sexta-feira, 29 de junho de 2018
GENET EM EXPOSIÇÃO
Uma exposição sobre Jean Genet (1910-1986) no Fort Saint-Jean, em Marselha - Jean Genet et la Méditerranée - organizada pelo Musée des Civilisations de l'Europe et de la Méditerranée (MuCEM) e pelo Institut Mémoires de l’édition contemporaine (IMEC), em 2016, está na origem do recém-publicado livro Apparitions de Jean Genet, de Emmanuelle Lambert.
Segundo os organizadores, « L’exposition cherche à faire comprendre comment la Méditerranée, avec ses appels au voyage et à la liberté, avec la diversité de ses cultures, avec les rencontres qu’elle a suscitées à plusieurs moments de sa vie… constitue un pôle magnétique du parcours littéraire de Jean Genet, auquel il revient obstinément. Elle a pour ambition de montrer comment la Méditerranée représente pour lui une « échappée belle ». Articulée autour de quatre thèmes dont chacun fait se croiser un moment de sa vie, une de ses oeuvres et un territoire méditerranéen (Le Journal du voleur – L’Espagne ; Les Paravents – L’Algérie ; Un captif amoureux – La Palestine ; la fin de sa vie au Maroc), l’exposition rassemble également des oeuvres qui témoignent de la sensibilité de Jean Genet, de ses rencontres avec les artistes plasticiens (notamment Alberto Giacometti) et avec le monde des arts du spectacle (évocation de la figure du Funambule).
A exposição foi comissariada por Albert Dichy, director literário do IMEC e um dos grandes especialistas da vida e obra de Genet e por Emmanuelle Lambert, escritora, organizadora do catálogo (que à época não consegui adquirir) e autora do presente livro.
Num récit de 110 páginas, Lambert conta a sua paixão pela obra deste "escritor maldito" do século passado e o convite que lhe endereçaram para participar na aventura que foi a obtenção da vasta documentação, muitas das peças inéditas, que permitiu organizar um itinerário de Genet, do seu nascimento à sua morte. As consultas dos arquivos e dos ficheiros, nomeadamente instituições sociais, polícia, exército, etc., foi tarefa complexa mas era certamente indispensável, ainda que muita informação constasse já de duas das obras fundamentais sobre o sulfuroso escritor: Jean Genet - Essai de chronologie, de Albert Dichy & Pascal Fouché e Jean Genet, de Edmund White.
Analisando as cartas da mãe de Jean Genet dirigidas ao director da Assistência, Lambert recolhe um curioso pormenor: na terceira e última carta da mãe, Camille Genet, esta pede notícias de Jean "et de son frère Frédéric", um irmão (?) que não consta de quaisquer ficheiros da administração. Talvez essa dúvida sobre a existência de um outro filho tivesse impedido a consulta do dossier Genet muito para lá dos prazos legais estabelecidos. (p. 29)
O livro de Lambert está semeado de pequenas curiosidades obtidas no seu trabalho de pesquisa do material para a exposição. Mas, no geral, todos conhecemos já o percurso de Genet, até nos mais ínfimos pormenores, graças às investigações prosseguidas após a sua morte.
A obra em apreço vem juntar-se à imensa bibliografia passiva de Jean Genet. Desde o livro de Sartre, Saint Genet, Comédien et Martyr, até hoje, a vida e a obra de Genet têm sido dissecadas, mas surgem sempre novos factos, novas interpretações, como se o homem sepultado em Larache permanentemente nos desafie a compreendê-lo nas contradições de que foi, e é, o protagonista.
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