domingo, 20 de agosto de 2023

O PALÁCIO DOS GRÃO-MESTRES, EM VALETTA

O Palácio dos Grão-Mestres da Ordem de Malta, em Valetta, foi construído em finais do século XVI, depois do Grão-Mestre Pietro Del Monte ter transferido oficialmente a sede da Ordem de Birgu para Valetta. Foi projectado pelo arquitecto Girolamo Cassar e possui dois pisos e duas entradas principais, a segunda mandada edificar pelo Grão-Mestre Manuel Pinto da Fonseca. É hoje a Residência Oficial do Presidente da República de Malta, cujo gabinete está situado no andar superior, onde se encontram também a Câmara do Conselho e a Câmara do Grande Conselho, o Parlamento, a Sala de Jantar e a Sala dos Embaixadores. Ao lado desta última encontra-se a Sala Amarela (que hoje é verde) e que era a antiga Sala dos Pajens e que serve agora de antecâmara da Sala dos Embaixadores. Há dois grandes pátios no interior, o do Príncipe de Gales e o do Príncipe Alfredo. No pátio do Príncipe de Gales encontra-se uma estátua de Neptuno. No piso térreo estão os serviços oficiais e o Museu do Arsenal (armaduras e armas de guerra).

Na fachada do andar térreo existem algumas lápides com inscrições, nomeadamente com a data da independência (1964), com a data da proclamação da República (1974) e com a data da retirada da guarnição britânica (1979). A Torre Moura do Relógio foi instalada pelo Grão-Mestre Manuel Pinto da Fonseca, em 1745, e a Torre de Vigia foi construída pelo Grão-Mestre Emmanuel de Rohan-Pulduc (1775-1797). Esse Relógio, de bronze, exibe quatro figuras em trajes turcos e possui quatro mostradores, que indicam as horas, os dias, os meses e as fases da lua. 

Palácio do Grão-Mestre, hoje Residência Oficial do Presidente da República

Na parede em frente da entrada principal pode ver-se a lista dos 28 Grão-Mestres que governaram a ilha e no cimo da escada encontra-se a lista dos Comissários, Governadores e Governadores-Gerais. Uma placa no corredor principal refere que o Grão-Mestre Hugues Loubenx de Verdalle foi elevado a Cardeal pelo Papa Sixto V, em 1587. Muitas das pinturas do Palácio (e também da Co-Catedral) devem-se a Niccolò Nasoni, artista bem conhecido dos portugueses (a Igreja dos Clérigos, no Porto, por exemplo). No lado esquerdo do corredor estão os retratos dos Grão-Mestres António Manoel de Vilhena, Manuel Pinto da Fonseca, Francisco Ximenes de Texada e Ferdinand von Hompesch.

O Grão-Mestre Philippe Villiers de L'Isle Adam resistiu ao ataque turco de Suleiman I a Rhodes, em 1522, mas foi obrigado a render-se (honrosamente) à Sublime Porta, tendo obtido do Imperador Carlos Quinto a ilha de Malta para sede da Ordem. Tendo uma Comissão das diversas Línguas visitado a ilha para verificar as condições, foi decidido aceitar a doação num Capítulo Geral reunido em Viterbo, em 1530. Em 13 de Novembro o Grão-Mestre fez a sua entrada solene em Mdina, tendo prometido respeitar os direitos dos malteses e obtendo destes a vassalagem ao Grão-Mestre.

O Grão-Mestre Jean Parisot de La Valette distinguiu-se durante o épico cerco de Malta em 1565 e mandou construir a nova cidade de Valetta. Está sepultado na cripta da Catedral de São João.

O Grão-Mestre António Manoel de Vilhena reforçou os bastiões de Valetta e de Mdina, construiu o Seminário e a Residência Episcopal de Mdina e o Teatro Manoel. Deve-se-lhe também a construção do subúrbio de Floriana. É um dos nomes muito ilustres do Grão-Mestrado.

O Grão-Mestre Manuel Pinto da Fonseca, por muitos considerado um governante despótico, teve o mais longo reinado da Ordem: 32 anos! Reconstruiu o Albergue de Castela, hoje a sede do Governo e Residência Oficial do Primeiro-Ministro, acrescentou o Palácio Magistral, construiu o Tribunal de Justiça e a já citada Torre do Relógio. A sua acção estendeu-se a todos os aspectos da vida de Malta. A aldeia de Qormi (onde vive a maioria dos padeiros ao serviço da Ordem) chama-se hoje Città Pinto em sua homenagem. Fundou também a Universidade de Malta e fez numerosas doações à igreja de São João, como paramentos e dois grandes sinos cuja composição, diz-se, contém prata e ouro.

Albergue de Castela, hoje Residência Oficial do Primeiro-Ministro

O Grão-Mestre Ferdinand von Hompesch, que aos 16 anos fora pajem do Grão-Mestre Manuel Pinto da Fonseca, foi o último soberano da Ordem a residir em Malta. Nos finais do século XVIII, a maioria dos Cavaleiros era francesa e nutria simpatias pela República e por Napoleão Bonaparte. Quando em 1798 a frota francesa (a caminho do Egipto) se aproximou da ilha e pediu permissão para se reabastecer de água, o Grão-Mestre autorizou, mas permitindo apenas a entrada de dois navios, nos termos do Tratado de Neutralidade. Napoleão considerou a atitude um insulto e mandou avançar as suas tropas sobre a ilha. Para evitar o derramamento de sangue, o Grão-Mestre assinou uma trégua: Malta e as propriedades dos Cavaleiros passavam para a França; o Grão-Mestre podia abandonar a ilha; os Cavaleiros poderiam permanecer na ilha ou abandonarem-na regressando aos seus países; aos habitantes malteses, que naturalmente os havia, era permitido conservarem os seus direitos e privilégios e praticarem a sua religião. Em 1800, os ingleses conquistaram Malta e expulsaram os franceses. Hompesch e alguns cavaleiros embarcaram em 1798 rumo a Trieste.

A ala Perellos do Palácio (do nome do Grão Mestre Ramon Perellos y Roccaful), era a esquina do Palácio onde se encontravam os aposentos de Verão do Grão-Mestre: compreende hoje três divisões: a Sala de Espera, a Sala dos Ajudantes de Campo e o Gabinete do Presidente da República. No lado esquerdo do actual Gabinete existia uma alcova com um leito que era usado pelo Grão-Mestre. Existem muitas pinturas, entre as quais uma "Crucificação", de José de Ribera. 

O tecto da Sala do Grande Conselho foi pintado por Matteo Perez d'Aleccio, havendo no fundo um trono que era usado pelo Grão-Mestre em cerimónias oficiais. Foi nesta sala que, em 1818, durante a ocupação britânica, o rei Jorge III instituiu a Ordem de São Miguel e São Jorge, investindo como Grão-Mestre o então Governador de Malta, Sir Thomas Maitland.

A Câmara do Conselho é também conhecida por Câmara das Tapeçarias. Entre 1921 e 1976 alojou o Parlamento Maltês. Possui dez maravilhosos tapetes Gobelin, conhecidos por Tapeçarias das Índias e que foram doados pelo Grão- Mestre Perellos. 

A Sala dos Pajens, que foi chamada Sala Amarela, contígua à Sala dos Embaixadores, é utilizada hoje para os embaixadores assinarem o Livro de Honra por ocasião da apresentação de credenciais. Os Pajens faziam parte da entourage do Grão-Mestre. Ingressavam na adolescência e quando atingiam os 18 anos eram admitidos como Cavaleiros. Em Rhodes, o Grão-Mestre tinha oito pajens à disposição mas o seu número foi elevado para dezasseis quando a Ordem se mudou para Malta. Na decoração inclui-se uma miniatura de prata do  Castelo de Verdala (no Buskett Gardens) mandado construir pelo Grão-Mestre Verdalle e hoje residência de Verão do Presidente da República.

Em todo o Palácio existem quadros representando os principais Grão-Mestres, soberanos estrangeiros, personalidades notáveis e também ricas tapeçarias, louças preciosas, armaduras novas e usadas, pinturas dos grandes mestres, constituindo o conjunto um museu de inestimável valor.


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