segunda-feira, 19 de outubro de 2015

OS IMIGRANTES, A ALEMANHA E A TURQUIA

Com a devida vénia, transcrevemos do blogue "O Economista Português":

Imigrantes: Merkel salda a UE e transforma-a em NATO Bis

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A Srª Merkel foi a Istambul explicar aos Turcos o caminho político para entrarem na União Europeia

A chancelarina Merkel repetira há 15 dias ser contra a entrada da Turquia na União Europeia (UE) e foi ontem a Istanbul ver o príncipe das Mil e Uma Noites  para lhe dizer  o contrário: vai acelerar as negociações para a entrada e paga aos otomanos para impedirem militarmente a entrada de imigrantes na UE, parqueando-os no seu país. Para isso, interfere na campanha eleitoral da Turquia. A Srª Merkel não disfarçou a sua nova reviravolta leninista: «Penso que usámos a crise que estamos a passar por causa de um movimento desordenado e descontrolado de refugiados para voltar a alcançar uma cooperação mais próxima em vários temas entre a União Europeia e a Turquia e entre a Alemanha e a Turquia», afirmou ela em conferência de imprensa turca. O leitor reparou que ela falou em nosso nome. A educação comunista convenceu-a que não há moral nem estratégia neste mundo: a força é a deusa única. É esta deusa, a deusa Vitória do final do Império romano, que ela ingenuamente invoca, sem esboçar a menor justificação doutrinal ou estratégica. O príncipe sentiu-se fortalecido e, apesar de lhe convir ganhar as eleições, fez-se rogado.

Esta viagem de Merkel a Canossa significa que a UE não negoceia com a Turquia: implora-lhe. Quanto Ankara quiser reabrir as negociações, já sabe o caminho a seguir: manda-nos uns refugiados curdos (ou sírios) via Balcãs. Merkel mandou a Europa para o desbarato político.  Significa que a Alemanha de Merkel não aprendeu nada e continua a não querer uma solução política para o problema da imigração: quer continuar com a solução militar que tão brilhantes resultados acaba de nos dar. Dado que os europeus não parecem dispostos a afogar os imigrantes antes de eles chegarem à praia, contrata os turcos para serviço equivalente. A UE torna-se uma aliança securitária, uma Nato Bis.

Para simbolizar esta mudança, assinalemos que Berlim recusa agora a união bancária, objetivo que levou o governo português a rejubilar com a falência do BES e que hoje se afigura inalcançável, segundo W.  Munchau. Este gesto de desespero resulta da queda da Srª Merkel nas sondagens (numa semana perdeu quatro pontos percentuais). A continuar assim, em breve os aliados da CDU alemã lhe retirarão o apoio.

O príncipe, Erdogan, presidente turco, anunciou que pediu auxílio a vários países europeus para a sua adesão à UE; entre esses países não figura Portugal. Mais uma lamentável prova que existimos cada vez menos como realidade coletiva. Alguém reparou, aliás? Alguém fez valer os nossos direitos? A Srª Merkel falou em nosso nome, está tudo dito. A omissão mede bem a nossa degradação internacional: quando do início das negociações com a UE, Ankara requestou-nos com insistência. Hoje ignora-nos.
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O citado artigo de Munchau está disponível em

http://www.dn.pt/opiniao/opiniao_dn/wolfgang_munchau/interior/e_preferivel_nao_haver_nenhuma_uniao_orcamental_do_que_uma_cheia_de_falhas_4841759.html

1 comentário:

Abraham Studebaker disse...

Quem provocou, sustentou e sustenta a guerra no Médio e Próximo Oriente? Esse membro da OTAN tem o estrito dever de cuidar dos refugiados.Mas como esse grande país democrata constrói muros nas suas fronteiras com países menos abastados, não ficamos surpreendidos com o que pratica. Muros, só se falava do de Berlim... E depois chamam-nos anti-capitalistas primários...