sábado, 9 de maio de 2009

O ÓPIO DO POVO

Karl Marx e Friedrich Engels no chamado Marx-Engels Forum de Berlim, aliás um jardim entre o rio Spree e a Fernsehturm (a famosa Torre da Televisão)




Foi recentemente publicado um pequeno livro, sob a direcção de Alain Houziaux, com o título La religion est-elle encore l’opium du peuple?, em que participam Marcel Gauchet, Olivier Roy e Paul Thibaud, todos especialistas na matéria.


Recorrendo à célebre fórmula de Karl Marx, na sua Introdução à Crítica da filosofia do direito de Hegel, Houziaux interroga-se se a religião conduzirá a um alheamento em relação aos problemas deste mundo ou se, pelo contrário, serão os crentes os primeiros a empenhar-se na resolução dos problemas que afligem o homem. Será a religião uma droga, como pretende Marx, ou antes um estímulo para a intervenção na vida pública? Segundo Max Weber, teríamos de considerar as religiões de tipo místico, que pouco se preocupam com este mundo, e as de tipo ascético, que tentam uma forma de domínio sobre a vida terrena. E, ainda segundo Weber, distinguiríamos os “extra-mundanos”, que vivem em contemplação, totalmente fora do mundo, e os “intra-mundanos”, que a tudo renunciam por uma dedicação absoluta à humanidade.


A partir daqui desenvolve-se um interessante debate sobre a matéria, quer quanto à pertinência da afirmação de Marx, quer sobre as semelhanças do fundamentalismo cristão e do integrismo islâmico, quer no que respeita à crise com que o político e o religioso estão actualmente confrontados. E discute-se, também, qual a importância da consciência religiosa para a democracia do futuro ou, diríamos nós, para o futuro da democracia.


Escrevia Flaubert que quando “les dieux ne sont plus, les hommes se retrouvent seuls”. Nos tempos sombrios em que vivemos, em que todas as certezas se desmoronam, haverá ainda lugar para as religiões (monoteístas) presas aos ditames do Livro, que na sua luta contra o laicismo, procuram, para citar Gilles Kepel, a “vingança de Deus”? Ou Marx teria razão?


O pequeno livro publicado por Les Éditions de l’Atelier fornece algumas pistas sobre um tema tão actual quanto inesgotável.

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