sábado, 10 de novembro de 2018
SALÓNICA III - O MUSEU DE CULTURA BIZANTINA
O Museu de Cultura Bizantina de Salónica fica situado na Leoforos Stratou, no quarteirão seguinte ao do Museu Arqueológico. É um edifício moderno, inaugurado em 1994, e reúne peças notáveis, nomeadamente religiosas, do passado bizantino de Salónica, que foi a segunda cidade mais importante do Império Bizantino, depois de Constantinopla. Além do seu acervo permanente, o Museu organiza exposições temáticas temporárias e prossegue projectos educacionais.
Uma primeira área é reservada ao período bizantino antigo (séculos IV a VII) e uma segunda parte ao período bizantino médio (séculos VIII a XII).
Com a "conversão" de Constantino ao cristianismo e mais tarde o reconhecimento oficial do mesmo como religião do Estado por Teodósio, a Igreja Cristã conheceu um rápido desenvolvimento. O modelo predominante das primeiras igrejas era a basílica romana, um lugar de assembleia pública erigido no centro das cidades. Possuía uma estrutura rectangular e estava dividido longitudinalmente em alas, separadas por colunas, que podiam ser três, cinco ou mesmo sete. A abside do santuário era colocada a leste e o nártex, ou vestíbulo, a ocidente. O conjunto era rodeado por anexos, que serviam de apoio aos serviços litúrgicos. Um exemplo característico é a igreja de Achiropiitos (século V), em Salónica, depois transformada em mesquita por Murat II, e regressada ao culto cristão após a queda do Império Otomano.
A versão basilical evoluiu para um modelo mais complexo, com um transepto, criado pela introdução de um eixo transversal na parte final do lado oriental do edifício. Um exemplo notável é a igreja de Agyos Dimitrios (São Demétrio), em Salónica, resultante da transformação, no século VII, de uma basílica romana. Esta igreja, dedicada ao padroeiro da cidade, foi destruída pelo grande incêndio de 1917, e depois restaurada na forma actual.
Com o correr do tempo, foram construídos edifícios já expressamente destinados a igrejas, de forma circular ou poligonal, incluindo túmulos dos mártires no seu interior.
A vida e a aparência das cidades no período bizantino antigo não sofreu grandes modificações em relação à época romana propriamente dita. As cidades continuavam cercadas de muralhas fortificadas e a agora era o centro da vida pública. Existiam numerosas edificações para satisfação das necessidades sociais: cisternas, celeiros, banhos públicos, teatros, hipódromos. E com o triunfo final do cristianismo surgiram as igrejas, geralmente acompanhadas das residências episcopais, e que passaram não só a cumprir a sua função religiosa como também a ser o centro de actividades administrativas, económicas e sociais.
A exposição das peças está organizada em torno de um triclinium, o átrio de recepção das famílias abastadas de Salónica, com o chão em mosaico e as paredes pintadas. São apresentados objectos da vida quotidiana pública e privada (objectos de cerâmica, vidro, tecelagem ou cozinha, vestuário, adornos, cosméticos, etc.).
Também é dedicada atenção especial ao culto dos mortos. Neste período os cemitérios encontravam-se fora das muralhas da cidade, de acordo com a prática romana. Com o advento do cristianismo começaram a existir junto aos túmulos dos mártires e nas basílicas. A Igreja permitia a prática dos rituais pagãos de enterramento, excepto a cremação. Os mortos eram sepultados com as suas jóias, objectos de uso pessoal e moedas destinadas ao pagamento da viagem seguinte. O material exposto provém dos primeiros cemitérios cristãos de Salónica.
A segunda área do Museu é dedicada ao período bizantino médio, desde a questão da Iconoclastia até ao apogeu da Dinastia Macedónica e à época dos Comnenos. Este período é marcado por mudanças radicais na vida do Império, devido à perda de parte da sua região ocidental. As cidades foram encolhendo progressivamente ou até abandonadas, devido aos ataques inimigos, epidemias e terramotos. Muitas foram substituídas por cidades-fortalezas.
A Igreja Cristã experimentou a sua maior crise neste período. Em primeiro lugar com a questão dos iconoclastas, movimento político-religioso contra a veneração de ícones e imagens religiosas no Império Bizantino, que começou no início do século VIII e perdurou até ao século IX. Os iconoclastas acreditavam que as imagens sacras seriam ídolos e a sua veneração idolatria. Foram destruídos milhares de ícones, mosaicos, frescos, estátuas, pinturas, livros e outras obras de arte. Os iconoclastas foram definitivamente condenados pelo Segundo Concílio de Niceia (787). A outra grave crise foi de natureza dogmática, e vinha a arrastar-se há séculos. Houve uma primeira ruptura entre a Igreja de Roma e a de Constantinopla por causa da recitação do Credo no cristianismo ocidental, durante o pontificado de Fócio, patriarca de Constantinopla (856-867). A situação agravou-se em 1043 com a ascensão à cadeira patriarcal de Miguel Cerulário, que em 1053 mandou encerrar todas as igrejas latinas de Constantinopla, proclamando-se patriarca ecuménico. Em 1054, o papa Leão IX enviou um legado, o cardeal Humberto, para intimar Cerulário a reconhecer a supremacia de Roma como mãe das igrejas. Este recusou e Humberto, apesar do papa ter entretanto morrido, depô-lo e excomungou-o. Por sua vez, Cerulário excomungou Humberto e toda a comitiva papal. Estava consumada a ruptura, que dura até hoje, e que ficou conhecida como o Grande Cisma do Oriente. Foi a primeira cisão na Igreja Cristã, passando a haver a Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Ortodoxa Bizantina (depois do fim do Império, apenas Igreja Ortodoxa).
Em 963, foi construído o mosteiro da Grande Lavra, no Monte Athos, que marcou o início da vida monástica na região e contribuiu largamente para o florescimento do monasticismo na Montanha Sagrada. Surgiram, entretanto, novos estilos arquitectónicos para as igrejas. As primitivas basílicas cristãs, construídas segundo um eixo longitudinal e muito amplas, deram lugar a edifícios mais pequenos, em forma de cruz e com o tecto em abóboda. A igreja octogonal foi privilegiada nos mosteiros e os cemitérios passaram para o interior das cidades, especialmente para os pátios das igrejas e dos mosteiros.
A Dinastia Macedónica e a governação dos Comnenos caracterizaram-se por um acentuado desenvolvimento cultural e artístico, cuja reverberação teve como consequência um decisivo impacto cultural e político no mundo então conhecido, com particular realce no mundo balcânico.
Esta zona da exposição contém material arqueológico e painéis informativos relativos à Iconoclastia, à arquitectura, pintura e escultura das igrejas do período bizantino médio, ao monasticismo, à conversão dos eslavos pelos irmãos Cirilo e Metódio, aos cemitérios, cerâmica, selos de chumbo, moedas, etc.
São ainda apresentadas as dinastias do Império Bizantino (ou Império Romano do Oriente), desde Heráclio (610-641) até à queda de Constantinopla, em 1453, quando o imperador Constantino XI foi derrotado pelo sultão otomano Mehmet II.
Apresentámos algumas imagens das peças mais interessantes do Museu.
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