Construída em finais do
século XV (versão inicial), depois da tomada da cidade pelos turcos de Murat II,
em 1430, a Torre Branca (Beyaz Kule) é
o monumento simbólico de Salónica, erguido junto ao mar. No seu lugar existira
uma velha torre pertencente às fortificações bizantinas, no sítio onde a
muralha oriental da cidade ficava sobranceira ao Golfo Termaico. Havia uma
outra torre no lado ocidental e uma terceira no meio.
Ao longo do tempo, a Torre
possuiu várias designações: Torre do Leão, no século XVI; Torre de Kalamaria,
no século XVIII; Torre dos Janízaros (quando a guarnição destes soldados ali
esteve instalada) e Torre do Sangue (Kanle
Kule), quando se tornou prisão e lugar de execução dos condenados, no
século XIX. Em 1826, o sultão Mahmut II mandou massacrar os janízaros
revoltosos que ali se encontravam prisioneiros. Em 1880, num livro sobre os
monumentos da cidade, o historiador Mihail Xatzi Ioannou chamou-lhe a Bastilha
de Salónica, onde os condenados à morte eram executados e o seu sangue manchava
as paredes de vermelho. Um tiro de canhão significava que a sentença de morte
fora cumprida. Em 1883, por ordem do sultão Abdul Hamit II, a Torre foi pintada
de branco e passou a chamar-se Torre Branca (Beyaz Kule), já que uma torre sanguinária não era um nome
apropriado para os novos ventos que sopravam no Império Otomano. Curiosamente,
foi um condenado, Nathan Guiledi, que pintou a torre de branco em troca da sua
liberdade.
Segundo investigações
recentes, a Torre (na sua forma actual) terá sido projectada pelo célebre
arquitecto otomano Mimar Sinan, autor de muitos monumentos e de fortificações
semelhantes. Até 1912, data da incorporação de Salónica no Estado Helénico,
podia ver-se sobre a porta de entrada da Torre, que se tornou o símbolo da
cidade, a seguinte inscrição em turco otomano: AH 942, o que equivale, na EC, ao
período 1535-1536.
Foi nas proximidades da
Torre Branca que foi assassinado, em Março de 1913, o rei Jorge I da Grécia.
Durante a Primeira Guerra
Mundial, a Torre foi usada para armazenar antiguidades provenientes das
escavações arqueológicas. Também alojou a defesa aérea, o laboratório de
meteorologia da Universidade de Aristóteles e os grupos dos Escuteiros do Mar. Em
1983, a Torre passou para a dependência do Ministério da Cultura.
A Torre Branca tem a forma
circular, com 33,9 m de altura e um diâmetro de 21,7 m. Possui um piso térreo e
seis andares e é construída em pedra, gesso e tijolo. Uma escadaria em espiral,
com 92 degraus, liga a base ao último andar. Quarenta janelas permitem a
entrada da luz do dia no seu interior.
À parte a base e o último
andar, que consistem apenas num espaço circular, os restantes possuem,
envolvendo o espaço circular central (8,5 m de diâmetro), pequenas salas em
torno do perímetro, comunicando com o espaço principal através de aberturas
baixas. Arquitectonicamente, a Torre é constituída por dois cilindros, um
interior e o outro exterior, elevando-se o segundo até ao quinto andar, e o
primeiro até ao sexto andar, em cujo exterior existe um terraço donde se
desfruta uma vista excepcional sobre a cidade. Até aos princípios do século XX,
a Torre era rodeada por uma muralha octogonal baixa (camisa), provida de
pequenos torreões octogonais em três dos seus cantos. Esta muralha, provavelmente
construída em 1535, foi demolida em 1911.
Desde 2008, a Torre Branca
acolhe uma exposição permanente sobre Salónica, desde a sua fundação,
em 315 AC, até ao presente, apresentando cada andar um tema principal
desenvolvido ao longo do tempo. O espaço central trata o núcleo do
assunto, cujos pormenores são apresentados nas salas circundantes.
O Rés-do-Chão é dedicado a
“Salónica: Espaço e Tempo”. Aborda a fundação da cidade e o meio ambiente desse
tempo. A presença humana data do sexto milénio AC, encontrando-se já “colonatos”
organizados na Idade do Bronze (3000-1100 AC). Cassandro fundou Salónica em 315
AC instalando na nova cidade habitantes de 26 colonatos existentes na área
periférica.
O Primeiro Andar tem como
tema “Salónica: Transformações”. Mostra a história do planeamento da cidade e
das suas infra-estruturas. É assinalado o desenvolvimento da sua superfície,
desde os 2.000 hectares originais até aos 3.000 hectares dos fins do século
XIX. São ainda apresentados alguns objectos alusivos ao passado da cidade
enterrado sob as fundações dos edifícios modernos.
As pequenas salas
circundantes da plataforma principal relatam as modificações dos fins do século
XIX e princípios do século XX, incluindo a demolição das antigas muralhas, o
Grande Incêndio de 1917 e o novo plano projectado pelo arquitecto francês
Ernest Hébrard.
O Segundo Andar apresenta “Salónica:
Monumentos e História”. Uma panorâmica da cidade é feita através da apresentação
de sete importantes monumentos, descritos em projecções de vídeos:
. A Porta de Ouro (demolida
em 1911, juntamente com uma parte das muralhas ocidentais) sublinha a
importância de Salónica durante o período romano, quando os romanos lhe concederam
especiais privilégios e a declararam “cidade livre”;
. A Agora Romana (séculos II
a III) era o centro administrativo, financeiro e social da cidade;
. O Complexo de Galério (princípio
do século IV) representa a transição gradual da religião antiga para o
cristianismo, que se tornou uma componente essencial da fisionomia do Império
Bizantino;
. A Igreja de São Demétrio
(Agyos Demetrius) testemunha o papel importante desempenhado pelo culto deste
santo (o padroeiro da cidade) na história da Salónica bizantina, de um ponto de
vista religioso, social e financeiro;
. A Igreja dos Doze
Apóstolos (Agyoi Apostoloi) que foi edificada em 1310/4,revela a importância de
Salónica nos fins do período bizantino, quando esta era a segunda cidade do Império,
depois de Constantinopla;
. A Igreja de Acheiropoietos
(450-475), a mais antiga igreja cristã preservada em Salónica, foi a primeira
igreja a ser convertida em mesquita depois da tomada da cidade pelo sultão
otomano Murat II em 1430 (Eski cume camii)
e conserva ainda, numa das suas colunas, uma inscrição mandada colocar pelo
imperador. Outras igrejas tiveram depois o mesmo destino;
. O Heptapyrgion (Yedi Kule), que significa Fortaleza das
Sete Torres (apesar de possuir dez), construído na Acrópole, data da
Antiguidade tardia, tendo sido remodelado durante os períodos bizantino e
otomano. Foi a sede do comando da guarnição otomana durante longo tempo, e
depois convertido em prisão em fins do século XIX, a qual funcionou até 1989, altura
em que foi transferida para fora da cidade. Começou a ser restaurado pelo
Ministério da Cultura grego em 1973, e depois entre 1983 e 1985, para reparar
os estragos provocados pelo terramoto de 1978.
Nas salas circundantes são
apresentados importantes acontecimentos históricos de Salónica, como o massacre
no Hipódromo, em 390, o Reino Latino (1204-1224), a revolta dos Zelotas
(1342-1349), a Revolução de 1821, a Luta Macedónica (1904-1908), o Movimento
dos Jovens Turcos (1908), a Libertação, em 1912 e a Primeira Guerra Mundial.
O Terceiro Andar apresenta “Salónica:
A Pátria de um Povo”. O tema é o povo da cidade, as pessoas que a tinham por
pátria ancestral e as que foram chegando de outras regiões e que nela se
instalaram. Há uma apresentação de slides
relativos às pátrias perdidas dos refugiados gregos de 1922, com referência à
sua fé e à esperança de que um dia pudessem regressar às suas primitivas terras.
É também projectado um filme sobre as memórias dos antigos salonicences e dos
que adoptaram a cidade como a sua nova casa. E existem painéis com textos de
escritores e viajantes, que descrevem a cidade do século VII até ao presente.
Nas salas circundantes é fornecida informação sobre a vida dos salonicences
durante a Antiguidade, nos períodos bizantino e otomano, aquando dos refugiados
de 1922, durante a ocupação alemã na Segunda Guerra Mundial e as perseguições
aos judeus, no período da urbanização dos anos 50 e 60 do século passado, e
sobre os que foram repatriados em 1990.
O Quarto Andar tem por tema “Salónica:
Nas Rotas do Comércio”. Trata do comércio e da economia da cidade, das pessoas
e dos lugares envolvidos no comércio, e dos produtos e actividades comerciais.
São apresentados objectos provenientes de escavações arqueológicas, como ânforas
e moedas de várias épocas. São ainda mencionadas as trocas comerciais entre Salónica
e outras cidades, os transportes comerciais, os mercados da cidade, as
profissões e as actividades produtivas.
As salas circundantes apresentam vídeos
relativos à Feira Internacional de Comércio de Salónica, aos mercados da cidade
através da história, às guildas profissionais, à modernização e
industrialização do século XIX, à criação da classe operária, e às
transformações sociais operadas pela era moderna.
O Quinto Andar trata de “Salónica:
Lazer e Cultura”. Refere a vida intelectual e artística da cidade nos séculos
XIX e XX. Existe um pequeno anfiteatro onde é apresentado um filme, “espectáculo
na cidade”, com imagens da sua vida artística e atlética.
As salas circundantes
exibem elementos sobre a imprensa local, a Universidade de Aristóteles, as
escolas da cidade, as fundações educativas, a literatura, o teatro, o cinema e
a música de Salónica. Existe também uma projecção de slides sobre os jornais que têm circulado em Salónica, um vídeo
sobre a rádio e a televisão e aplicações interactivas sobre as personalidades
da vida intelectual e artística da cidade desde a Antiguidade aos nossos dias.
O Sexto Andar é dedicado a “Salónica:
Sabores”. Trata dos “sabores” da cidade e reflecte a variedade de pessoas de
diferentes antecedentes e cultura que aqui viveram. Uma parte do espaço está
transformada em sala de jantar com quatro mesas. Os tampos das mesas são écrans
que apresentam a preparação de receitas para comidas e doces característicos de
Salónica. O espaço restante é ocupado pela Loja do Museu, onde se vendem livros
e recordações da cidade.
Do terraço que circunda este último andar desfruta-se
uma magnífica vista sobre a cidade e estão colocados quadros de informação
sobre localizações e monumentos do passado.
Esta descrição,
necessariamente incompleta, pretende transmitir aos leitores uma ideia do
conteúdo da Torre Branca, que continua a ser o monumento simbólico por excelência
da cidade de Salónica.
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