quarta-feira, 15 de agosto de 2018
MARINE LE PEN E A WEBSUMMIT
Quando foi anunciada a lista de oradores da próxima Websummit, a realizar em Lisboa em Novembro deste ano, verificou-se que da mesma constava o nome de Marine Le Pen, líder do Front National, agora designado como Rassemblement National.
Esta notícia provocou grande agitação em alguns meios políticos, que pretenderam que o Governo obrigasse a organização do senhor Paddy Cosgrave a retirar o convite, já que essa reunião é apoiada pelo Governo português e pela Câmara Municipal de Lisboa (para deslumbramento do senhor Medina), logo com dinheiros públicos.
Parece que o nome da senhora Le Pen desapareceu da lista dos convidados, para posteriormente reaparecer. Alguns partidos políticos e personalidades rasgaram então as vestes, exigindo o banimento da líder daquele partido (preferem que se lhes chame movimento) francês, que obteve os votos de um terço dos cidadãos gauleses nas últimas eleições presidenciais, e poderia ser mesmo hoje a inquilina do Eliseu não fora o surgimento de um fenómeno evanescente que dá pelo nome de Emmanuel Macron.
É curioso constatar que tendo as reacções em Portugal sido fundamentalmente provenientes da área da Esquerda, esta se tenha esquecido de que a parte substancial do eleitorado da senhora Le Pen é proveniente de muitos franceses que antes votavam no PSF e no PCF e eram filiados da CGT. Sinais dos tempos.
Pode não se concordar com muitas das ideias e das propostas do Rassemblement National, pode não se gostar pessoalmente de Marine Le Pen, mas a sua voz exprime as convicções de mais de dez milhões de cidadãos. Além disso, a Websummit não é um comício político propriamente dito, ainda que mesmo as intervenções ditas técnicas sejam política e ideologicamente condicionadas.
Por outro lado, até seria interessante ouvir o que uma figura tutelar da chamada extrema-direita francesa teria para dizer numa conferência do tipo da Websummit, para poder contestar directamente a sua intervenção, se fosse caso disso. Parece que se pretende calar as bocas antes de elas se abrirem, o que significa não só o policiamento da livre expressão como a exigência de um pensamento único alinhado no politicamente correcto. Sugere também que existe o receio de ouvir coisas que possam suscitar a adesão dos auditórios, mas julgadas inconvenientes pelos guardiães da ortodoxia estabelecida.
Surge, agora, a informação que Cosgrave cancelou definitivamente (?) o convite endereçado a Marine Le Pen para se deslocar à cimeira. Não só esta é uma atitude de extrema deselegância (o que deve ser indiferente a uma pessoa com os interesses de Paddy Cosgrave) como este lamentável folhetim assume proporções de uma opera buffa de péssimo libretto, tanto mais que o Governo português não chegou ao ridículo de proibir (era o que mais faltava) a vinda de Le Pen a Portugal.
Este caso serviu apenas para facultar um acréscimo de popularidade a Marine Le Pen, com a certeza de que se podem combater as ideias com argumentos e não tapando a boca dos adversários.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Sintomático. O caso Robles desmascarou a ala agressivamente hipócrita, no BE. Com esta atitude de censura prévia à Madame Le Pen desmascarou-se a caricata ala das "flores de estufa, no BE.
Aliás políticos, na anterior edição, os do poder (PM A.Costa e PRdCML Medina).
Monocórdico mas sintomático.
Efectivamente, mais valia estarem quietos, do que promoverem esta senhora a mártir ...
Chamo, contudo, a atenção pior do que esta cena, é persistirmos em não olharmos e entendermos as causas que estão por detrás da votação nesta senhora e afins ...
Globalização pode ser óptima na geração de dividendos e lucros, mas não coloca o pão na mesa dos pobres, no facto destes se sentirem atirados para a margem sem emprego, sem respeitarem o seu saber, etc.
Tudo isto feito por malta, de esquerda e direita, que não conseguiriam viver com o salário mínimo nacional. Pobre, contudo, consegue ... e uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma, costuma dar desastre.
Enviar um comentário