sábado, 23 de junho de 2012

A REVOLUÇÃO SEGUE DENTRO DE MOMENTOS



A praça At-Tahrir, no Cairo, voltou a encher-se de uma multidão calculada em dezenas de milhar de pessoas, segundo as informações registadas pela Al Jazira. Protestam os egípcios pelo facto de o Conselho Superior das Forças Armadas (CSFA) não ter ainda divulgado os resultados das eleições presidenciais do passado fim-de-semana. A multidão acusa as Forças Armadas de um golpe militar. O CSFA afirma que lhe cabe proteger as instituições do Estado e garantir a estabilidade e a segurança nacional, e que agirá firmemente contra toda e qualquer alteração da ordem pública.

Entretanto, ignora-se a evolução do estado de saúde do ex-presidente Hosni Mubarak, condenado a prisão perpétua e dado anteontem como clinicamente morto.

Ambos os candidatos que passaram à segunda volta, Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana e Ahmed Shafiq, último primeiro-ministro de Mubarak, clamam vitória.

Não só pelos múltiplos interesses, de toda a ordem, em que estão envolvidos como pelo papel geo-estratégico do país, nunca os militares abandonarão o comando da situação política do Egipto. Poderão tolerar um simulacro de democracia "ocidental", desde que não afecte a sua linha de acção. Aliás, como temos repetido, a democracia não se esgota em eleições. Ainda há poucos anos, Tony Blair, contra a vontade da esmagadora maioria do povo britânico, decidiu coligar-se com o seu amigo George Bush para invadir o Iraque. Apenas porque tinha os votos do Parlamento.

O Egipto está muito mais pobre e infeliz desde que, imitando a revolução tunisina (outro equívoco) se rebelou contra Mubarak. E este apenas não continuou porque perdera o apoio das mais altas patentes militares. Já estava no cargo há 30 anos e queria impor o filho como sucessor. Erro fatal.

Quero acreditar que a maioria do povo egípcio (não falo dos milhares de pessoas da praça At-Tahrir mas dos 80 milhões de habitantes do país), considera que a aventura já foi longe demais. O turismo esfumou-se, os investimentos caíram, a pobreza alastra pelas ruas.Mas è tardì, como se costuma dizer nas óperas italianas.

O CSFA procura uma saída para a situação que ele mesmo permitiu, não prevendo a excepcional votação nos partidos islâmicos. Por isso, já dissolveu o Parlamento. Compete-lhe agora decidir se aceita um presidente da Irmandade Muçulmana, mesmo com poderes residuais (não há Constituição) ou se impõe o marechal Ahmed Shafiq, um homem do antigo regime, mas a quem se reconhece obra feita.

Tudo está em aberto. Aguardemos as próximas horas.

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