quinta-feira, 1 de novembro de 2018
A REPÚBLICA DOS TRAIDORES
Foi publicado o mês passado um curioso livro sobre os grandes protagonistas da V República Francesa, La République des Traîtres - De 1958 à nos jours, enfatizando uma características comum a todos eles: a traição. Reunindo textos escritos por vários jornalistas, sob a direcção do historiador Jean Garrigues, a obra abre com uma citação de Talleyrand, que dizia que a traição, que foi para o célebre estadista uma forma de arte de viver, não era senão "une affaire de dates".
Ao longo deste livro, escrito com a objectividade possível que a curta distância dos acontecimentos permite, os articulistas examinam as traições de que foram autores ou vítimas, ou ambas as coisas, as principais figuras da política francesa, desde 1958. No Epílogo, o coordenador da obra refere que muitas das pretendidas "traições", como tais denunciadas, foram apenas os efeitos naturais da "competição". Ou, num outro registo, da "emancipação". Mas nem sempre terá sido assim.
Ao longo de 300 páginas, perpassam os nomes do general De Gaulle, Georges Pompidou, Valéry Giscard d'Estaing, François Mitterrand, Jacques Chirac, Nicolas Sarkozy, François Hollande, Emmanuel Macron, e também de Jacques Chaban-Delmas, Alain Poher, Alain Juppé, François Bayrou, Edouard Balladur, Michel Rocard, Dominique de Villepin, Jean-Pierre Chevènement, Ségolène Royal, François Fillon, Jean-Marie Le Pen, Marine Le Pen, Bernard Kouchner, Bruno Le Maire, e muitos mais cuja omissão aqui a leitura do livro colmatará.
Apenas duas citações:
Uma, acerca de uma confissão de François Mitterrand: «Le même homme, le 17 Mai 1995, prenant son ultime petit déjeuner à l'Élysée avec Jean d'Ormesson, lui glisse la phrase terrible que l'écrivain écrira quatre ans plus tard dans Le Rapport Gabriel, après l'avoir confiée à un journaliste dès Octobre 1996: "Vous constatez là, me dit-il, l'influence puissante et nocive du lobby juif en France."» (pp. 141-2)
A outra, na conclusão do Epílogo: «Qu'elle soit parricide ou adultère, qu'elle soit de succession, de compétition, d'émancipation ou d'ambition, et le plus souvent tous à la fois, la trahison est donc le fil conducteur de la vie politique sous la Ve République, parce qu'elle est un marchepied indispensable pour l'ascension vers les hauteurs élyséennes. "Toujours la trahison trahit le traître", écrivait Victor Hugo, rappelant que Bonaparte comme son neveu Louis-Napoléon avaient finalement expié au regard de l'histoire les crimes de leurs coups d'État respectifs. Cette histoire de trahisons successives nous montre en tout cas que ceux qui ont trahi ont toujours été trahis à leur tour. C'est la loi inéxorable de la conquête et de l'exercice du pouvoir. À cette histoire pleine de rebondissements, pittoresque, mouvementée et souvent cruelle, nul doute que l'avenir ajoutera de nouveuax chapitres sanglants.» (pp. 290-1)
NOTA PESSOAL: A circunstância deste livro aplica-se, obviamente em minha opinião, a todos os países.
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