sexta-feira, 16 de abril de 2010

O EROTISMO E A GUERRA

Philippe Pétain

Foi recentemente publicado o segundo volume da obra magistral do politólogo francês Patrick Buisson 1940-1945: Années érotiques.

Trata-se de um fresco admirável sobre a vida sexual em França durante os tempos da ocupação alemã. O autor, também jornalista, investigador, director do canal "História", descreve com uma minúcia, suportada por exaustiva bibliografia, e um humor, que refresca a leitura,a euforia sexual vivida durante o regime do Marechal, na França ocupada e na França "livre", apesar (ou por causa) das privações da época. Refere-se Buisson à "colaboração horizontal" e à convivência mantida entre as populações e o exército nazi, composto na sua maioria por jovens, fisicamente bem constituídos, louros, atraentes e (talvez) felizes por se encontrarem no país que era ainda então considerado a pátria do amor e do sexo.

Não é possível sintetizar as 570 páginas do volume I - Vichy ou les infortunes de la vertu, nem as 521 do volume II - De la Grande Prostituée à la revanche des mâles. Por isso, apenas uma breve referência à situação de carência (não só sexual mas também material) das mulheres franceses, com os maridos prisioneiros na Alemanha, que as levou a deitar-se progressivamente com o invasor. Não deixa também o autor de referir com detalhe o notável desenvolvimento das relações homossexuais, uma verdadeira idade de ouro, já que os jovens, alguns mesmo muito jovens, soldados alemães, apesar da "doutrina" do Führer, não hesitavam em dormir com franceses, especialmente quando estes eram figuras gradas das letras e das artes, como André Gide, Henry de Montherlant, Jean Cocteau, Jean Genet, Abel Hermant, Jean Marais, Maurice Rostand, Marcel Jouhandeau, Roger Peyrefitte, Jacques Bénoist-Méchin ou o próprio ministro da Eduacação do governo de Pétain, o académico Abel Bonnard. Também as relações homossexuais entre franceses tiveram um apreciável incremento, nomeadamente devido às deslocações populacionais.


Por outro lado, verificou-se um aumento da prostituição feminina,

não só por vício ou necessidades materiais, mas também pelo gosto do novo. Poderá dizer-se, talvez sem exagero,  que todos os
homens do exército de ocupação alemão tinham ou uma amante, ou um amante francês.

Verificou-se, também, um fenómeno equivalente na Alemanha. As 
mulheres alemãs, cujos maridos se encontravam em combate, passaram a dormir, não todas, evidentemente, com os soldados franceses prisioneiros na Alemanha ou com os franceses que durante os primeiros anos da guerra foram aliciados para trabalhar no Reich.

Tudo isto, no que respeita à França, envolve profundas contradições. A "Revolução Nacional", liderada pelo Marechal Pétain, e cujo tríptico era "Trabalho, Família, Pátria", encontra-se, pela força das circunstâncias, face à maior libertinagem jamais vista em solo gaulês. Até ao fim, confrontar-se-ão em Vichy duas correntes: a direita conservadora e clerical, desejosa de acabar com a democracia republicana e uma corrente fascista fascinada pelo modelo alemão, muitas vezes enquadrada por personalidades vindas da esquerda socialista e comunista. A ordem moral dos primeiros não chega a coabitar com a ordem viril dos segundos. Salienta ainda Buisson que o laço secreto que une Vichy à Resistência é a "ordem moral". Depois da direita reaccionária é a esquerda republicana que apela à purificação dos costumes. 

Uma última nota para registar como o Marechal Pétain constituiu um símbolo para a França, que entusisticamente o aclamava por onde passava, como se pode ver no filme-documentário de Claude Chabrol L'Oeil de Vichy. E também como o general De Gaulle foi aclamado, possivelmente pelos mesmos, após a Libertação.

Pelo que disse e por tudo o que não escrevi, considero indispensável a leitura destes volumes por quantos se interessem, quer pela época, quer pelo tema proposto.

2 comentários:

Anónimo disse...

Com os putos alemães, bem criados no nacional-socialismo, coradinhos e louros, com fisicos à maneira e certamente bem artilhados, é claro que as raparigas francesas chamavam-lhes um figo, e muitos rapazes e senhores também, e os putos, que não eram esquisitos, apesar da moral de Hitler, amanhavam-se o melhor que podiam e sabiam. Já Rohm lhes ensinara muita coisa antes de ser executado e as SA eram uma grande escola da vida.

Anónimo disse...

É evidente que os soldadinhos alemães queriam aproveitar a situação, fora do controlado solo alemão, para se divertirem à grande. De resto, a Alemanha tinha uma tradição homossexual que não vinha só das SA, não esquecer que nos anos 20 a Alemanha (especialmente Berlim, Hamburgo e Munique) tinha sido a capital da homossexualidade masculina na Europa. E também da feminina, produzindo grandes lésbicas, como a actriz Marlène Dietrich, que de vez em quando também ia para a cama com homens, quer para variar, quer para manter uma reputação de "equidistância".

Por isso, os soldadinhos alemães foram tão bem recebidos em França, quase como um brinquedo ou uma fantasia sexual, pelo menos nos primeiros temppos, porque depois as coisas mudaram com a Resistência a atacar os ditos e com os bombardeamentos dos chamados Aliados.

Tivesse Hitler aceite a homossexualidade e desistido dessas tretas das diferenças de raças e dos homens superiores e teria sido outro o destino do nazismo.