Morreu anteontem, dia 6, o historiador britânico Tony Judt, de 62 anos, que sofria desde 2008 de esclerose lateral amiotrófica. A ele nos referimos no nosso post de 13 de Maio deste ano.
Doutorado por Cambridge, ensinou nas mais prestigiadas universidades inglesas e norte-americanas e é autor de uma obra notável, da qual se encontram traduzidos para português dois livros: Pós-Guerra - História da Europa desde 1945 e O Século XX Esquecido. Está prevista a edição portuguesa de Ill Fares the Land, o seu último livro, que contém o texto da conferência que, já numa cadeira de rodas e com um aparelho de respiração no nariz, proferiu em Outubro passado, na New York University, derradeiro estabelecimento de ensino em que leccionou.
Escrevia regularmente em jornais e revistas, de que se destacam The New York Review of Books, The New Republic, The Times Literary Supplement e The London Review of Books, sobre variadas matérias desde a história à intervenção política e social. Era igualmente especialista da política francesa, tendo escrito sobre Sartre, Camus, Aron, etc. e um céptico acerca da União Europeia.
Sendo judeu, entusiasmou-se na juventude com o Partido Trabalhista de Israel, tendo mesmo servido voluntariamente como intérprete durante a Guerra dos Seis Dias. Essa experiência contribuiu para a sua desilusão com a política israelita, da qual progressivamente se distanciou.
Em 2003, propôs a criação de um estado bi-nacional e secular como forma de resolver o conflito israelo-palestiniano, o que lhe valeu acerbas críticas. Em 2006, uma conferência que deveria efectuar no consulado polaco em Manhattan foi abruptamente cancelada por pressão dos sectores sionistas norte-americanos.
Em Janeiro de 2010 confidenciou ao jornal britânico The Guardian: “Today I’m regarded outside New York University as a looney-tunes leftie self-hating Jewish communist; inside the university I’m regarded as a typical old-fashioned white male liberal elitist. I like that. I’m on the edge of both, it makes me feel comfortable.”
3 comentários:
To be on the edge e ao mesmo tempo feeling comfortable não é para todos.Ao contrário do que deixa supor o autor do blog,Judt tinha o apoio da comunidade judaica americana anti-governo actual israelita,comunidade crescente em número e influência. Boa parte da elite intelectual judaica anglo-saxónica concordava com as suas críticas,e as elites intelectuais no mundo judaico não são para minimizar ou desprezar,como sucede noutras terras que escuso de exemplificar..O seu "Post-Guerra" é notável,e talvez só peque pela pouca atenção dada à nossa Península. Mas na época que analisou,é verdade que a Europa central era bem mais relevante(como hoje,pensando bem). Morreu um apreciável historiador e ensaísta,que aguentou com humor e grande coragem o sofrimento de uma horrivel doença,em que a lucidez ainda mais pode contribuir para o desepero,o que espero não tenha sido totalmente o caso. Arrivederci.
PARA O ANÓNIMO DAS 00.26:
Não sei o que é que o comentador entende por comunidade judaica americana. Parece que há várias associações judaicas nos Estados Unidos. Já falámos disso no blogue.
É uma verdade incontestável que Judt se foi distanciando da política israelita, não só do actual governo como dos anteriores.
Como também é verdade que foi por pressão da Anti-Defamation League e do American Jewish Committee que o cônsul polaco Krzysztof Kasprzyk cancelou abruptamente em 2006 a conferência de Judt no Consulado. Aliás o governo polaco considerara que as opiniões de Judt não eram compatíveis com as relações amigáveis existentes entre a Polónia e Israel.
Deixo o Anónimo com a sua judaicofilia. A vantagem, ou o inconveniente da blogosfera, é que se podem escrever todos os dislates.
Talvez por causa de alguma pressa,ou dificuldade de leitura,o autor não parece ter notado que não me referia a "comunidade judaica americana"em geral, mas a "comunidade judaica americana anti-governo actual israelita",a qual acrescentei que cescia em número e influência. Veja-se para não ir mais longe o teor dos artigos da mais prestigiada revista intelectual americana,a "New York Review of Books",onde precisamente escrevia o Tony Judt. Claro que há várias comunidades judaicas americanas,umas melhores que as outras,e o contrário seria de estranhar. E concordo que a blogosfera permite e amplia imensos dislates. E como!
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