O ÚLTIMO ENCONTRO
Acabei de reler ontem “The Last Encounter”, de Robin Maugham, acerca do qual escrevi aqui, há alguns dias, a propósito do filme “Khartoum”, de Basil Dearden.
O livro descreve as últimas semanas do cerco da cidade de Khartoum, assediada pelo Mahdi, e utiliza as palavras que teriam sido escritas pelo próprio general Charles Gordon (Gordon Pasha ou Gordon Chinês), que também procede, através desse imaginado diário, a uma retrospectiva da sua vida.
Robert Cecil Romer Maugham, 2º Visconde Maugham (1916-1981), foi um militar e importante escritor britânico, embora não tivesse alcançado a fama universal de seu tio Somerset Maugham.
A sua obra é vasta, e foi muito apreciada no seu tempo, tendo depois caído progressivamente num relativo esquecimento.
O nome de Robin Maugham é hoje especialmente recordado pelo seu primeiro livro, “The Servant” (1948), que Joseph Losey transportou para o cinema, num filme (1963) que ficou famoso devido à extraordinária interpretação de Dirk Bogarde.
Mas outros livros de Maugham (entre os cerca de 50 romances e peças de teatro que escreveu) tiveram muito êxito, como “The Wrong People”, “The Slaves of Timbuktu” ou “Enemy”.
Considero “The Last Encounter” uma obra notável, não inferior a “The Servant”. Infelizmente, não conheço os outros livros de Robin Maugham.
Sucede que “The Last Encounter” (1972) e o filme “Khartoum” (1966) abordam o mesmo tema, embora o livro seja naturalmente mais desenvolvido do que o filme. Normalmente, um livro precede um filme, mas neste caso a situação é inversa. Certamente, Robert Ardrey, que escreveu o argumento do filme, teve prévio conhecimento do trabalho de Maugham. Aliás, já em 1962, conforme investiguei, o próprio Maugham apresentara na BBC uma peça radiofónica, “The Last Hero”, sobre a vida do general Gordon. Portanto, o dramaturgo Ardrey devia ter mencionado no filme que o seu argumento se baseara no trabalho de Robin Maugham, mas isso não aconteceu. Não encontrei, nas minhas pesquisas, qualquer ligação factual entre Robert Ardrey e Robin Maugham. Não teria existido sequer alguma mútua colaboração? Ignoro!
Se Gordon Pasha é o “último herói”, o “último encontro” é o que o general teve, no Palácio do Governo, horas antes da queda de Khartoum, com William Warren, um garoto vadio que recolhera anos atrás no “orfanato” que criara em Inglaterra, que era agora um soldado de dezassete anos e que atravessara perigosamente as linhas do Mahdi para lhe entregar uma mensagem do major Kitchener. As últimas horas no Palácio revelam o mútuo encantamento do general e do rapaz, a sedução que o jovem provoca no velho militar. Gordon, que toda a vida mortificou os sentidos por convicção religiosa, está à beira da transgressão, que o jovem ansiosamente aguarda. Mas, no último momento, o general resiste à tentação da carne. O rapaz, já experimentado nas artes do amor proibido, quer permanecer com ele e com ele morrer, se necessário. Porém, Gordon exige-lhe que regresse à guarnição e que destrua o diário que escrevera nas últimas semanas e que acabara de lhe confiar.
O que o jovem sedutor e seduzido não fará!
Entretanto, as tropas do Mahdi cercam o Palácio e Charles Gordon é morto pelos assaltantes, que contrariam as ordens do seu chefe.

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