domingo, 10 de janeiro de 2021

CURIOSIDADES HISTÓRICAS

Foi-me oferecido, na passada quadra festiva, por um amigo que conhece o meu interesse pela História, o recém publicado livro O Pénis perdido de Napoleão: e mais 222 perguntas de História, tradução portuguesa de El pene perdido de Napoleón: y otras 333 preguntas de la Historia, de Ad Absurdum, um colectivo de três historiadores espanhóis (Isaac Alcântara, David Omar Sáez e Juan Jesús Botí) bem conhecido no país vizinho, e que se dedica a fomentar o gosto pela História através de comentários, episódios e reflexões, donde não está isento um acentuado sentido de humor, sendo já autores de Historia absurda de España e Historia absurda de Cataluña. Como não conheço o original espanhol ignoro a razão da diferença entre as 222 perguntas portuguesas e as 333 espanholas, mas admito que se trate de curiosidades especificamente espanholas.

O livro apresenta questões sobre a guerra, o sexo, a arte, a ciência, a comida, o desporto, a religião, a economia, a saúde, a geografia, a moda, a antropologia, a política e a homeo-história (que os autores consideram uma manipulação da História ou uma pura intrujice e cuja conceito dizem ser inspirado de homeopatia: do grego, hómoios [mesmo]  e do latim, historia [história], para designar o que é semelhante. Talvez ficasse melhor homo-história, mas não sei se a palavra é da tradução portuguesa ou do original castelhano).

As respostas às perguntas formuladas são na generalidade correctas. Uma parte delas é do conhecimento das pessoas interessadas na matéria, mas sempre se encontram algumas novidades: coisas que não sabíamos ou que simplesmente havíamos esquecido. Detectei alguns erros, ou meros lapsos, mas confesso que, não os tendo anotado na altura, não me recordo agora deles. A tradução é fluente, embora siga o famigerado acordo ortográfico.

O título do livro decorre exclusivamente das técnicas de marketing, já que ao pénis de Napoleão não é dedicada mais do que uma página. Mas com certeza contribuiu para aumentar o volume de vendas da obra. De facto, existe a lenda de que o pénis do imperador lhe foi retirado depois da autópsia, aquando da sua morte na ilha de Santa Helena. E, durante anos, circulou pelas mãos de diversos coleccionadores o que teria sido o imperial falo, não se sabendo quem o possui agora. Segundo as memórias do criado de quarto de Napoleão, o que foi extraído ao imperador, na autópsia, terá sido realmente um tendão.

Outra curiosidade diz respeito a Adolf Hitler. Estamos habituados a ouvir dizer que o Führer era vegetariano e abstémio, mas sabemos que não era exactamente assim. O que os autores do livro confirmam, referindo que por vezes ele gostava de comer salsichas e almôndegas ou mesmo de beber vinho e espumante. Terá sido Goebbels que fez circular a lenda de Hitler rigorosamente vegetariano e abstémio, procurando convertê-lo num puro asceta que não comia, não bebia, não fumava e não copulava. Não referem os autores mas acrescento eu que em matéria de vinho Hitler abria uma excepção para o vinho branco Riesling, produzido na zona da Alsácia-Lorena, território que tem pertencido alternadamente à França ou à Alemanha, havendo marcas comerciais dos dois países.

Também nos esclarecem os autores que os uniformes da Guarda Suíça não foram desenhados por Miguel Ângelo. Os actuais uniformes da guarda papal foram concebidos em 1914 por Jules Repond, advogado e professor suíço que foi seu comandante, e inspiraram-se em frescos de Rafael e em uniformes do Renascimento italiano.

Não querendo abusar da paciência dos leitores, uma última questão: quem foi o último czar da Rússia? Ao contrário da convicção geralmente instalada, o último czar não foi, legalmente, Nicolau II mas sim seu irmão Miguel (Nicolau, em plena revolução de 1917, afastara a ideia do seu filho menor Alexis lhe suceder) em quem Nicolau II abdicou e que assumiu o cargo como Miguel II, ainda que por poucas horas, pois foi igualmente obrigado a renunciar ao trono.

Estou convencido de que os leitores deste livro encontrarão matéria para aprofundar os seus conhecimentos e também para se divertir, já que o texto cultiva quer uma ironia subtil, quer algumas piadas mais ousadas mas sempre do agrado comum.

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