sábado, 22 de setembro de 2018

MAPPLETHORPE REVISITADO




A exposição inaugurada no passado dia 20, na Fundação de Serralves, no seu Museu de Arte Contemporânea, sobre a obra do famoso fotógrafo Robert Mapplethorpe, e comissariada por João Ribas, director do Museu, tornou-se no centro de uma polémica, devido ao carácter demasiado "ousado" de algumas fotos captadas pelo notável artista. 

Transcrevo, do site da Fundação, a notícia sobre a exposição:


ROBERT MAPPLETHORPE: PICTURES
de 20 SET 2018 a 06 JAN 2019
 
 
Robert Mapplethorpe (Nova Iorque, 1946–1989, Boston) criou algumas das imagens mais icónicas, polémicas e surpreendentes da fotografia contemporânea. Robert Mapplethorpe: Pictures, exposição organizada em estreita colaboração com a Robert Mapplethorpe Foundation, reúne 159 obras de toda a sua carreira, desde as primeiras colagens e polaroides até às fotografias de flores, nus, retratos e imagens de cariz sexual que fizeram de Mapplethorpe um dos fotógrafos mais notáveis do século XX.

Antes de escolher a fotografia como meio, Mapplethorpe estudou pintura e escultura em Nova Iorque e foi influenciado pela arte de Joseph Cornell e Marcel Duchamp, mas também pela fotografia do século XIX de Julia Margaret Cameron e outros, de que se tornaria um ávido colecionador. As suas primeiras colagens, assemblagens e fotografias (estas inicialmente realizadas com uma câmara Polaroid) revelam o interesse crescente na sexualidade e na composição — ângulos retos, formas geométricas de luz — que viria a definir a sua obra matura. Trabalhando a partir de 1975 com uma câmara Hasselblad totalmente manual, cujo visor enquadrava o mundo num quadrado, Mapplethorpe começa a recorrer a exposições longas e composições metodicamente dispostas e ordenadas no seu estúdio para criar retratos, nus e naturezas-mortas, cujos equilíbrio, ordem e conteúdo redefiniram a fotografia como forma artística. 

Mapplethorpe tratou todos os seus temas com igual atenção e precisão, desde órgãos sexuais ou arranjos de flores até aos retratos de amigos, amantes, celebridades e colaboradores, transformando a fotografia numa performance controlada entre o artista e o seu sujeito. Controverso e classicista, o interesse pioneiro de Mapplethorpe por sexo, género e raça reflete-se em imagens de corpos, prazer e desejo homossexuais e não heteronormativo e em fotografias suspensas na tensão — como acontece na totalidade da obra do artista — entre a intensidade emotiva e política dos seus conteúdos e a clareza da sua composição. 

Todas as obras de arte expostas são propriedade da Robert Mapplethorpe Foundation, Nova Iorque.

Exposição organizada pelo Museu de Arte Contemporânea de Serralves e comissariada por João Ribas, diretor do Museu, com coordenação de Paula Fernandes.

AVISO: Algumas obras da exposição contêm imagens de natureza explicitamente sexual. A admissão de menores de 18 anos está condicionada à companhia de um adulto.
 
 * * * * *
 
 
Acontece que a Administração da Fundação resolveu entretanto retirar algumas das fotografias expostas e reservar o acesso a outras apenas a maiores de 18 anos, atitude que levou à demissão do director do Museu. Esta atitude censória revela os preconceitos ainda existentes no espírito de muitas pessoas que, pelas funções que ocupam, deveriam cuidar mais da Arte e menos da Moral. Talvez importasse publicar outra vez um "Aviso por causa da moral", como fez em 1923 Fernando Pessoa, a propósito das Canções de António Botto. Há quase cem anos!


Sobre a grande exposição de Mapplethorpe no Grand Palais, de Paris, em 2014, publicámos aqui este post. Já lhe tínhamos feito uma referência também aqui
 
 
 
Lamenta-se que em Portugal se esteja a acrescentar à polícia do corpo a não menos perigosa polícia do espírito. Parafraseando José Régio, temos a obrigação de dizer que "não vamos por aí".

 

3 comentários:

Anónimo disse...

Iconograficamente muito bem,e bem ideologicamente. Est modus in rebus,como diziam os nossos antepassados. Se for ao Capodimonte em Nápoles,ainda tem o célebre Gabinetto Segreto,onde os Bourbons escondiam as peças de erotismo (bem mais suave que algum Maplethorpe),e que até estiveram para ser destruidas por revolucionários indignados.Sim,tambem há esquerdas puritanas... E ainda hoje o acesso ao ingénuo Gabinetto é interdito aos menores de 14 anos não acompanhados,muitos dos quais já devem ter visto na Net tudo e mais alguma coisa. Não me repugna que haja pelo menos uma advertência à entrada de determinadas salas,mas não a interdição absoluta. Então o limite dos 18 é ridículo. Copiaria os napolitanos,gente sábia de há muitos séculos,e fixaria os 14.

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

PARA O ANÓNIMO DAS 13.01:

O Gabinete Secreto é no Museu Arqueológico de Nápoles e não no Museu de Capodimonte. Visitei-o há dois anos e não me recordo de advertência sobre o conteúdo, mas é possível que exista.

Sobre o Museu (e respectivo Gabinete Secreto) publiquei este post: http://domedioorienteeafins.blogspot.com/2016/05/o-museu-arqueologico-de-napoles.html

Anónimo disse...

Pois. Sucede que a iniciativa dum museu que albergasse entre outras as fantásticas colecções dos Farnese,que se encontravam em Roma e foram transferidas para Nápoles na acessão ao trono das Duas Sicilias por Carlos III,cuja mãe,como bem sabe o autor do blog,a quem nada escapa,era Farnese,se concretizou na encomenda ao arquitecto Giovanni Antonio Medrano de um grande "Museo Farnesino", a construir onde, em Capodimonte. Capodimonte é pois o local original do projecto museológico arqueológico de que Nápoles justamente se orgulha. E este modesto comentador anónimo é por vezes tradicionalista...