Publicou ontem Eduardo Pitta, no seu blogue "Da Literatura", um post com o título "Até vós, ó magrebinos!", sobre um filme estreado em França há cerca de três meses (e também na Alemanha e nos Estados Unidos). Trata-se de Le Fil (The String, na designação inglesa), realizado pelo tunisino Mehdi Ben Attia, em 2009, rodado na Tunísia e que tem a particularidade de abordar um tema gay. O filme é interpretado pelo francês de origem indiana Antonin Stahly-Vishwanadan, pelo francês de origem marroquina Salim Kechiouche e por Claudia Cardinale, a grande estrela do cinema italiano, que se notabilizou em filmes famosos como Rocco e os seus Irmãos e O Leopardo. Presumo que a admiração de Eduardo Pitta provenha do facto da película ter sido realizada por um tunisino, passada na Tunísia e de um dos actores, Salim, francês filho de marroquinos, ser um ícone gay beur em França. Mas é um facto que não se trata do primeiro filme de temática homossexual realizado por um tunisino e passado na Tunísia. Este país, embora muçulmano, sempre foi de grande abertura em questões de sexo, e só muito recentemente, com o incremento do islamismo no mundo árabe, se tornou mais reticente nessas matérias.
Acontece que Salim Kechiouche, natural da banlieue de Lyon, que hoje tem 30 anos, começou aos 15 a participar em filmes e depois também em peças de teatro e em séries televisivas e a dedicar-se igualmente ao boxe, que foi uma das suas paixões. Distinguiu-se no teatro em 2003 na peça Vie et Mort de Pier Paolo Pasolini (existe gravação em dvd) e fazendo parte dos conhecimentos do meu amigo Christian Giudicelli, autor de vasta e premiada obra, aceitou interpretar em Paris a sua peça Karamel (já representada em Portugal), projecto só não concretizado pela desistência do produtor inicialmente previsto.
A edição de Le Fil em dvd está prevista para Outubro.
Adenda - Ver novo post sobre Salim Kechiouche em 09/12/2010
5 comentários:
Realmente o habitualmente bem informado Ed.Pitta anda algo distraído,mas talvez seja por se tratar de francófonos e ele pender mais para a anglofonia,como bom laurentino. Aproveito,para o caso de vir ler estes comentários,para o felicitar pelo seu enlace,e pela activa campanha que com outras corajosas almas desenvolveu a favor do reconhecimento público de um direito óbvio. Mas como bem diz o autor do blog(de quem discordo frequentemente) Salim Kechiouche faz cinema há muitos anos,e quase sempre com realizadores de orientação reconhecida.O seu primeiro filme foi dirigido por Gael Morel,que o "descobriu",e nada mais é preciso acrescentar sobre o caso. Mas há mais "beurs" num certo cinema,veja-se Sami Bonajila no "Drôle de Felix" e noutros papeis. Quanto ao título do post de Pitta,para alem do Cinema,já é mais dificilmente perdoável que ignore a atracção que o Maghreb (e um pouco o Machrek) representava desde finais do século XIX até há pouco, para escritores,artistas e outras pessoas civilizadas que ali encontravam uma concepção de vida pessoal bem mais livre de preconceitos do que (nesse campo) a atrasada Europa. Suponho que Gide,na literatura,ou Saint-Saens na música talvez não lhe digam muito,mas o próprio Wilde andou por lá,para não falar da Tânger de Bowles,Ginsberg,Tennessee Williams,Burroughs,que lhe serão mais familiares. Não se surpreenda pois com o Maghreb,caro Pitta,terra de algumas surpresas,de facto,mas não essas,já bem conhecidas e celebradas.
O rapaz é um espectáculo, pelo menos nas fotos, que dever ser de há uns anos atrás. Mas calcula-se que não tenha mudado muito. Também conheço o filme sobre o Pasolini que só por causa do Salim vale a pena. Vamos ver o próximo quando sair.
Pequena correcção de erro de teclado: é Bouajila e não Bonajila. E vejam o "Drôle de Felix"!
O comentador das 16:27 ignorou Genet, Foucault, Barthes e tantos outros que andaram pelo Norte de África. Até o nosso presidente Teixeira Gomes. Quando é que se faz um livro com toda essa gente???
O comentador das 16:27 não ignora que os citados e muitos outros nomes relevantes andaram pelo Maghreb. Mas dirigia o seu comentário ao post de Eduardo Pitta que é sobretudo inclinado para a vida literária de língua inglesa,no que tem todo o direito,aliás,e esses nomes podiam não lhe ser familiares. Gide era um exemplo,e na sua opinião chegava como exemplo.
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