Em 1928, J. Preto Pacheco publicou D. Sebastião - À margem duma polémica, que fora escrito em 1925. Informa o autor que escreveu este livro no ardor da refrega entre António Sérgio e Carlos Malheiro Dias a propósito de o "Desejado". Não tendo encontrado editor, guardou-o numa gaveta, até que um amigo, José Francisco Coelho, sócio-gerente da Imprensa Moderna, Lda se abalançou a publicá-lo, e a quem J. Preto Pacheco (JPP) penhoradamente agradece.
Começa o autor por entender que ambos os polemistas fazem «aproximadamente e confessadamente o mesmo juízo essencial do seu discutido D. Sebastião. De lana caprina são, para o conhecimento da História, os pontos em que discordam. Na que às ideias filosóficas concerne, se as do sr. António Sérgio são, em parte, incompatíveis com o meu modo de pensar, também a pouco clara e fraca defesa que, das suas, o sr. Malheiro Dias deixou escrita, me não satisfaz, - e não vejo, portanto, razões que me obriguem a perfilhar tudo quanto este ilustre escritor, a tal respeito, escreveu.» (p. 16)
Considera JPP que são exagerados os "nomes feios" que António Sérgio atribui a D. Sebastião, e que é especialmente incorrecto associar a ideia de "asnice" ao Sebastianismo, que teve cultores tão ilustres como António Sardinha, Carlos Malheiro Dias, Antero de Figueiredo, Luís de Magalhães ou Teixeira de Pascoaes. E escreve: «Dos seus argumentos não ficaram, em geral, mais que indecisões de ideias e partidos pessoais: Sergistas e Malheiristas; nem um convicto espiritualista a mais, nem a mais um racionalista converso. Ora, nem António Sérgio nem Malheiro Dias - mestres respeitados - têm direito, repito, a gerar confusões no espírito do público estudioso que os lê.» (p. 29)
Salienta depois JPP que Sérgio condena D. Sebastião só pelo que ele fez ou não fez na batalha de Alcácer, esquecendo tudo o mais dos seus dez anos de governo efectivo... (p. 47), mas realmente não se enxerga grande obra do monarca nesse "governo efectivo", até porque a governação se exercia na continuidade das regências de D. Catarina e do Cardeal D. Henrique e era moldada pelos conselheiros do rei. O que fez de sua exclusiva iniciativa terá sido especialmente disparate.
Passa a seguir JPP a escalpelizar as argumentações de Carlos Malheiro Dias e de António Sérgio, e a introduzir no texto as suas impressões pessoais, umas vezes mais a favor de um, outras mais a favor de outro. Verdadeiramente, a polémica facultou a JPP a oportunidade de se introduzir no debate, não produzindo matéria nova sobre o Desejado. E concluindo que «não está provado ser D. Sebastião o sinistro personagem que o sr. António Sérgio nos pintou.» (p. 151)
De facto, o livro de JPP pouco ou nada acrescenta à polémica.
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