nos tem sido dado observar.
Sem a preocupação de um diagnóstico exaustivo, temos é a preocupação da situação presente, e mais do que esta, a da situação futura. Esperam-nos tempos sombrios, não por causa das medidas das "troikas", que por agora só afligem alguns países, mas porque não se pressente vontade, nem inteligência, nem seriedade, para atacar as causas susceptíveis de provocar a eclosão de uma tragédia planetária. Temos ficado por atacar, quando muito, apenas as consequências.
Não sou um pessimista, apenas um realista, e por isso acabo com uma nota de alegria. Lembro a manifestação entusiástica que hoje envolveu Cristiano Ronaldo em Istambul, na inauguração de um supermercado (!). C.R., mais ovacionado que a mais famosa estrela do espectáculo. Não é para admirar: talvez ele seja ainda um futebolista.Mas, mais do que isso, ele é, hoje, a personificação do espectáculo.
Diz mesmo a notícia que o internacional português foi "assediado por centenas de jornalistas". Vivemos também hoje um tempo de "assédios", certamente por causa da crise.
domingo, 19 de junho de 2011
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