Em 1954, presumivelmente (o livro não tem data), Metzner Leone publicou El-Rey D. Sebastião, drama em cinco actos, peça que fora proposta em 1949 ao Conselho de Leitura do Teatro Nacional D. Maria II e por este rejeitada, "considerando-a imprestável para ser representada naquela palco". Nessas circunstâncias, e por entender que a tinha escrito para o público, o autor resolveu editá-la posteriormente, conforme escreve em Nota final.
A obra centra-se na imaginária paixão de D. Sebastião por D. Joana de Castro, filha do 4º conde da Feira (D. Diogo Forjaz Pereira) e dama da rainha D. Catarina e na irresistível vontade do rei de passar a África, para se cobrir de glória. A alusão a D. Joana de Castro foi difundida pelo 9º conde de Sabugosa (António Maria Vasco de Melo Silva César e Meneses) no capítulo "El-Rei D. Sebastião e as Mulheres", do seu livro Donas de Tempos Idos, baseado numa afirmação de Frei Luís de Sousa transmitida pelo visconde da Juromenha. Não merece qualquer credibilidade, conhecendo-se suficientemente a misoginia de D. Sebastião, confirmada por quase todas as fontes históricas. Consideram uns que foi devida a uma castidade excessiva, outros a desinteresse pelas mulheres (vários sustentam mesmo que ele era homossexual) ou até por impossibilidade de manter relações sexuais, devido à sua enfermidade genital desde os onze anos. Quanto à vontade de D. Sebastião de passar a África, essa é indesmentível, fosse por vaidade de vencer o Infiel, por anseio de dilatar a Fé ou por qualquer razão semelhante, e situa-se dentro da verossimilhança histórica, embora na peça o rei declare a D. Joana que quer ir morrer a África, ainda que sem herdeiros, exactamente por não pretender deixar herdeiros, já que eles seriam deficientes por causa da consanguinidade, apontando depois os casos familiares conhecidos.
Embora a urdidura da peça seja medíocre, o autor conhece razoavelmente bem o período que aborda. Contudo, a presença de D. Joana no 1º acto e no 4º acto é insustentável, mesmo ficcionalmente, e a confissão que o rei lhe faz do seu "segredo" é uma contradição relativamente aos próprios propósitos sempre enunciados pelo monarca.
A figura de D. Sebastião será mais tarde tratada em peças de teatro de José Régio e de Natália Correia, que abordaremos oportunamente.
1 comentário:
Dado se manter neste assunto, cá vai a minha Teoria da Conspiração Sebástica:
1º - D. Sebastião desaparece, morto ou prisioneiro.
Contudo, o seu valor no Comércio dos Resgastes é enorme, em ambos os casos, pelo que não é razoável pensar que não tinha sido encontrado algo, por estes mercadores.
2º - Duas linhas convergem para o manter desaparecido:
- Espanha, porque, assim, podia anexar Portugal e todo o seu Império;
- Nobreza Portuguesa, por causa da vergonha de ter sobrevivido ao seu Rei;
Resumindo, só interessava manter uns quantos documentos, mui bem guardados, que permitissem provar o seu desaparecimento, lamentando que os esforços nesse sentido não tivessem sucesso, mas que permitissem anular qualquer pseudo, ou não, Sebastião, para serem usados em mui último caso.
3º - Com a Revolução de 1640:
- Espanha, não tem interesse em manter estes documentos, porque isto a incriminava no encobrimento do destino de D. Sebastião, dado conhece-lo, mas tendo escondido para anexar Portugal, e não cumprir com os Deveres Cristão de o resgatar;
- O tempo passado, tirara algum valor à importância dos mesmos;
- Pior, legitimava os Revoltosos Portugueses de 1640, porque, sendo assim provado, tinham toda a legitimidade na Revolta;
- Além disso, D. Luísa de Gusmão podia ser Rainha, nem que fosse por um dia, e os Gusmãos terem alguém que não foi só Duque, na sua linhagem, sendo, mesmo assim, a existência destes Documentos um empecilho.
Resumindo, toda a gente tinha interesse no desaparecimento de Documentos definitivos e claros, sobre este assunto.
Barriguinha
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