terça-feira, 24 de maio de 2022

A GRANDE "SUBSTITUIÇÃO"

Comprei há meses e leio agora Edouard Drumont, de Grégoire Kauffmann, a grande biografia de Drumont (mais de 500 páginas), autor de La France juive (1886), que se poderá considerar o primeiro manifesto de real importância sobre o "grand remplacement" em França, sobre o qual se pronunciaram posteriormente vozes como as de Jean Raspail e Renaud Camus, a que fiz referência neste blogue (em Novembro do ano passado), e mais recentemente a de Éric Zemmour.

Inicialmente, pensei adquirir La France juive, não na edição original (hoje praticamente indisponível) mas na sua reimpressão inicial, todavia o preço desta (reproduzindo os dois volumes de origem) custa uns bons milhares de euros, razão pela qual desisti. No entanto, a obra de Kauffmann dá-nos uma visão bastante da obra de Drumont, com a vantagem de proceder ao seu enquadramento no tempo. 

No século XIX, o perigo denunciado por Drumont era protagonizado pelos judeus, hoje é representado pelos muçulmanos e pelos imigrantes em geral. A natureza dos receios também é diferente, como facilmente se compreende. Os judeus encontravam-se razoavelmente integrados na sociedade francesa, a sua religião (quando a praticavam) não provocava sobressalto nas populações. Mas detinham (e ainda hoje detêm) lugares-chave na sociedade, controlando a política e o dinheiro. Esta questão do dinheiro é tão antiga que até Shakespeare a evocou em O Mercador de Veneza e podemos mesmo interrogar-nos se Emmanuel Macron teria sido eleito presidente da França caso não tivesse sido banqueiro dos Rothschild. Quando Le Front National substituiu os judeus pelos muçulmanos, e mais recentemente pelos imigrantes em geral, alterou profundamente a natureza da questão. Estes imigrantes, na sua maioria mal integrados, são pobres, praticam (alguns) uma pequena delinquência (que a grande delinquência não é habitualmente punível ou punida; contudo, em matéria religiosa e de costumes encontram-se desalinhados dos valores tradicionais da sociedade francesa. Mas oferecem, em compensação, a vantagem de desempenharem as profissões mais "modestas" que os franceses de souche se recusam exercer. 

É claro que uma imigração maciça é susceptível de provocar convulsões na sociedade, mas a Europa dos nossos dias não poderia dispensar os imigrantes africanos e asiáticos (muçulmanos, cristãos, animistas, budistas ou hindus) sob pena de uma desintegração profunda do tecido económico e social. Assim, as recentes propostas eleitorais de Marine Le Pen, candidata presidencial do Rassemblement National, tendo o mérito de propor uma reapropriação da soberania francesa, pecou por alguns exageros na questão da imigração. Suponho que ela não desejaria aplicar integralmente o seu programa, mas a simples enunciação criou receios e ignorou consequências.

Mas voltemos a Edouard Drumont, que nasceu em 1844 e morreu em 1917. Jornalista, escritor, político, polemista, foi um dos arautos do anti-semitismo e em 1909 falhou por um triz a sua eleição para a Academia Francesa.

De origem modesta, apresentou em 1886 La France juive ao editor Charles Marpon, associado de Ernest Flammarion, que decidiu publicar a obra, a instâncias do grande escritor Alphonse Daudet, mas com a edição (limitada a 2 000 exemplares) a cargo do autor, responsabilizando-se apenas pela distribuição. Inicialmente o livro teve pouco êxito, mas devido a acontecimentos ulteriores acabou por se revelar um sucesso de vendas, e passou a ser reeditado pela própria Flammarion.

Porque levarei algum tempo a ler esta extensa obra, registo aqui o resumo do conteúdo:

Parte I - L'Homme de La France Juive (1844-1886) 

Parte II -  Naissance de l'antisémitisme politique (1886-1892)

Parte III - À l'assaut de la République modérée (1892-1897)

Parte IV - Le repli conservateur de l'antisémitisme et la marginalisation d'Édouard Drumont (Automne 1897-1917)

Num total de 20 Capítulos.

 Voltarei ao assunto mais tarde.

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