quinta-feira, 26 de novembro de 2009

EUGÈNE IONESCO

Nasceu a 26 de Novembro de 1909, faz hoje 100 anos, o dramaturgo franco-romeno Eugène Ionesco. Slatina, na Valáquia, foi a sua terra natal e a França, o seu país de adopção. Foi baptizado Ionescu mas o mundo conhece-o como Ionesco.

Não nos permite o tempo (ou a falta dele) mais do que um breve apontamento biográfico para evocação desta data. Em 1911, a família instalou-se em Paris mas, em 1916, o pai regressou a Bucareste, não voltando a dar notícias. Em 1922, Eugène partiu com a mãe e a irmã para a capital romena, onde encontraram o pai que, sem prevenir a mulher, obtivera o divórcio e voltara a casar e obtivera também a guarda dos filhos. Em 1926, Eugène abandonou o domicílio paterno indo viver para casa de uma tia. Em 1929, após os estudos secundários, ingressa na universidade de Bucareste a fim de se licenciar em francês e começa a sua actividade literária, colaborando em diversas revistas. Em 1936, é professor de francês em várias escolas e, em 1939, volta a Paris para preparar a sua tese “Le Péché et la mort dans la poésie française depuis Baudelaire”. A guerra obriga-o a regressar à Roménia em 1940, ingressando como professor no liceu São Sava. Em 1942, regressa a França, desta vez definitivamente, instalando-se primeiro em Marselha e, em 1945, em Paris.

Em 1950, inicia a sua carreira de dramaturgo com La Cantatrice chauve. Ionesco será acima de tudo um escritor de teatro, embora tenha cultivado também os outros géneros literários. Em 1951, surge La Leçon e, em 1952, Les Chaises. Estas três peças entraram no repertório teatral mundial e aí permanecem. Aliás, as duas primeiras subiram ao palco do Théâtre de la Huchette, em Paris, em 1957, continuando até hoje em cena. Ionesco escreverá cerca de 30 peças, de que destacaremos ainda Rhinocéros (1960), Le Roi se meurt (1962) e Macbett (1972). Em 1970 foi eleito para a Academia Francesa, tendo recebido ao longo da vida numerosos prémios e distinções, entre as quais a Legião de Honra, em 1984.

Ionesco, que conheceu em Bucareste os seus compatriotas Mircea Eliade e Emil Cioran, com quem manteve uma amizade até ao fim da vida, é um dos mais famosos autores do chamado teatro do absurdo. Morreu em Paris, em 28 de Março de 1994, sendo sepultado no cemitério de Montparnasse.

A sua primeira biografia, da autoria de Gilles Plazy, foi editada em 1994. Alexandra Laignel-Lavastine publicou em 2002 um bem documentado volume de 550 páginas intitulado Cioran, Eliade, Ionesco: L’oubli du fascisme, sobre as ideias políticas dos três grandes escritores. Nele é referida a permanência de Mircea Eliade em Portugal, como adido de imprensa, de 1940 a 1945, e a sua admiração por Salazar, sobre o qual publicou um livro em Bucareste em 1942: Salazar si Revolutia in Portugalia, Editura Gorjan (Salazar e a Revolução em Portugal). E, em 1943, a Livraria Clássica Editora publicou o seu ensaio Os Romenos, Latinos do Oriente.

Não sendo propriamente um adepto do marechal Antonescu e da Garde de Fer, Ionesco jamais revelou as “ligações perigosas” dos seus amigos Cioran e Eliade, num fraternal pacto de silêncio. Na verdade, todos mantiveram as melhores relações com os intelectuais franceses e europeus e americanos, muitos dos quais certamente não ignoravam o seu pensamento, que verdadeiramente nunca enjeitaram até morrer. Sendo um itinerário da vida dos três homens e das suas convicções e reconversões, poderá também inferir-se do livro de Alexandra Laignel-Lavastine que, como afirmou Ortega y Gasset, o homem nunca é ele sozinho mas sempre ele e a sua circunstância.





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