Fernando Medina: "Admito que a questão da ilegalização do Chega venha a colocar-se"
Fernando Medina acabou de admitir, em entrevista ao "Observador" a possibilidade de ilegalização do Chega. Curioso que ainda ninguém se tenha lembrado de pedir a ilegalização de Medina pela descaracterização geral de Lisboa, de sua responsabilidade, a fim de transformá-la numa cidade para turistas, objectivo que nem colhe, não só pela persistência da actual pandemia mas mesmo antes dela, já que não é um destino sistemático de visita de estrangeiros, como Paris, a Itália, a Grécia, o Egipto, a Turquia, etc. Quem vem uma vez raramente regressa, salvo casos especiais.
Vem isto a propósito do clamor que persiste em torno do acordo dos Açores entre o Chega e o PSD. Insiste-se em proclamar que o Chega é um partido fascista, uma classificação perigosa, já que o abuso da palavra leva à banalização da mesma. Recordo-me que, durante o PREC, o PCP e a extrema-esquerda rotulavam de fascistas todos quantos não comungassem das suas opiniões. Mudou-se alguma coisa nos últimos 40 anos. Não me parece que o Chega seja um partido fascista mas antes um partido populista da extrema-direita ou, para ser mais preciso e usando a classificação do grande especialista da matéria, Riccardo Marchi , um partido da direita radical. Verdadeiramente, só houve um partido fascista, o partido de Mussolini, pois o próprio partido de Adolf Hitler era um partido nazi, de características próprias, e que só se aproximou dos italianos, com reciprocidade, durante a Segunda Guerra Mundial. O que tem havido é regimes autoritários e totalitários de diferentes contornos, conforma os países em que têm existido. Aliás, o partido fascista e o partido nazi eram partidos socialistas, como os frequentadores do FB deveriam saber, mas porventura não sabem, O Chega é um partido imoderadamente capitalista, como explicarei mais abaixo.
São muitos os que rasgam as vestes perante o acordo (açoreano) de Rui Rio com o Chega local sem que no mesmo esteja incluído qualquer compromisso a nível nacional e que os compromissos locais são politicamente inócuos, salvo talvez o caso do "rendimento social de inserção", e que não virão provavelmente a ser aplicados. Houve até um "manifesto" de gente ligada ao PSD a manifestar a sua oposição a qualquer tipo de entendimento nos Açores, considerado-o como um perder de virgindade democrática. Estou convencido de que esse "manifesto" foi elaborado mais a pensar em atacar Rui Rio do que a condenar o Chega.
É certo que as propostas fracturantes apresentadas por André Ventura chocam muita gente, mas é esse o principal objectivo dele. Nem ele pensa que alguma vez pudessem ser aprovadas, a menos que a maioria dos deputados ao Parlamento tivesse endoidecido. O que Ventura pretende é chamar a atenção sobre si mesmo para aumentar o número de votantes, mostrando a coragem de formular projectos que colidem com a ordem estabelecida e o mais elementar bom senso. O que é mais preocupante no Chega não são estas manobras de diversão como a ablação dos ovários, a castração química, a "reeducação" dos ciganos ou a vigilância policial dos muçulmanos. Espero e desejo que nunca cheguemos aí. O que entendo mais preocupante é o que se oculta por trás das propostas fracturantes do Chega, de que só se vai vendo, por enquanto, um IRS generalizado de 15%. O que o Chega verdadeiramente pretende, pela redução das receitas do Estado, é a destruição do estado social e a liberalização generalizada da economia, a abolição das leis do trabalho a precarização do emprego, a redução ao mínimo do serviço nacional de saúde e da escola pública, a eliminação da segurança social. A política neoliberal de Passos Coelho, e que este não conseguiu prosseguir, tem em André Ventura um entusiástico continuador. Discípulos já distantes de Thatcher e de Reagan, não se apercebem que a trajectória de Hayek ou de Friedmann está a fraquejar. Nesta época convulsiva de epidemia planetária podem ser ensaiados vários esquemas mas não vislumbro o triunfo do Estado ultra-liberal. É por isso que combater o Chega no plano jurídico, a propósito da inconstitucionalidade do seu programa, aliás flutuante, não parece a melhor maneira de travar as suas ambições. Mas ainda temos muita gente agarrada às fórmulas e incapaz de perscrutar os conteúdos.
Ao menos, a Iniciativa Liberal diz ao que vem. Por isso, tem certamente menos votos.
Para terminar, convém também lembrar que partidos homólogos do Chega têm existência legal por essa Europa, de Leste a Oeste, revestindo modalidades diversas. Que me recorde, apenas Aurora Dourada na Grécia foi judicialmente proibido, pela prática comprovada do cometimento de crimes.
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