sexta-feira, 20 de novembro de 2009

UNIÃO EUROPEIA


Finalmente, a União Europeia vai ter um presidente não rotativo: Herman van Rompuy, até agora primeiro-ministro belga. Foi eleito pelos seus pares na expectativa de não perturbar o funcionamento (ou não funcionamento) da União nos moldes que satisfaçam os principais países que a constituem. Figura praticamente desconhecida na cena internacional, escolhido, ao que parece por pressão da Alemanha, espera-se dele um mandato apagado, um homem encarregado de gerir o dia-a-dia mais do que um político capaz de assegurar a relação da Europa nos seus contactos com as grandes (ou pequenas) potências.

A eleição de van Rompuy teve pelo menos um mérito: impedir que fosse designado para o lugar um candidato sinistro, Tony Blair, criminoso de guerra e talvez mais, que se posicionara na grelha de partida. Por outro lado, sempre seria desejo dos maiores países da União que o escolhido viesse de um pequeno país, para não perturbar os equilíbrios indispensáveis nesta nau que é a "Europa", navegando em mar de procela.

A escolha de Catherine Ashton para suceder a Javier Solana no novo cargo de chefe da política externa é mais surpreendente; impunham as regras do politicamente correcto que o cargo fosse para uma mulher (a política das quotas) mas não se compreende a escolha de uma britânica e ainda mais desconhecida do que o próprio van Rompuy. Os ingleses, que pretendiam Blair na presidência, forçaram a obtenção do "segundo" cargo. Mas o Reino Unido não faz verdadeiramente parte da Europa: nas grandes coisas (como toda a sua política) ou em coisas menores: não aderiu ao euro, não aderiu a Schengen, conduz-se pela esquerda, usa graus Farenheit e milhas, etc., etc. Um país como este não devia fazer parte da União Europeia, como aliás pensava o general De Gaulle.

Aguardemos como as coisas se vão passar e se a figura apagada do novo presidente do Conselho Europeu não nos reservará algumas surpresas. Realmente não acredito mas palavra de que gostava!

3 comentários:

Anónimo disse...

Se os chefes políticos e militares que têm promovido conflitos pouco justificados èticamente, fossem todos classificados de "criminosos de guerra",a lista seria quase infinita,e dificilmente caberia no espaço desta caixa. Assim,sem preocupações de ordenação cronológica,alguns expemplos:Xerxes,Alexandre,César,Luis XI,Luis XIV,Filipe II,os chefes árabes que invadiram e conquistaram quase todo o Mediterrâneo e a Europa até Poitiers,Bismarck.Guilherme II,Hirohito,Hitler,e incontáveis outross Desde o dealbar da História os mais fortes(ou assim supostos) tendem a apoderar-se dos mais fracos por razões geo-políticas,económicas,estratégicas.
Só muito recentemente os organismos internacionais,criados com impulso americano,têm conseguido minorar a situação darwiniana anterior. Ninguem se incomoda que o império russo ainda hoje contenha o resultado das conquistas imperialistas-estratégicas dos séculos XVII,XIX,e mesmo XX. Todos criminosos? Numa visão pseudo-ética e pseudo-angelical da história talvez,mas quem sai impoluto dum escrutínio justicialista,inquisitorial,puritano,da história da Humanidade,desde o tempo da pedra lascada até agora? A eliminação do regime do Saddam tinha em vista o fim dum regime potencialmente destabilizador da área,uma irreal implantação da democracia exemplar para a região,reforçar a produção de petróleo,etc. Foi uma guerra estúpidamente mal conduzida politicamente no seu termo,alienou estruturas administrativas,alienou as forças políticas existentes,fomentou um novo foco de terrorismo,etc. Foi um conflito mal conduzido e muito mal sucedido,mas dentro das premissas universais da tentetiva de supremacia política e económica,que tem baseado séculos e séculos de conflitos.Mal sucedido,como o de Xerxes,de Napoleão. Não me consta que no caso do Iraque houvesse,depois da ocupação,caso patente de exterminio de populações e etnias,como aquelas a que o próprio Hussein se dedicava.Classificar assim o Blair de "criminoso de guerra",é aparenremente usar critérios de Exército de Salvação,e de grande "esquecimento" das origens e fins que fizeram o mundo como o conhecemos.

Anónimo disse...

Os dogmatismos raramente são bons conselheiros,vide a política colonial portuguesa 1961-74,comparada com a de Franco ou a de De Gaulle. A frase gaulliana "Je vous ai compris",dirigida aos "pieds noirs",que a tomaram como apoio à continuidade francesa na Argélia,quando se preparava precisamente o contrário,é um bom exemplo de como as políticas se têm de adaptar às circunstâncias,nomeadamente no plano internacional. A posição anti-entrada da Inglaterra no Mercado Comum poderia perfeitamente evoluir na mente do General,homem de princípios,sim,mas tambem homem inteligente. E não esqueceria que,apesar das suas intermináveis tricas com Churchill,foi este que o apoiou nos momentos mais dificeis(até contra Roosevelt)o financiou,e em resumo lhe permitiu que "existisse",politica e militarmente entre 40 e 44. Creio que De Gaulle acabaria por aceitar a inevitável entrada da G.Bretanha na então CEE.
O mito de alguma opinião quanto ao não-europeísmo inglês radica-se,suponho,em carência de visão histórica,senão de visão em geral. As dinastias que "fazem" a Inglaterra,são continentais,e mantêm por gerações as suas raízes e interesses continentais. Os Plantagenetas,que reinam desde meados do século XII até fins do XV,são angevinos puros,são condes de Anjou,duques da Normandia e da Aquitânia,etc,e participam permanentemente em guerras e guerrilhas "continentais",e por vezes passam mais tempo no Continente que nas Ilhas. Quando da crise final dos Stuarts,o parlamento vai buscar para reinar,primeiro um holandês,Guilherme de Orange,e depois os Hannover,eleitores do Sacro Império, que reinam até hoje.E os netos da Raínha Vitória não casaram com a Europa quase toda,e não reinavam na Alemanha e na Rússia,quando o alemão em 1914 resolveu destruir a Europa com a sua megalomania? Muito se poderia acrescentar a tudo isto,mas só quero ainda notar que refiro épocas em que o poder estava em geral efectivamente concentrado nos monarcas. E mesmo que hoje a G.Bretanha se pretendesse isolar da restante Europa (como aliás alguns fanáticos ingleses pretendem) onde está o império,onde a "special relationship" com os E.U.A.,que assisadamente procuram mais o sr. Hu-Jin-Tao,os srs. Medvedev-Putin,ou até o sr. Lula,do que o sr.Brown. A Europa,que na minha opinião escolheu mal figuras indistintas internacionalmente para lugares cimeiros,terá de se fazer,malgré tout, com a Albion,pérfida ou não...

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

PARA O ANÓNIMO DAS 2:53 e 13:20:

Não é naturalmente possível responder aos seus dois longos comentários.

Direi tão somente, referindo-me a Blair, que com Bush (e mais alguns parceiros menores) invadiu o Iraque, que essa acção provocou, entre mortos, feridos, estropiados, alienados, deslocados, mais de um milhão de vítimas, certamente um número de longe mais elevado do que as vítimas de Saddam Hussein, além de ter destruído um país. Tudo isto feito em nome da democracia, como o que estivesse em causa não fosse o petróleo e a instalação de bases ocidentais naquele território.

Invocou-se uma mentira: a existência de armas de destruição em massa. Na circunstância, apareceu suicidado em Harrowdown Hill, o Doutor David Kelly, perito em guerra biológica e inspector da ONU no Iraque, que pusera em causa as afirmações de Blair. Este caso, que nunca foi totalmente esclarecido, foi objecto do livro do deputado britânico Norman Baker, "The Strange Death of David Kelly".

Desde 2003 a vida no Iraque tem sido um inferno, uma permanente guerra civil, e o que existe é um simulacro de democracia. A invasão daquele país fomentou um incremento do fundamentalismo islâmico, com todas as suas consequências. Além do que a democracia, como a entendemos no Ocidente, não é exportável, tanto mais para um país que foi desenhado a régua e esquadro na sequência da queda do Império Otomano e assenta, ou assentava, em várias etnias, religiões, etc.

Para terminar, pergunto-me se a democracia ocidental que se pretende exportar na "ponta das baionetas" será compatível com países de tradições muito distintas. E também se existe uma verdadeira democracia na maioria dos países ocidentais?