Josh O'Connor, no papel de Lawrence Durrell |
A RTP2 tem transmitido diariamente uma série televisiva (creio que em repetição) intitulada "Os Durrell", sobre a permanência na ilha de Corfu da família Durrell, desde a sua chegada em 1935 até data que desconheço (Lawrence trocou a ilha pelo Egipto, em 1942), pois a série ainda vai nos primeiros episódios.
Segundo o genérico, esta série baseia-se no livro The Corfu Trilogy, de Gerald Durrell (o irmão mais novo de Lawrence) e foi realizada por Steve Barron, em 2016 (há mais realizadores e mais episódios até 2019, suponho). Enquanto Lawrence se distinguiu como escritor (é o autor do famoso Quarteto de Alexandria), Gerald interessou-se pelos animais e foi um conceituado naturalista.
Ignoro se as cenas "clownescas" a que tenho assistido decorrem da Trilogia de Gerald Durrell (que nunca li) ou se são fruto da imaginação delirante do realizador, nada tendo a ver com o pretendido subtil "humor britânico". Mas esta série, de evidente mau gosto, nem sequer respeita a verdade histórica. É certo que os padrões de qualidade da BBC, que a apresentou, andam muito por baixo, mas não havia necessidade de exagerar.
Mais valia que tivesse sido realizado um filme a partir de uma obra do próprio Lawrence Durrell, Prospero's Cell - A guide to the landscape and manners of the island of Corcyra (Corcyra é Corfu em grego) escrita em Alexandria em 1942 (a partir das notas que Lawrence tomou nos sete anos de estada na ilha) e publicada pela primeira vez em 1945. Neste livro, o autor regista as impressões recolhidas durante a sua permanência em Corfu, com alusões a The Tempest, de Shakespeare.
A ilha de Corfu é (ou foi) um lugar paradisíaco, carregado de uma história multi-secular. Muitas figuras notáveis fizeram da ilha local de vilegiatura, como a imperatriz Isabel da Áustria (Sissi) ou o imperador alemão Guilherme II que, após o assassinato daquela, comprou o seu palácio e mandou erguer nos jardins do mesmo uma estátua de Aquiles.
A título de curiosidade, note-se que o actor Josh O'Connor, que interpreta na série o papel de Lawrence Durrell, é um dos protagonistas do filme God's Own Country, de Francis Lee, um filme gay, onde O'Connor é um jovem fazendeiro britânico que se apaixona por um trabalhador migrante romeno, papel a cargo de Alex Secareanu. O filme recolheu imensos aplausos e foi galardoado no Festival Internacional de Berlim, de 2017.
Curiosamente, também, o actor Callum Woodhouse, que interpreta na série o papel de Leslie (o irmão do meio dos Durrell), é uma das principais personagens de B & B, um filme gay realizado em 2017 por Joe Ahearne.
Enfim, coincidências...
7 comentários:
Os Durrells não foram produzidos pela BBC, mas sim pela sua principal rival privada, a ITV, o que é certamente indiferente para o autor do blog, dado que lhe interessa basicamente atacar uma série divertida, original, com uns anos 30 muito bem reconstituidos. E como há cerca de 200 canais disponiveis na nossa tv, não se compreende facilmente porque,pelo que escreve, tem acompanhado tão cuidadosamente essa "horrivel" emissão...
Leitura apressada. Não disse que fora produzido pela BBC, mas apresentado, o que é diferente.
Sobre a realização, mantenho tudo o que escrevi.
Vejo a série por duas razões: uma, porque me interessa Lawrence Durrell, e tão só ele; a outra, porque me interessa ver coisas diversas, para poder formar e emitir uma opinião. Não critico aquilo que desconheço.
Tambem não é "apresentada" pela BBC,evidentemente. Como pode verificar nas fontes, é "released" pela ITV. Não sei como traduzir "released" de outro modo senão "distribuida" ou "apresentada". Nem me parece provável que a BBc "apresente" produções da sua rival ITV. E vejo com curiosidade que apesar das suas críticas, o autor mantem o seu posto junto aos muitos milhões de espectadores que no mundo seguiram a série...
Li algures que tinha sido apresentada pela BBC. Ainda bem que não foi.
Isso não invalida a minha crítica. Nem todos podem ser da sua opinião, como certamente desejaria. Ainda bem que há diferentes pontos de vista. Possivelmente, também há milhões de espectadores que não seguem a série. E outros que a seguem mas não se coíbem de criticá-la. Aliás, todas as manifestações culturais estão sujeiras à crítica, que pode ser positiva ou negativa, segundo o juízo de cada um. Temos de expurgar a tentação do pensamento único.
Imagine-se que no meu inocente "engano de alma" eu julgava que manifestar uma opinião divergente de um autor (de um blog,por exemplo) era apenas uma contribuição para um eventual debate,ou simplesmente um desabafo. Mas não, vejo agora que é a imposição de um "pensamento único". Realmente, aprende-se muito na frequência de blogs e facebooks. Ainda bem para a iluminação de espíritos obnubilados!
Eu fui espetadora assídua da série quando passou pela primeira vez na RTP2 e gostei muito. Achei-a de um tom refrescante e divertido. Como todas as adaptaçoes a guiões para cinema, não é necessáriamente fiel à base original, ou à verdade historica e o tom é aquele que autor do guião, produtor ou realizador entendem imprimir. Cada um gosta do que gosta e é livre para tecer apreciações criticas ou laudatórias mas, quando entre os argumentos usados para criticar, constam sibilinas alusões a designadas coincidências no elenco da série com o elenco de designados "filmes gay" sou levada a pensar que o autor do blogue ajuíza às luz dos seus preconceitos. Por mim prefiro ler opiniões de pessoas "open mind"
Para Unknown:
A referência aos "filmes gay" é uma simples curiosidade e não tenho quaisquer preconceitos, pode ficar descansada.
Foi por mero acaso que descobri a coincidência de dois intérpretes em filmes dessa natureza. Aliás só conheço um deles.
Mas mantenho a minha opinião de que considero a série verdadeiramente disparatada.
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