sábado, 1 de fevereiro de 2020

O REINO UNIDO E A EUROPA




Depois de um atribulado processo, o Reino Unido deixou oficialmente, a partir de hoje, de fazer parte da União Europeia. Haverá um período de transição, cujo desenvolvimento é imprevisível, e, em seguida, uma separação mais ou menos absoluta, consoante a conclusão das negociações.

A finalização do Brexit terá certamente consequências na estrutura política do Reino Unido. A mais óbvia será a próxima independência da Escócia. Em 2014, teve lugar um referendo sobre a questão, vencendo os partidários da manutenção no Reino Unido por uma ligeira percentagem. Sendo os escoceses maioritariamente favoráveis à permanência na União Europeia, a primeira-ministra da Escócia avançou já com a ideia de um novo referendo que, para ser legal, deverá ser aprovado pelo governo de Londres. Boris Johnson manifestou-se contrário e sugeriu um prazo de duas gerações. Creio que serão dois anos e não duas gerações, dependendo da pressão que a Escócia exercer nesse sentido. Não penso que a Escócia pretenda mudar o regime, isto é, continuará a aceitar como chefe do Estado o monarca britânico, mas desejará ter um governo autónomo, uma vez que as competências do governo e do parlamento de Edimburgo são limitadas. Todavia, pode prevalecer a tentação republicana. O futuro o dirá.

A Irlanda do Norte (o Ulster) é outro problema, já que vai ficar numa situação híbrida face à União Europeia, decorrente das suas fronteiras serem ou marítimas ou terrestres junto ao Eire. Esbatidas que são as diferenças entre católicos e protestantes, afigura-se provável que o Ulster venha a ser integrado na República da Irlanda.

Quanto ao País de Gales, parece não surgirem por agora problemas sobre uma desejada autonomia.

Perfila-se também no horizonte, mas nada tendo a ver com o Brexit, uma outra alteração na monarquia britânica. Na sequência do desmembramento do Império Britânico, foi criada a figura jurídica de Domínio, que foi então aplicada ao Canadá, à Austrália, à Índia e à África do Sul. Os dois últimos territórios evoluíram rapidamente para repúblicas, ainda que no seio da Commonwealth. O Canadá e a Austrália, embora com governo próprio, dotado de plenos poderes, mantiveram o regime monárquico, sendo o soberano britânico representado por um governador-geral. Perspectiva-se, porém, a ideia de que, por morte da rainha Isabel II, os dois países, através dos instrumentos jurídicos adequados, proclamarão a república, não obstando a que permaneçam na Commonwealth.

Assim sendo, a Monarquia Britânica ficará praticamente reduzida à Inglaterra e País de Gales. Que novo nome adoptará, concretizando-se todas estas modificações? Reino Unido de Inglaterra e Gales não faz sentido porque Gales é um principado. Então, talvez só, como antigamente, e como sempre muita gente disse e continua a dizer: Inglaterra.


4 comentários:

Anónimo disse...

"Esbatidas que são as diferenças entre católicos e protestantes,...."
Desculpe, estamos a do mesmo sítio a Norte da ilha da Irlanda, no planeta Terra do Sistema Solar da Galáxia da Via Láctea?

Anónimo disse...

Excelente análize. Simples, objectiva e focando o que realmente teve, tem e terá significado.

Zephyrus disse...

Os mais jovens são a favor da UE e uma das causas para a vitória do «Não» foi a elevadíssima abstenção dos jovens. Acredito que dentro de 10 anos poderá ocorrer uma reviravolta mas tudo dependerá da evolução da economia na zona euro e da evolução política dos EUA. Os tempos são altamente imprevisíveis e o grande teste à UE virá em 2022 com as eleições em França. Um amigo próximo há 4 anos alertou-me para a possibilidade de Le Pen aceitar a UE e o euro para assim vencer as eleições, caso ocorresse o Brexit, e tal já está a suceder. E que a consequência provável de uma vitória de Le Pen seria não o fim da UE, mas sim a evolução para uma UE de fronteiras totalmente fechadas, conservadora nos costumes, altamente proteccionista e com uma nova postura geopolítica em relação a África...

Anónimo disse...

Se a Le Pen ganhar,e animar possiveis vitórias dos partidos nacionalistas/semi-fascistas (semi,por enquanto...) do Leste e Centro europeu, teremos o fim da União como a conhecemos,e a Europa transformar-se-á num espaço pouco apetecível,bem resumido pelo Zephirus. Com uma América trumpista, chega finalmente o "Declínio do Ocidente". Paz à sua alma.