O investigador e jornalista francês Frédéric Martel
acabou de publicar, simultaneamente em oito línguas e vinte países, um livro
sobre a HOMOSSEXUALIDADE no Vaticano, intitulado no original francês Sodoma, e na versão em língua portuguesa
Os Armários do Vaticano. Por mera
coincidência, ou talvez não, o livro, grosso de cerca de 700 páginas repletas
de texto, foi lançado, poderíamos dizer urbi
et orbi, no mesmo dia em que o papa Francisco inaugurou no Vaticano uma
Cimeira das Conferências Episcopais de todos os países, sobre a questão dos
abusos sexuais na Igreja Católica.
Segundo o autor, o livro baseia-se num grande número de
fontes, a investigação prolongou-se por mais de quatro anos, e foram inquiridas
mais de 1500 pessoas, no Vaticano e em trinta países: 41 cardeais, 52 bispos e
monsenhores, 45 núncios apostólicos e embaixadores estrangeiros e mais de
duzentos padres e seminaristas e ainda guardas suíços. Martel teve, para este
trabalho, uma equipa de 80 investigadores, correspondentes, conselheiros, intermediários
e tradutores, e explica a forma como foram realizadas e registadas as
entrevistas e indica a natureza da informação complementar.
A fim de não engrossar ainda mais a espessura do livro, o
autor organizou um códex de 300 páginas, incluindo as fontes, as notas, a
equipa de investigação, e três capítulos inéditos demasiado longos para
figurarem no livro. O códex está disponível online
em www.sodoma.fr (a que não consegui aceder); e
nele serão publicadas actualizações.
Encontra-se a obra dividida em quatro partes,
correspondentes aos pontificados de quatro papas: 1) Francisco; 2) Paulo; 3)
João Paulo; 4) Bento. Lamenta-se as omissões do papa João XXIII, do qual
haveria algo a dizer-se, e do papa João Paulo I, que apesar de ter morrido
supostamente assassinado (veja-se o livro de David Yallop, Em Nome de Deus), ainda reinou 33 dias.
É indiscutível que o livro de Frédéric Martel constitui
um extraordinário furo editorial, na medida em que os “escândalos sexuais” na
Igreja Católica vêm desde há anos alimentando a imprensa, confundindo abuso
sexual de crianças, relações com “menores” que já não são crianças, relações
consentidas entre adultos, prostituição masculina, etc., notícias que só o são
devido à facilidade de circulação da informação nos nossos dias, graças às
novas tecnologias, e também devido a uma agenda política, pseudo-progressista,
que se revela, na sua essência, mais perigosa do que todos os totalitarismos.
As revelações que agora nos confidencia Frédéric Martel
não constituem verdadeiramente uma novidade para as pessoas mais bem
informadas, que desde sempre souberam que na Igreja Católica havia uma
prevalência de homossexuais (praticantes ou não), desde seminaristas a padres,
bispos, cardeais e até papas. A novidade será talvez o detalhe com que Martel
nos descreve as situações e as personagens, e também a conexão que estabelece
entre a prática da homossexualidade e a sua eventual ligação com assuntos
políticos, financeiros, e mesmo militares.
Concluída a sua obra, e logo no início disso nos adverte,
a percentagem de homossexuais no Vaticano não será inferior a 80%, o que,
convenhamos, é elevado para os ministros de uma instituição que prega a
castidades e condena a homossexualidade, mas poderá perguntar-se, e voltaremos
ao assunto, se poderia ser de outra forma. A generalização homófila na Santa Sé
é tão abrangente que os clérigos criaram uma palavra-passe de reconhecimento: ser
ou não ser “da paróquia”, um delicioso eufemismo no seio da Igreja.
Afirmava alguém, há muitos anos, que a “saída profissional”
conveniente para os homossexuais consistia no ingresso no Ensino, nas Forças
Armadas ou na Igreja. Nunca me esqueci dessa frase. De facto, o convívio diário
numa comunidade só de homens constituiria o ideal para quem prefere a companhia
do mesmo sexo à do sexo oposto. É claro que a partir da criação das escolas
mistas o Ensino, muito propício a denúncias por abuso sexual (uma praga
política do século XXI), é agora um caminho a evitar. As Forças Armadas
perderam o seu encanto, e acabarão por perder a sua eficiência, desde que as
fileiras foram abertas aos dois sexos. E se ainda prevalece o elemento
masculino, com o fim do serviço militar obrigatório na maior parte dos países
(pelo menos no Ocidente) a mística castrense desfaleceu. Restou, assim, a Igreja
Católica. Escreve Frédéric Martel, avisadamente, que muitos rapazes, com
inclinações homófilas, viam na entrada para o seminário uma carreira com
futuro, onde poderiam encontrar companhias das suas preferências, deixando de
ter de responder sistematicamente aos pais e amigos que ainda não tinham
namorada nem noiva, nem pensavam casar tão cedo. E assim sossegavam também a inquietação
das famílias e livravam-se da troça dos camaradas. Por isso, a peregrina
questão de saber como resolver o problema das relações homossexuais do clero
nada tem a ver com o celibato obrigatório dos padres, porque a quebra da
castidade não se processa com o sexo oposto, mas, na generalidade dos casos,
com o mesmo sexo. São percentualmente despiciendos os casos de relações heterossexuais
do clero: há uns deslizes de abades das aldeias que vivem com uma prima ou uma
sobrinha, ou uma empregada, ou uns percalços de padres que frequentam prostitutas,
como o cardeal Jean Daniélou, académico, teólogo e bispo titular de Taormina (et pour cause), que morreu subitamente
em Paris em casa de uma meretriz, o que provocou um escândalo que a Igreja se
apressou a abafar.
Resumindo, eles vão para o seminário e seguem a carreira
eclesiástica porque são homossexuais. Não se tornam (salvo excepções)
homossexuais lá dentro.
Poderia recordar-se, aqui, a célebre pergunta que o
Doutor Salazar, quando foi ministro dos Negócios Estrangeiros (1936-1947)
acumulando com a presidência do Conselho de Ministros, fez ao então
secretário-geral do Ministério, o embaixador Teixeira de Sampayo, a propósito
do elevado número de homossexuais na Carreira Diplomática (nos outros países é
idêntico): «Eles são assim porque vieram para cá, ou vieram para cá por serem
assim?»
Uma das críticas recorrentes de Frédéric Martel à Igreja
é a sua hipocrisia em relação à homossexualidade. Ora as tendências homófilas e
as práticas homossexuais existem desde que o mundo é mundo. Encontramo-las nas
mais antigas civilizações, incluindo, no presente, os povos a que
impropriamente se chama “os primitivos actuais”. A percentagem de indivíduos
que praticam actos sexuais com outros do mesmo sexo é elevada. Alfred Kinsey,
no célebre estudo que desenvolveu nos Estados Unidos e que depois publicou, o
“Relatório Kinsey” (1948) estima que é superior a 10%. Estudos mais recentes
apontam uma percentagem maior e a ciência tem demonstrado que sendo os sexos
biológicos normalmente diferenciados (as situações de hermafroditismo são
raras), a nível mental o ser humano é largamente ambivalente, o que não significa
deixar de ter uma tendência preferencial pelo sexo oposto ou pelo mesmo sexo.
Assim, mediante as circunstâncias, uma percentagem bastante superior de homens,
muito mais de 50% (a experiência demonstra-o), é capaz de manter relações
homossexuais, ainda que esporádicas.
Coloca-se então a pergunta: porque razão não legaliza a
Igreja a homossexualidade no seu seio? Porque não pode. Poderia suprimir o
celibato dos padres, já que este só é obrigatório na Igreja Católica, no seu
rito latino. Os padres católicos de rito oriental podem casar-se. Mas tal não
resolveria a questão que se encontra sobre a mesa, porque a infracção à
castidade é, em geral, de natureza homossexual. E aí há uma linha vermelha na
Igreja Católica.
As religiões reveladas, isto é, as religiões do Livro,
leia-se, o Judaísmo, o Cristianismo e o Islão, são religiões dependentes de um
Livro Sagrado que contém os princípios fundamentais em que cada uma assenta.
Esses livros são muito antigos: para o Judaísmo, a Torah, uns milhares de anos.
Para o Cristianismo, a Bíblia (que, ainda por cima, inclui o Antigo
Testamento), dois mil anos. Para o Islão, o Corão, mil e trezentos anos. Ao
longo dos séculos, as sociedades foram evoluindo, a ciência e a técnica
desenvolveram-se, as humanidades floresceram. Face a tudo isso, as religiões
reveladas foram-se adaptando, tant bien
que mal, por vezes com contorcionismos espectaculares. Mas não vale tudo. A
Igreja Cristã foi a primeira a cindir-se: Igreja Católica de Roma e Igreja
Ortodoxa de Constantinopla, no século XI. Depois, no século XVI, os movimentos
contestatários haveriam de constituir as diversas igrejas protestantes,
pulverizadas pelo mundo e sem direcção central. A Igreja Ortodoxa ficaria
autocéfala por países, ainda que reconhecendo a primazia do patriarca de
Constantinopla.
Para garantir a unidade da fé e da disciplina
eclesiástica, a Igreja Católica convocou um Concílio Ecuménico, que se realizou
em Trento, de 1545 a 1563, respondendo assim aos protestos de Lutero, Calvino e
outros, e que ficou conhecido como o concílio da Contra-Reforma. Foi reordenado
o Cânone e estabeleceram-se os princípios que desde então têm regido a Igreja,
e que só sofreram ténue modificação pelo Concílio Ecuménico do Vaticano II
(1962-1965). Foi um aggiornamento,
mas pequeno. É que a Igreja Católica já tinha tido dissabores quando no século
XVII o Santo Ofício condenou Galileu por afirmar a sua teoria heliocêntrica,
isto é, que era a Terra que se movia à volta do Sol. Mais tarde, a Igreja
retractou-se, afirmando que sobre a matéria o papa (Urbano VIII) não se
pronunciara ex-cathedra, e por isso a
doutrina da infalibilidade papal não ficara comprometida.
A questão da homossexualidade é mais complexa para a
Igreja do que o reconhecimento da translacção terrestre. Este movimento
relevava da ciência. A homossexualidade é matéria de fé e de costumes. E é
precisamente neste ponto que se situa a linha vermelha da Igreja. Durante toda
a sua existência, a Igreja considerou a homossexualidade (pelo menos a sua
prática) um pecado mortal, brandindo para isso o Antigo e o Novo Testamento. Se
viesse agora desdizer-se em matéria tão sensível, e apesar de todos os seus
contorcionismos, quem continuaria a acreditar na autenticidade dos seus outros
mandamentos? Quem não duvidaria de que aquilo que hoje é pecado poderia amanhã
ser virtude? É este o problema, gravíssimo, das religiões que exibem um Livro
como fonte de verdade. Correm o risco de ficar separadas do mundo se alterarem
os seus dogmas; correm o mesmo risco se persistirem em verdades e
comportamentos em que ninguém já acredita. Creio que foi este o verdadeiro
motivo que levou à resignação de Bento XVI.
Também o Islão se debate com o mesmo problema
fundamental. Embora não exista uma igreja muçulmana unificada (já nem sequer há
califa), e estando os muçulmanos também divididos, como os cristãos, em ramos
principais, sunitas (a maioria) e xiitas, e diversos sub-ramos, mantém-se um
elo de ligação, o Corão, que prescreve, no seu conjunto, coisas por vezes
contraditórias e outras tão datadas que se tornam inverosímeis. E cuja
interpretação fica à responsabilidade de imames iluminados que se recusam a ver
para além da palavra escrita, o que neste caso seria até mais fácil, atendendo
à disparidade das normas consagradas. Assim, no Islão tem sido tentada uma fuga
para a frente, mas através de um retrocesso, que tornará mais difícil o aggiornamento indispensável quando
chegar a hora da verdade. Mas será essa actualização possível sem mudar a
sociedade? Não será! E conseguirão os muçulmanos provocar uma alteração radical
da sociedade para harmonizá-la com o Corão? Não conseguirão!
Quanto à religião judaica o problema coloca-se com menos
acuidade, já que o número de judeus no mundo é reduzido e a maioria deles são
ateus. De facto, o que os une é a raça e não a religião, acreditam mais no
dinheiro do que em Deus, e também não existe propriamente uma Igreja judaica.
Uma questão que tem agitado a Igreja, e a Sociedade, e
que tem ligação com o tema do livro é a situação da Família. O Vaticano e as correntes
políticas mais conservadoras continuam a defender intransigentemente o papel da
Família tradicional, os seus valores, a sua existência como célula fundamental
da sociedade humana. Sustentam, assim, a sua imutabilidade e muitas das
decisões canónicas apontam nesse sentido. Relações sexuais apenas destinadas à
procriação, condenação do aborto, interdição do uso do preservativo, reprovação
das práticas homossexuais, etc. Quando eu era jovem, mesmo a masturbação
própria, já nem falo da alheia, era considerada um pecado mortal. A Igreja
Católica continua a terçar armas em defesa do conceito da Família como ela foi
entendida ao longo dos séculos. E, procedendo assim, está evidentemente a ser
coerente com a sua doutrina multissecular. Só que o mundo mudou, a Família
tradicional foi destruída na sua essência e não voltará a recompor-se a menos
que venha a eclodir uma contra-revolução que anule a revolução “feminista”
iniciada o século passado. Um grande historiador francês, não me recordo neste
momento se Georges Duby ou Jacques Le Goff, afirmou que a grande revolução do
século XX não fora a revolução comunista mas a “emancipação da mulher”. Uma
verdade de meridiana clareza. O acesso das mulheres a (quase) todas as funções
antes exclusivamente desempenhadas por homens, operou o golpe de misericórdia
na família organizada segundo o conceito cristão e ocidental. Não sendo esta
situação admissivelmente reversível, é este outro dos pontos cruciais para a
Igreja, que se empenhou sempre na manutenção desse conceito de família, erigido
em exemplo com a Sagrada Família de Nazareth.
Mas regressemos ao livro de Frédéric Martel, já que é
esse o objecto deste comentário. Dividido em quatro partes, como se disse
acima, a obra inclui 24 capítulos, distribuídos pelos pontificados mas com
inevitáveis ligações entre si, o que implica numerosas repetições. Depois,
havendo assuntos a que é dispensada a conveniente atenção, outros há em que o
autor se compraz em longas e fastidiosas descrições e outros que, podendo ser
motivo de uma mais detalhada exposição, são tratados apressadamente.
Refere o autor que investigou durante quatro anos em mais
de trinta países e que registou todas as entrevistas (formais) embora grande
parte da informação tenha sido obtida off-the-record.
Por razões óbvias, nunca conseguiremos avaliar da fiabilidade da informação.
Tanto mais que Martel raramente se arrisca a emitir juízos definitivos,
apresentando quase sempre uma tese adequada aos seus propósitos a que contrapõe
outra afirmação que a infirma. O soar das trombetas do Apocalipse é assim
abafado pela ambiguidade de muitas revelações, mas é possível que nesta matéria
seja impossível a apresentação de irrefutáveis provas. O que se pode, todavia,
constatar é um elevado número de imprecisões, e até de contradições, ao longo
do livro, mas não admira que o autor se tenha confundido em obra tão vasta, nem
isso retira mérito e interesse ao essencial desta inédita investigação.
Para as pessoas menos precavidas ou mal informadas sobre
o assunto, Martel procede a “revelações” sensacionais, o que implicará a adesão
do leitor, mas existem trechos de profunda monotonia. E há capítulos do livro
em que, para fundamentar as suas afirmações, o autor se empenha de tal forma na
descrição dos locais, que ao fazer o outing
(restrito) das suas personagens acaba por elaborar um roteiro gay.
Um capítulo extenso, mas curioso, é o nº 6 (Roma
Termini), dedicado ao engate de prostitutos na Stazione Termini, a estação
central ferroviária de Roma. Lugar bem conhecido, é nas suas imediações que se
oferecem os taxy-boys, italianos e,
com os fluxos migratórios, das mais diversas nacionalidades. Segundo Martel, é
muito frequentada pelo pessoal do Vaticano e foi precisamente aí que Pier Paolo
Pasolini conheceu, na noite de 1 de Novembro de 1975, Giuseppe “Pino” Pelosi, o
rapaz que horas mais tarde iria assassiná-lo próximo da praia de Óstia, um
homicídio sobre o qual subsistem muitas dúvidas.
Um capítulo de escassa informação é o nº 12 (Os guardas
suíços), deixando entrever que estes, apesar de algumas vezes assediados,
mantêm as suas distâncias com os clérigos, o que contradiz a opinião generalizada
de que os guardas suíços, que são escolhidos a dedo, constituem uma das
reservas privilegiadas dos prelados da Santa Sé.
Obviamente que não vou referir aqui os nomes dos visados
no livro. Quem tiver interesse que leia a prosa de quase 700 páginas. Advirto,
todavia, que o assunto poderia ser apresentado em muito menos páginas, bastava
uma melhor organização dos dados compilados pelo autor. Também se pode tratar
de uma técnica para editar um volume mais gordo, mas em qualquer caso o método
de exposição não é famoso. Contudo, o livro está polvilhado de diversas
citações cultas e referências literárias e artísticas, o que demonstra que o autor
tem as suas leituras.
Nesta obra, Frédéric Martel nunca faz afirmações
peremptórias sobre a homossexualidade dos últimos papas, mas sempre correram
boatos sobre João XXIII e Paulo VI, para só falar dos mortos.
Acerca de João XXIII, tenho uma pequena história. Estando
em Abril de 1969 (há precisamente 50 anos) a passar uns dias de férias em
Paris, em casa do pintor Manuel Cargaleiro, que habitava então na Rue des
Grands-Augustins, em pleno Quartier-Latin, ofereceu uma noite o meu anfitrião
um jantar em que, além dos escultores Lagoa Henriques e Carlos Amado que
viajavam comigo, estavam presentes algumas pessoas francesas das suas relações.
Não sei a que propósito, veio à colação o nome de João XXIII. Então, um dos
convivas, creio que alguém ligado aos meios oficiais (policiais ou outros, mas
a esta distância já não me recordo) afirmou o que passo a descrever. Angelo
Giuseppe Roncalli (mais tarde João XXIII) fora Núncio Apostólico em Paris de
1944 a 1953, depois de ter exercido funções diplomáticas como Delegado Apostólico
na Bulgária, na Turquia e na Grécia. As suas “amizades particulares” eram bem
conhecidas na capital francesa. Roncalli, ainda que razoavelmente comedido, não
só recebia rapazes na Nunciatura Apostólica como os encontrava na rua (o que
era perfeitamente fácil e normal na Paris desses tempos). Por esse motivo, e
para evitar algum eventual dissabor ao representante do Papa, fora decidido, a
alto nível, que um polícia à paisana seguisse discretamente o Núncio nas suas
deambulações solitárias pelas ruas de Paris. Aconteceu que, em 1953, Roncalli
foi elevado ao cardinalato e nomeado Patriarca de Veneza. E, em Outubro de
1958, eleito Papa, tendo assumido o nome de João XXIII. Também em Junho de 1958
o general De Gaulle fora designado presidente do Conselho de Ministros de
França (o último da IV República) e, em Janeiro de 1959, assumiria a
presidência da República Francesa. Tendo conhecimento do dossier que existia nos arquivos policiais, De Gaulle, após a
eleição papal de João XXIII, ordenou que fossem destruídos todos os documentos
relativos às actividades “extra-canónicas” do Núncio Apostólico.
Sobre Paulo VI, Frédéric Martel tece algumas
considerações, mas certamente ignora o livro cuja capa reproduzo, Verbum Dei et Verbum Gay (1999), de
Massimo Lacchei (parece que há uma edição mais recente), que não comentarei mas
donde transcrevo uma pequena passagem: «Paolo VI, al secolo Montini Giovanni
Battista, visse una straordinaria storia d’amore com uno uomo altrettanto
valido e ricco di dotti artistiche che risponde al nome di Paolo Carlini, di
venticinque anni più giovanne, che esordi a diciotto anni nel cinema e che fu
protetto dall’allora Cardinale fino al 1963, quando Montini successe a Giovanni
XXIII sul trono papale. Paolo Carlini allora fu liquidato dai messi del Papa
che gli recapitarono due lussuosissimi smeraldi e una lettera di congedo, com
la diffida a rivolgersi ulteriormente al santo padre. Carlini non si arrese e tentò
di arrivare a Montini ma ricevette un avvertimento che non potè ignorare :
fu investito da un’autovettura che tentò volontariamente di travolgero, ne uscì
salvo e compresse che contro il “Verbum Dei” nulla poteve opporre. Morì
esattamente un anno dopo il suo ex-amante, accompagnato da molti meno fasti di
Giovanni Battista, che ha rappresentato per quindici anni la chiesa dei poveri
in danari e dei poveri di spirito. In verità il papa non se arrese, nonostante
la carica che ricopriva: ribelle com’era per natura e oppresso dagli obblighi
sempre più contrari alla sua formazione culturale, si rifugiava spesso in
amicizie particolari comme quella com il Renzo televisivo dei promessi Sposi…»
(sic).
Frédéric Martel é um activista gay. E não é possível abstrair dessa condição lendo este livro. Ele
mesmo afirma que não o poderia ter escrito se não fosse homossexual. Ao longo
do texto, por entre suposições e certezas, Martel promove uma agenda gay que gostaria de ver implantada na
Igreja Católica, porque o que parece incomodá-lo não é a homossexualidade dos
clérigos mas sim a sua homofobia. Aliás, repete-o inúmeras vezes: os prelados
são tanto mais homófobos quanto mais homófilos são.
É certo que esta investigação sobre a homossexualidade na
Santa Sé é meritória, mas convinha igualmente analisar outras facetas menos
curiais da Cúria, como a sua actividade no narcotráfico e na lavagem de
dinheiro, assuntos que só muito superficialmente são abordados.
Refere o autor, embora de passagem, que João Paulo II
teria recebido milhões de dólares dos Estados Unidos através do arcebispo
americano Paul Marcinkus, também ele homossexual (o núcleo duro de João Paulo
II era quase exclusivamente homossexual), e que foi presidente do Banco do
Vaticano, guarda-costas do Papa e supostamente envolvido no assassinato de João
Paulo I. Esse dinheiro voou para a Polónia com o fim de apoiar o sindicato
Solidarinosc, dirigido pelo infame Lech Walesa e provocar a queda do regime
comunista de Varsóvia. E mais tarde a queda do Muro de Berlim e o desintegração
da União Soviética. Devido a graves suspeitas que sobre ele recaíam,
nomeadamente o caso do Banco Ambrosiano e o corpo de um banqueiro que apareceu
“suicidado” em Londres, foi emitido um mandado de captura internacional contra
Marcinkus, que permaneceu encerrado na extra-territorialidade do Vaticano. João
Paulo II tinha até a intenção de fazê-lo cardeal e o seu nome só foi apagado da
lista de novos cardeais porque o consistório convocado para o efeito apenas
teve lugar alguns dias depois da emissão do mandado de captura e evitou-se
assim essa vergonha para a Igreja. Foi também João Paulo II (ferozmente
anti-comunista) que de acordo com os Estados Unidos e a Alemanha promoveu a
dissolução da Jugoslávia, fomentando uma guerra entre católicos, ortodoxos e
muçulmanos. Infelizmente, Putin ainda não estava no Poder. Importa não esquecer
que a Santa Sé foi com a Alemanha um dos primeiros estados a reconhecer a
independência das repúblicas da Croácia e da Eslovénia (católicas). Assim
acabou o Mundo Bipolar e foi aberto caminho às aventuras do Afeganistão e do
Iraque, e seguintes, até à decisão inflexível da Rússia de se opor à entrega da
Síria ao bando celerado que promoveu as “primaveras árabes”. Além disso,
deve-se-lhe a maior campanha de sempre contra a utilização do preservativo,
numa altura que a sida ceifava a vida de milhões de pessoas em todo o mundo. Um
crime inominável. Hoje, beatificado por Bento XVI e canonizado por Francisco, a
sua imagem figura sobre peanhas, mas o sangue que lhe escorre pelas mãos macula
as toalhas dos altares.
A questão homossexual tornou-se de tal forma obsessiva
para João Paulo II, e depois para Bento XVI, que após as polémicas sobre o
preservativo, a contracepção e o aborto, a hipótese das uniões civis do mesmo
sexo aterrorizou-os e quando se encarou o casamento civil o Vaticano entrou mesmo
em pânico e os papas deram ordens para se exercerem pressões junto dos governos
dos países ditos mais católicos a fim de evitar a legalização de tais “abominações”.
Foi a época em que alguns episcopados promoveram, juntamente com as forças mais
conservadoras da sociedade, manifestações públicas de grande envergadura, que
tiveram a encabeçá-las em Espanha, o cardeal Rouco Varela, Arcebispo de Madrid,
e em França, o cardeal Philippe Barbarin, Arcebispo de Lyon e Primaz das
Gálias, agora a ser julgado pela justiça francesa por causa do encobrimento do
padre Preynet, acusado de abuso sexual de menores. Deram então muito que falar
as chamadas “manif pour tous”.
O autor reserva algumas páginas a Portugal e refere o
episódio do afastamento do antigo bispo auxiliar de Lisboa, D. Carlos Azevedo. O
caso foi muito falado à época (2013), devido a uma reportagem da revista
“Visão”, em que um sacerdote denunciara D. Carlos Azevedo por assédio sexual
nos anos oitenta, quando o padre era ainda seminarista. O bispo exercera
funções de auxiliar do Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, entre 2005 e
2011, sendo depois, surpreendentemente, chamado a Roma para desempenhar o cargo
de Delegado do Conselho Pontifício para a Cultura. Homem de grande
sensibilidade e de grande erudição, estava indigitado in petto, pelo Papa Bento XVI, para suceder ao Cardeal Policarpo
como Patriarca de Lisboa, quando este resignasse por motivo de idade. Não se
duvida que D. Carlos Azevedo emprestaria à Sé de Lisboa o brilho dos tempos do
Cardeal Cerejeira, que foi um dos prelados mais cultos do Portugal
contemporâneo. Mas a delação do referido sacerdote, que já não era menor na
altura dos pretensos factos, que D. Carlos persiste em negar, impediu a
concretização do desígnio papal e travou a carreira do bispo. Parece que o
sacerdote o terá denunciado, já decorridos mais de vinte anos sobre o eventual
assédio, exactamente para evitar a ascensão de D. Carlos à púrpura. Após a
renúncia do Cardeal Policarpo, o Papa Francisco nomeou para suceder-lhe (2013)
o bispo do Porto, D. Manuel Clemente mas, quebrando uma tradição existente
desde D. João V, não o criou cardeal no primeiro Consistório a seguir à sua
designação (2014), mas apenas no segundo Consistório (2015), o que poderá ser
traduzido como um incómodo da Santa Sé por ter sido obrigada a colocar em
Lisboa um prelado medíocre em lugar do homem brilhante que as circunstâncias
impediram de nomear.
Consagra também o autor um curioso capítulo dedicado à
amizade do Papa Bento XVI com monsenhor Georg Gänswein, seu secretário
particular desde há muitos anos e considerado um dos mais belos sacerdotes do
Vaticano. Antes de resignar, em 2013, Bento XVI nomeou-o arcebispo (tendo sido
sagrado pelo próprio Papa na Basílica de São Pedro) e Prefeito da Casa
Pontifícia (2012). Depois da resignação papal, o novo Papa Francisco
conservou-o naquelas funções, que acumula com as de secretário particular do
Papa Emérito. Frédéric Martel debruça-se minuciosamente sobre a preocupação de
Bento XVI com as suas roupas eclesiásticas e adereços, com a harmonia do
conjunto do seu vestuário, com aquilo que considera a faceta efeminada do Papa,
e com a protecção que sempre dispensou a Gänswein, mesmo quando se avolumaram
no mundo os rumores de que entre ambos existiria uma relação íntima mais do que
uma simples amizade, já que o prelado, então ainda muito jovem quando entrou no
Vaticano pela mão de Ratzinger, causara a maior perturbação nos cardeais
homófilos da Cúria, e também no pessoal do sexo feminino. Considera, todavia, o
autor, que não existirá uma relação homossexual entre ambos (Martel é sempre
muito prudente nas suas afirmações, especialmente quando se trata de aludir a
pessoas vivas, a fim de não cair sob a alçada da justiça) mas apenas uma
relação homófila sublimada por parte de Bento XVI, que considera, e é verdade,
um papa de grande cultura e espiritualidade, um apaixonado da música, ainda que
demasiado requintado e muito sensível aos luxos terrenos e às mundanidades
eclesiais. Já de Gänswein, o autor não se coíbe de considerar que ele terá tido
as suas aventuras no mundo gay. Este
capítulo é um dos mais bem escritos do livro, que ao longo das suas incontáveis
páginas é manifestamente irregular no estilo e na qualidade das descrições.
Deve acrescentar-se ainda que o rigor da Igreja não se
fez sentir apenas na questão homossexual, mas também na ortodoxia rígida da
doutrina, defendida por Paulo VI, levada a extremos pelo inefável João Paulo II
e que Bento XVI incarnou a níveis inacreditáveis. Durante trinta anos, e sob um
amável sorriso, Josef Ratzinger, enquanto Prefeito da Congregação para a
Doutrina da Fé, foi o grande inquisidor que criou um deserto ideológico à sua
volta. Cito da página 573: «Ratzinger foi responsável pelo aniquilamento da
liberdade de pensamento na Igreja e pelo empobrecimento impressionante do
pensamento teológico católico nestes últimos quarenta anos – resume frei Bento
Domingues. Este teólogo dominicano respeitado que interrogo em Lisboa é livre na
sua palavra porque, aos oitenta e quatro anos, já se não deixa impressionar
pelos autoritarismos. Acrescenta furioso: - Ratzinger foi de uma crueldade
inimaginável com os seus opositores. Instaurou inclusive um processo canónico a
um teólogo quando sabia que ele estava condenado por cancro.» Também, ao longo
do livro, é evidenciado o combate persistente do Vaticano à “teologia da
libertação” e a tudo o que se lhe assemelhe.
Quanto ao Papa Francisco, Martel, apesar de apreciar a
sua vontade de operar uma “limpeza” na Igreja, não deixa de o criticar pela sua
personalidade. «Apanhado pela armadilha da democratização, Francisco decide
mostrar à sua oposição que é um monarca absoluto numa teocracia cesarista! –
Francisco é rancoroso. É vingativo. É autoritário. É um jesuíta: nunca quer
perder! – Resume um núncio que lhe é hostil.» (p. 125)
Importa concluir este post
que, apesar de não pretender aludir a todos os aspectos do livro mas apenas
discorrer sobre a matéria, acabou por ficar muito mais longo do que o
inicialmente previsto. Confinei-me a uma crítica genérica da obra, tendo apenas
referido um ou outro aspecto particular e introduzido dois episódios do meu
conhecimento pessoal.
Correndo o risco de me repetir, até porque este texto não
foi escrito continuadamente mas redigido durante vários dias, considero No Armário do Vaticano um livro com
interesse, embora demasiado extenso para o fim a que se propõe. Não fornece a
obra revelações propriamente sensacionais, já que a homossexualidade na Igreja
é bem conhecida por todos os que tiveram ou têm com ela uma relação próxima, ou
nem tanto. O que pode ter um carácter de novidade é a indicação explícita umas
vezes, ambígua outra, dos nomes de tantos papas, cardeais, bispos e padres que
são homossexuais (ainda que alguns não praticantes) no seio da Santa Sé (que o
autor, por uma bizarria, entende escrever santa sé, com iniciais minúsculas). E
também a forma como na prática, se desenvolve a actividade homossexual no
Vaticano, e como ela favorece promoções e despedimentos, como eladearante o
êxito ou o fracasso de uma carreira eclesiástica. Aliás, acontece o mesmo em
outras organizações que nada têm a ver com qualquer religião. O que,
principalmente, escandaliza Frédéric Martel é a hipocrisia demonstrada pela
Igreja Católica em relação aos gays,
sistematicamente condenados por ela, enquanto no seu seio são permitidas e
encobertas as actividades homossexuais dos seus membros.
O livro está recheado de “bisbilhotices”, que certamente
serão do agrado de muitos leitores, e contém inegavelmente alguns exageros e
fantasias, mas sendo o seu autor assumidamente gay seria de estranhar a exclusão desses atractivos que amenizam a
leitura de tão vasta obra, ainda que a tradução se afigure particularmente
feliz. Martel não é, como Roger Peyrefitte, um especialista dos cerimoniais
eclesiásticos e da orgânica da Cúria, mas ainda assim cumpre o essencial, não
se notando significativos desvios da nomenclatura pontifícia. Confesso que ao
iniciar a leitura do livro receei o pior. Noto, porém, ao concluí-la, que as
minhas apreensões se desvaneceram. Não pode deixar de referir-se uma quase
total ausência de datas, o que dificulta o enquadramento de muitos factos e a
sua articulação entre si. Também a inexistência de um índice onomástico, numa
obra desta envergadura, é uma flagrante lacuna, mas convenhamos que a pressa de
publicar o livro a tempo da Cimeira dos Bispos sobre os abusos sexuais terá,
eventualmente, dificultado este desideratum,
se é que alguma vez existiu.
Ignoro, obviamente, se as afirmações ou insinuações de
Frédéric Martel são todas correctas, verdadeiras, ou se terá generalizado
algumas hipóteses para demonstrar a veracidade de uma tese. Mas não posso
deixar de me interrogar como terá sido possível ao autor entrevistar tanta
gente, durante quatro anos, a começar por alguns dos mais eminentes cardeais da
Igreja, apresentando-se pessoalmente com a finalidade de inquiri-los, ainda que
usando de alguma dissimulação, sobre a vexata
quaestio por excelência da Veneranda Instituição, com a finalidade de
publicar um livro. É que, por muito discreto que tenha sido, e não foi, tendo a
Santa Madre Igreja uma rede universal de informações, mesmo que alguns prelados
não alcançassem de imediato o objectivo do autor, haveria um alarme social e os
sinos tocariam a rebate proclamando as intenções de um activista gay empenhado em atacar no âmago os
costumes do Clero. Tal rumor poria imediatamente de sobreaviso todos os
eventuais interlocutores de Frédéric Martel nos seus contactos futuros.
A menos que exista outra explicação, que os exegetas mais
apressados classificarão imediatamente de teoria da conspiração. Consistiria
ela no facto de este livro ter sido expressamente encomendado pela Santa Sé, maxime pelo Papa Francisco, num
admirável exercício de estratégia, e de táctica, que ofereceria a este Papa a
ocasião de se desembaraçar de colaboradores inoportunos, de se alcandorar ao
lugar de guardião da Fé, e de amortecer o choque provocado pelas sucessivas e
incessantes denúncias de assédios e abusos sexuais de clérigos, alguns mesmo
exercidos sobre menores, apesar de se saber que a maioridade sexual não pode
ser decretada pelo bilhete de identidade.
Só o futuro permitirá avaliar da bondade de tal tese,
sendo que a sabedoria milenar da Igreja poderá convocar o próprio Diabo (se ele
existe, como pareceu admitir Francisco na Cimeira do Vaticano sobre abusos
sexuais) já que as portas do Inferno não prevalecerão contra ela. Et portæ inferi non prævalebunt adversus eam.
3 comentários:
Nas aldeias da provincia era comum entre muitas familias orientarem as criancas e os adolescentes para a Igreja quando se suspeitava de algo diferente. Normalmente eram as maes, tias e avos que faziam isso. Comecava com a catequese, o serem acolitos, mais tarde o seminario. Manhosos, muitos aceitavam pois era um excelente pretexto para justificar a ausencia de interesse pelo sexo oposto. Conheci um ou outro caso deste tipo.
Em varias culturas os sacerdotes ou xamas sao normalmente aquilo que se chama de homossexual ou bissexual no Ocidente. Ver ainda o que disse Aleister Crowley ou os misterios dos Templarios e de Francis Bacon...
A condenacao no Ocidente tem as suas raizes na federacao de tribos que deram origem ao judaismo. Na Mesopotamia a homossexualidade era muito comum e aceite como provam os textos presentes nas barras de argila. As tribos que tinham rejeitado a sedentarizacao consideravam estes costumes corruptos. Sera Sao Paulo, que era um judeu grego ortodoxo, que introduz algumas ideias do judaismo no Cristianismo. Importa no entanto notar que no judaismo e no islamismo nao ha a condenacao do acto sexual que encontramos no Cristianismo. Alias, sabemos que durante muitos seculos houve uma enorme cultura homossexual no mundo muculmano.
Mais um facto para pensar. Ao longo de dezenas de milhar de anos so uma minoria dos homens passou os seus genes. Poderemos entao concluir que as tribos durante um longo periodo da Historia tiveram verdadeiros machos alfa cuja funcao era procriar. Uma grande percentagem de homens ficava excluida desta funcao, e provavelmente eram enviados para a guerra onde a probabilidade de morrerem era elevada, ou assumiriam funcoes religiosas (curandeiros, xamas).
Lamentavelmente o erudito bloguista gosta de salpicar os seus textos com considerações desnecessárias ao tratamento do tema em estudo,e por vezes mesmo aberrantes. É o caso. Mas entrando no "jogo" dos comentários,julgo dever marcar duas posições de principio,para esclarecimento de base.
1 - A frase de ironia anti-semitica quanto às supostas relações dos judeus com Deus e com o dinheiro é dispensável,alem de inverificável e evidentemente insultuosa. E o anti-.semitismo não é só condenável. É repelente.
2 - Apesar das advertências do Steiner sobre a incapacidade do Humanismo ser barreira contra a barbárie,continuo a ter dificuldade em aceitar a convivência da Cultura,ou mesmo só da erudição com agendas de totalitarismo e opressão,como as que caracterizaram os regimes da esfera soviética,que em boa hora tombaram de carcomidos e corruptos. Ora mais uma vez o bloguista vem lamentar o "fim do mundo bipolar",ou seja a queda do muro,de acordo com o seu idealizado Putin,que a considerou a "maior catástrofe do século XX". Para os interesses russos,provavelmente(mas não certamente). Não para quem considere a liberdade como bem supremo,e a veja tambem como indispensavel enquadramento para a vivência cultural.
Esclarecidas estas posições do comentador,manifesto a minha concordância com a maioria das apreciações do erudito bloguista sobre a tremenda questão das relações entre a homossexualidade e a Igreja católica. E tremenda porque põe a nu a profunda e extensa hipocrisia dos seus responsãveis,que pregam as virtudes da castidade e da "pureza" para os fieis incautos,para depois as enxovalharem na sua vida pessoal. O livro vem de facto trazer pormenores e confirmações de rumores todos assustadores. O resumo e o comentário do post estão geralmente certeiros. Nesse aspecto,parabens!
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