segunda-feira, 14 de maio de 2018

MANIFESTO PARA MODIFICAR O CORÃO





O nº 2792 de "L'Obs" desta semana (10 a 16 de Maio), insere um dossier a propósito do "Manifeste contre le nouvel antisémitisme", publicado em "Le Parisien" e subscrito por cerca de 300 personalidades, entre as quais o antigo presidente da República, Nicolas Sarkozy (a quem carece autoridade moral para subscrever seja o que for), o antigo primeiro-ministro Manuel Valls (de quem tudo se espera), o inevitável Bernard-Henri Lévy, o antigo presidente da Câmara Municipal de Paris, Bertrand Delanoë, etc., etc.

Publicamos abaixo a lista dos signatários.

La liste des signataires

Eliette ABECASSIS ; Richard ABITBOL ; Ruth ABOULKHEIR ; André ABOULKHEIR ; Laure ADLER ; Paul AIDANE ; Waleed AL-HUSSEINI ; Mohamed ALI KACIM ; Michèle ANAHORY ; François ARDEVEN ; Pierre ARDITI ; Janine ATLOUNIAN ; Muriel ATTAL ; Charles AZNAVOUR ; Elisabeth BADINTER ; Patrick BANTMAN ; Laurence BANTMAN ; Adrien BARROT ; Stephane BARSACQ ; Maurice BARTELEMY ; Stéphane BEAUDET ; Patrick BEAUDOUIN ; Annette BECKER ; Florence BEN SADOUN ; Georges BENSOUSSAN ; Gérard BENSUSSAN ; Alain BENTOLILA ; André BERCOFF ; Aurore BERGE ; François BERLEAND ; Françoise BERNARD ; Florence BERTHOUD ; Naem BESTANDJI ; Muriel BEYER ; Jean BIRENBAUM ; Claude BIRMAN ; Joelle BLUMBERG ; Marion BLUMEN ; Lise BOËLL ; Jeannette BOUGRAB ; Céline BOULAY-ESPERONNIER ; Michel BOULEAU ; Laurent BOUVET ; Lise BOUVET ; Fatiha BOYER ; Anne BRANDY ; Caroline BRAY-GOYON ; Zabou BREITMAN ; Claire BRIERE-BLANCHET ; Jean-Paul BRIGHELLI ; Pascal BRUCKNER ; Laura BRUHL ; Daniel BRUN ; Carla BRUNI ; François CAHEN ; Séverine CAMUS ; Jean-Claude CASANOVA ; Bernard CAZENEUVE ; Hassen CHALGHOUMI ; Catherine CHALIER ; Elsa CHAUDUN ; Evelyne CHAUVET ; Ilana CICUREL ; Eric CIOTTI ; Gilles CLAVREUL ; Brigitte-Fanny COHEN ; Marc COHEN ; Jonathan COHEN ; Danielle COHEN-LEVINAS ; Antoine COMPAGNON ; Jacqueline COSTA-LASCOUX ; Brice COUTURIER ; Fabrice D’ALMEIDA ; Eliane DAGANE ; Gérard DARMON ; Marielle DAVID ; William DE CARVALHO ; Elisabeth DE FONTENAY ; Xavier DE GAULLE ; Bernard DE LA VILLARDIERE ; Bertrand DELANOË ; Richard DELL’AGNOLA ; Chantal DELSOL ; Gérard DEPARDIEU ; Guillaume DERVIEUX ; Patrick DESBOIS PERE ; Alexandre DEVECCHIO ; Bouna DIAKHABY ; Marie-Laure DIMON ; Joseph DORE MGR ; Daniel DRAÏ ; Michel DRUCKER ; Richard DUCOUSSET ; Stéphane DUGOWSON ; Martine DUGOWSON ; Frédéric DUMOULIN ; David DUQUESNE ; Frédéric ENCEL ; Raphaël ENTHOVEN ; Francis ESMENARD ; Christian ESTROSI ; Elise FAGJELES ; Roger FAJNZYLBERG ; Luc FERRY ; Alain FINKIELKRAUT ; Pascal FIORETTO ; Marc-Olivier FOGIEL ; Renée FREGOSI ; Michel GAD WOLKOWICZ ; Aliou GASSAMAL ; Lucile GELLMAN ; Jasmine GETZ ; Sammy GHOZLAN ; Jean GLAVANY ; Bernard GOLSE ; Roland GORI ; Marine GOZLAN ; Olivia GREGOIRE ; Mohamed GUERROUMI ; Ghislaine GUERRY ; Olivier GUEZ ; Lydia GUIROUS ; Talila GUTEVILLE ; Patrick GUYOMARD ; Noémie HALIOUA ; Françoise HARDY ; Frédéric HAZIZA ; Jean-Luc HEES ; Serge HEFEZ ; François HEILBRONN ; Marie IBN ARABI-BLONDEL ; Aliza JOBES ; Arthur JOFFE ; Michel JONASZ ; Christine JORDIS ; Dany JUCAUD ; Liliane KANDEL KARIM ; David KHAYAT ; Catherine KINTZLER ; Alain KLEINMANN ; Marc KNOBEL ; Haïm KORSIA ; Julia KRISTEVA ; Rivon KRYGIER ; Estelle KULICH ; Philippe LABRO ; Alexandra LAIGNEL-LAVASTINE ; Lilianne LAMANTOWICZ ; Jack LANG ; Joseph LAROCHE ; Damien LE GUAY ; Daniel LECONTE ; Barbara LEFEBVRE ; Yoann LEMAIRE ; Pierre LESCURE ; Bernard-Henri LEVY ; Maurice LEVY ; Stéphane LEVY ; Michèle LEVY-SOUSSAN ; Marceline LORIDAN-IVENS ; Christine LOTERMAN ; Patrick LOTERMAN ; Enrico MACIAS ; Richard MALKA ; Wladi MAMANE ; Yves MAMOU ; Juliette MEADEL ; Sylvie MEHAUDEL ; Yael MELLUL ; Françoise-Anne MENAGER ; Daniel MESGUICH ; Richard METZ ; Habib MEYER ; Radu MIHAILEANU ; Yann MOIX ; Antoine MOLLERON ; Thibault MOREAU ; Jean-Jacques MOSCOVITZ ; Slim MOUSSA ; Laurent MUNNICH ; Lionel NACCACHE ; Marc NACHT ; Aldo NAOURI ; Xavier NIEL ; Sophie NIZARD ; Anne-Sophie NOGARET ; Karina OBADIA ; Jean-Pierre OBIN ; Edith OCHS ; Christine ORBAN ; Olivier ORBAN ; Marc-Alain OUAKNIN ; Yann PADOVA ; Brigitte PASZT ; Dominique PERBEN ; André PERRIN ; Serge PERROT ; Laurence PICARD ; Céline PINA ; François PINAULT ; Jean-Robert PITTE ; Nidra POLLER ; Richard PRASQUIER ; Michael PRAZAN ; Nadège PULJAK ; Jean-François RABAIN ; Marianne RABAIN-LEBOVICI ; Ruben RABINOVITCH ; Jean-Pierre RAFFARIN ; Christiane RANCE ; Jean-Jacques RASSIAL ; Renaud RENAUD ; Jean-Louis REPELSKI ; Solange REPLESKI ; Ivan RIOUFOL ; Jacob ROGOZINSKI ; Olivier ROLIN ; Marie-Helène ROUTISSEAU ; Catherine ROZENBERG ; Philippe RUSZNIEWSKI ; Boualem SANSAL ; Georges-Elia SARFAT ; Nicolas SARKOZY ; Josiane SBERRO ; Jean-Paul SCARPITTA ; Eric-Emmanuel SCHMITT ; Dominique SCHNAPPER ; André SENIK ; Joann SFAR ; Vadim SHER ; Stéphane SIMON ; Patricia SITRUK ; Jean-François SOLAL ; Paule STEINER ; Jean-Benjamin STORA ; Francis SZPINER ; Anne SZULMAJSTER ; Pierre-André TAGUIEFF ; Maud TANACHNIK ; Jacques TARNERO ; Michel TAUBER ; Daniel TECHNIO ; Julien TROKINER ; Cosimo TRONO ; Monette VACQUIN ; Henri VACQUIN ; Philippe VAL ; Caroline VALENTIN ; Manuel VALLS ; Sibyle VEIL ; Jacques VENDROUX ; Natacha VITRAT ; Sabrina VOLCOT-FREEMAN ; Régine WAINTRATER ; Laurent WAUQUIEZ ; Aude WEILL-RAYNAL ; Simone WIENER ; Annette WIEVIORKA ; Jean-Pierre WINTER ; Jacques WROBEL ; André ZAGURY ; Alain ZAKSAS ; Paul ZAWADZKIv Marc ZERBIB ; Céline ZINS ; Jean-Claude ZYLBERSTEIN.

Consideram os subscritores do Manifesto, redigido por Philippe Val, antigo director do "Charlie Hebdo", que o texto do Corão é parcialmente responsável pelo ódio existente em certos muçulmanos e pedem que os versículos "appelant au meurtre et au châtiment des juifs, des chrétiens et des incroyants soient frappés d'obsolescence" pelas autoridades teológicas.

Ao pedirem para que o Corão seja re-escrito, os signatários, que não são todos estúpidos ou ignorantes, agem de má-fé. Mesmo quando invocam que as incoerências da Bíblia foram abolidas pelo Concílio do Vaticano II. Ora o texto da Bíblia, fixado pelo Concílio de Trento, permanece intocável, tendo sido eliminadas, de facto, algumas expressões da liturgia, como a alusão aos "pérfidos judeus".

Sendo a Bíblia e o Corão, para os respectivos crentes, a palavra de Deus, é evidente que nenhuma instância religiosa se atreveria a censurar a Palavra Divina. Com particular relevo para os muçulmanos, já que no islão não existe (nem mesmo nos tempos do Califado) uma "igreja" centralizada com poderes espirituais sobre todos os fiéis, sendo cada um livre de interpretar pessoalmente os textos sagrados.

Aliás, os trágicos acontecimentos verificados nos últimos anos, e cujos protagonistas foram, na sua maioria, indivíduos árabes ou de ascendência árabe, e por isso presumivelmente muçulmanos, não constituem um precedente de confrontação religiosa, ainda que tais atitudes sejam liminarmente condenáveis.

Foi a Europa, durante séculos, palco de perseguições e de guerras intermináveis motivadas por causas religiosas e que levaram a desolação a centenas de milhares de pessoas. Os cristãos europeus atacaram durante séculos judeus e muçulmanos (as Cruzadas, a expulsão da Península Ibérica, etc.) e, mais tarde, depois do Cisma do Ocidente e do advento do Protestantismo, ocorreram sangrentas guerras entre os próprios cristãos, de que é exemplo paradigmático a Guerra dos Trinta Anos (ainda que o factor político se ocultasse amiúde por detrás da máscara religiosa), que só terminou com a Paz de Vestefália.

É curioso que foi principalmente nos países muçulmanos que os judeus procuraram abrigo quando expulsos da Europa. Durante séculos, o anti-semitismo foi especialmente cristão; iniciou-se com Paulo de Tarso (São Paulo), que verberou os judeus nos seus escritos, ainda que ele mesmo, tal como Jesus Cristo e os primeiros cristãos fossem todos judeus, e teria expressão oficial até ao Vaticano II.

A actual vaga de anti-semitismo, que efectivamente existe, é de expressão muçulmana. E tem fundamentalmente a ver com a criação do Estado de Israel, há precisamente 70 anos, em território palestiniano, depois da inconcebível Declaração de Lord Balfour endereçada a Lord Rothschild. Verdadeiramente, o anti-semitismo islâmico é muito mais político do que religioso, é muito mais anti-sionismo do que anti-semitismo, até porque semitas também os árabes o são.

A ideia peregrina de re-escrever o Corão só pode ter aflorado em mentes obcecadas pela rapidez das transformações, numa França "en Marche", pilotada por um jupiteriano deslumbrado com a coroa de louros dos césares, o inimaginável Emmanuel Macron.

O Corão e a Bíblia não se rasuram nem se corrigem. Os seus textos devem ser lidos e interpretados de acordo com o tempo presente. A sua escrita teve lugar numa determinada época, há muitos séculos, face aos desafios desse tempo, e algumas passagens já eram então de carácter mais simbólico do que real. Cabe aos imames, no caso do Corão, esclarecer os muçulmanos do verdadeiro sentido da palavra escrita, já que não existe uma "igreja" islâmica (nem mesmo Al-Azhar) com competência para interpretar os textos. Sendo as religiões monoteístas as religiões de um Livro, que para sempre aprisionou a Palavra Divina, o texto terá de ser entendido no contexto, para não se tornar disfuncional.

Mas deve compreender-se que aquilo que hoje se designa por terrorismo islâmico tem muito mais a ver com circunstâncias políticas e sociais do que propriamente religiosas, até porque os autores dos ataques registados na Europa, embora possam gritar "Allah u'Akbar", pouco ou nada conhecem da religião muçulmana ou das suas escrituras, alguns serão mesmo descrentes.

A Religião tornou-se o novo álibi de uma certa luta política, de uma certa contestação social em que, para os seus autores, os fins justificam os meios.

Pode a França, pode a Europa transformar-se num Estado policial, sujeitar os cidadãos a extraordinárias medidas de segurança, controlar o mais íntimo da vida privada dos seus habitantes, que não logrará obter qualquer êxito. O segredo do sucesso reside numa alteração de políticas a nível nacional e global, mas pela amostra dos últimos dias, o caminho é mais de regressão, isto é, "en marche, en arrière"!


1 comentário:

Abraham Chevrolett disse...

Todos sabemos o que se devia fazer à Tora,à Bíblia e ao Corão !!!
Tão óbvio e necessário, e dando prazer a tantos, que me escuso de escrevê-lo.