Lido, obliquamente (são quase 500 páginas), Chaque homme est lié au monde - Carnets (Août 1939 - Août 1944), diário de Roger Stéphane, de 19 de Agosto de 1939, dia em que completou 20 anos, até 29 de Maio de 1944 (com um epílogo em 19 de Agosto), é um longo texto, publicado em 1946, em que o autor nos conta, dia a dia, a invasão da França pela Alemanha nazi, o regime de Vichy, a Resistência, a prisão, a passagem à clandestinidade, a Libertação.
Tendo como explicador o escritor René Étiemble, Stéphane (1919-1994) desde os 15 anos que começou a frequentar os círculos literários e a conviver com algumas das mais notórias personalidades francesas. Assim se explica o seu relacionamento, largamente evocado no Diário, com André Gide, Roger Martin du Gard, Jean Cocteau, Louis Aragon, André Malraux, etc. Judeu, comunista e abertamente homossexual, Stéphane refere no livro os principais acontecimentos relativos à ocupação da França, e as atitudes dos seus principais protagonistas, o marechal Pétain, Laval, o almirante Darlan, o general Weigand, Reynaud, Lebrun e a lista seria extensa. Exprime as suas convicções sobre o desenrolar da guerra, dá conta das suas leituras e dos seus encontros com escritores amigos, mas, curiosamente, omite qualquer referência às suas relações íntimas, que certamente manteve neste período de cinco anos, apesar de nunca ter escondido a sua orientação sexual.
Não tendo estudos que lhe assegurassem uma carreira académica, enveredou com êxito pelo jornalismo, dedicando-se à crónica política e à crítica literária. Em 1950, foi um dos fundadores do "Observateur", antepassado do "Nouvel Observateur", converteu-se numa figura central da imprensa francesa, integrando cenáculos literários, e relacionou-se, além dos escritores já citados, com Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Jean Genet, Marcel Jouhandeau, François Mauriac, Georges Simenon, Paul Morand, etc.
Roger Stéphane |
Publicou cerca de vinte livros, entre os quais algumas biografias (Bourguiba, T.E. Lawrence, Simenon ou Cocteau). Em 1952, deu à estampa uma autobiografia, Parce que c'était lui, em que reafirma a sua homossexualidade, e em 1989, uma crónica do seu tempo, Tout est bien.
Desencantado do mundo (e dos homens, que nem sempre lhe estão ligados, ao contrário do título do seu primeiro livro - a designação foi emprestada por Malraux), doente e empobrecido, em 4 de Dezembro de 1994 suicidou-se com um tiro na cabeça.
1 comentário:
A França de Vichy foi uma época de sombras e ambiguidades,propícia a escritores como Modiano e Assouline, a realizadores Como Chabrol e Autant-Lara. Talvez valha a pena ler este Stephane. Só notaria ainda que me parece que o antepassado do Nouvel Observateur se chamava France-Observateur. Pormenores.
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