segunda-feira, 13 de junho de 2011

AS REVOLUÇÕES ÁRABES



O desassossego no mundo árabe não conhece tréguas. Desde a eclosão da contestação na Tunísia, que levou à queda do regime de Ben Ali, os protestos e revoltas subsequentes não mais deixaram de agitar o mundo árabe.

Os incidentes mais graves do momento registam-se na Síria e na Líbia. Dois casos significativamente diferentes. A rebelião contra Qaddafi, que começou em Fevereiro, prossegue sem, contudo, e apesar do apoio ocidental, conseguir derrubar o ditador. O velho coronel conta ainda com muitos apoios e a estrutura da sociedade líbia, tribalmente complexa, foi subavaliada pelos países que, para proteger Benghazi da ira de Qaddafi, embarcaram numa aventura cuja desfecho permanece uma incógnita.

Na Síria, a revolta "improvável" contra o jovem Bachar Al-Assad assume contornos trágicos. Com uma pequena contestação iniciada em Deera, o movimento anti-regime alastrou a todo o país. A promessa de reformas de Assad não conseguiu acalmar os ânimos e a repressão sobre os manifestantes produziu novos contestatários. Os mortos são já mais de 1.000 e os feridos incontáveis. Milhares de pessoas do norte do país fogem para a vizinha Turquia. Muitos militares desertam. Nada faria prever semelhante hecatombe e receia-se que o próprio presidente esteja refém da "velha guarda" do regime e também da dureza de seu irmão Maher Al-Assad, comandante da Guarda Republicana e da 4ª Divisão Armada, a força de elite do exército. Muitos dos manifestantes estão hoje convenientemente armados (por quem???) e isso até já justificou o bombardeamento das populações por helicópteros.

Em Marrocos, depois das diversas e violentas manifestações e do atentado de Marrakech, foi entregue ao rei Mohammed VI um projecto de revisão constitucional. Na Argélia, também após violentos confrontos, Bouteflika tenta um compromisso com a criação de um novo partido. Na Tunísia, enquanto se aguardam eleições legislativas, um ex-ministro do Interior já do novo regime, teve há semanas a estupidez de afirmar que se preparava um golpe milita para o caso dos islamistas ganharem as eleições. O resultado saldou-se por novos confrontos, e proclamação do recolher obrigatório durante semanas. Nem cito o nome do idiota responsável por essas declarações. No Egipto, a Junta Militar vai atrasando o "processo de democratização". No Iémen, o presidente Saleh, ferido pelo bombardeamento do seu próprio palácio, está em tratamento na Arábia Saudita, onde a contestação , por ora, cessou, tal como nos restantes países do Golfo, Bahrein incluído, onde as tropas sauditas foram chamadas a acudir à monarquia face à contestação xiita.

Não falando da Palestina, um processo eternamente adiado, criado especialmente pela Grã-Bretanha, e que tem sido responsável por uma parte considerável da conflitualidade do Médio Oriente, nem do Líbano, que continua em equilíbrio instável, e posto de lado o caso do Iraque, uma das aventuras mais sinistras das últimas décadas, a Líbia e a Síria constituem os grandes problemas do momento.

Na Líbia, onde as forças da NATO já ultrapassaram largamente o mandato do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o desfecho a curto prazo é, como referimos acima, imprevisível. Uma solução seria a partição do país em Tripolitânia e Cirenaica, coisa que não convém às petrolíferas multinacionais. Também a manutenção de Qaddafi na Tripolitânia e a entrega da Cirenaica ao Conselho Provisório da Líbia, já hoje reconhecido por vários países ocidentais, não se afigura viável. Ao estado a que as coisas chegaram, a permanência de Qaddafi revela-se insustentável, quer para o Ocidente, quer mesmo para os países árabes que depuseram ou estão em vias de depor os seus ditadores.

Na Síria, a situação é muito mais preocupante. Opondo-se a Rússia, a China e outros países a uma intervenção armada, sabe-se também que a queda do regime alauita de Assad, dinastia minoritária que governa há décadas o país, poderá provocar o caos no país. E abstraindo dos elementos que estão particularmente interessados nesse próprio caos, o resultado seria catastrófico para a população, composta de diversas religiões e etnias, a quem tem sido garantido um relativo equilíbrio e segurança, tal como o era no Iraque no tempo de Saddam Hussein.

Na evolução do processo sírio permanece uma incógnita relevante: a posição de Israel. Interessará a Israel uma dissolução da Síria ou não. Existem teses contraditórias, mas nunca se sabe que raciocínios habitam as mentes perversas dos dirigentes do Estado Judaico.

Neste jogo de dominó em que as pedras são pessoas, perante a grande crise que se avizinha nos Estados Unidos, um país que entrou já na sua fase de decadência, face a uma União Europeia que se vai desmoronando dia após dia, com uma Rússia enfraquecida, uma China que conhecerá a breve trechos graves problemas, uma península Industânica em conflito entre hindus e muçulmanos, a instabilidade na América Latina e as permanentes guerrilhas na África Negra, diante de tudo isto, que é terrível, e espantoso, e único, só nos resta esperar o pior.

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