domingo, 24 de setembro de 2017

AS ELEIÇÕES NA ALEMANHA E O FANTASMA DE ADOLF HITLER




O resultado das eleições legislativas na Alemanha, efectuadas hoje, não é propriamente surpreendente. Desce a CDU/CSU, mas com votos suficientes para Angela Merkel voltar a formar Governo. Desce o SPD, com um péssimo resultado relativamente às expectativas, o que já levou Martin Schulz a declarar que não renovará a coligação com a CDU; aliás, as sucessivas derrotas dos partidos socialistas e sociais-democratas na Europa muito se deverá às alianças à direita. O FDP (Freie Demokratische Partei), de Christian Lindner, de orientação liberal, regressa ao Parlamento de onde fora excluído nas eleições anteriores, quase ex-aequo com o Die Linke (Partido da Esquerda) que recolhe as tendências mais à esquerda do espectro político germânico, e cujos eleitores são, em grande parte, nostálgicos da antiga RDA (República Democrática Alemã). Ligeiramente abaixo, aparece o Partido Os Verdes (Die Grünen), ecologista e pacifista. O único resultado que ultrapassou as previsões foi o obtido pelo AfD (Alternative für Deutschland), considerado de extrema-direita, xenófobo e nazi, e que pela primeira vez entra no Bundestag. A votação conseguida nestas eleições coloca-o como a terceira força política da Alemanha.

Ignoro neste momento a taxa de abstenção destas eleições em que têm direito a voto mais de 60 milhões de cidadãos, mas com os seus 13% de votos expressos o resultado do AfD representa a vontade de alguns milhões de cidadãos. Tem-se verificado um pouco por toda a Europa um alarme pela percentagem de votos deste partido. Mas a Democracia consiste exactamente na possibilidade de cada um exprimir livremente as suas convicções. Não é crível que todos os eleitores do AfD sejam saudosistas do regime nazi ou que se reconheçam por igual em todas as bandeiras do partido,  mas é inegável que ainda hoje o fantasma de Adolf Hitler continua a pairar sobre a Alemanha, mais do que exprimem os resultados eleitorais e daquilo que confessam os cidadãos germânicos. Tive ocasião de confirmá-lo, há meia dúzia de anos, durante uma permanência em Munique, cidade a partir da qual o Führer organizou o seu movimento. 



Neste xadrez político, na Alemanha como em muitos outros países, começa a ser confuso distinguir Direita e Esquerda, já que os programas dos partidos e as suas práticas não são de alguma forma coincidentes. E as causas que defendem cruzam-se, os valores confundem-se, as solidariedades são cada vez mais insólitas. Em certos aspectos, poderá haver maior afinidade entre o AfD e o Die Linke, supostamente situados nos extremos do espectro partidário, do que entre cada um deles e um dos partidos mais ao centro.

Evitemos tirar conclusões apressadas e aguardemos pela formação do novo Governo alemão (tarefa que poderá levar muitas semanas) e pela atitude que os recém-eleitos deputados adoptarão no Reichstag.

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