sábado, 13 de junho de 2015

O CEMITÉRIO CENTRAL DE VIENA


Porta nº 2 do Cemitério (existem 4 entradas)

O Cemitério Central de Viena ( Der Wiener Zentralfriedhof), situado a sudeste da cidade, na  Simmeringer Hauptstraße, é o maior cemitério da Áustria e um dos maiores da Europa, nele se encontrando sepultadas cerca de três milhões de pessoas. Foi inaugurado oficialmente no Dia de Todos os Santos de 1874, havendo uma cerimónia prévia, na véspera, com a presença do burgomestre barão Cajetan von Felder e do cardeal Joseph Othmar Rauscher, arcebispo de Viena, devido ao facto do cemitério ser destinado não exclusivamente a católicos mas a defuntos de outras confissões, nomeadamente judeus, que tinham contribuído substancialmente para a sua construção .

O cemitério, inaugurado durante o reinado do imperador Francisco José I, está dividido em quase 200 talhões, a maioria destinada a católicos, mas com representação de protestantes, judeus, muçulmanos, muçulmanos-egípcios, budistas, mormons, caldeus-católicos, gregos-ortodoxos, romenos-ortodoxos, búlgaros-ortodoxos, sérvios-ortodoxos, sírios e coptas-ortodoxos, russos-ortodoxos, etc. Existem também secções destinadas às vítimas da Primeira e da Segunda Guerra Mundial, às crianças, e uma cripta, frente à igreja, onde se encontram os corpos de todos os presidentes da República da Áustria, desde 1945.


 Estão sepultados no cemitério, nomeadamente na parte central, vultos notáveis de compositores, escritores, artistas plásticos, arquitectos, políticos, cientistas, engenheiros, actores, encenadores, etc.


A igreja do cemitério foi concebida pelo arquitecto Max Hegele, discípulo do célebre  Otto Wagner, construída entre 1908 e 1910 e dedicada ao antigo burgomestre (presidente da câmara municipal) de Viena, o Doutor Karl Lueger. Político famoso, foi eleito três vezes para o cargo desde 1895, mas Francisco José I, considerando que as suas ideias eram perigosas,  recusou confirmar a decisão dos deputados municipais. Só em 1897, devido à intercessão do papa Leão XIII, o imperador resolveu sancionar o desejo dos munícipes. Karl Lueger ocupou o lugar até à sua morte em 1910 e ainda hoje os vienenses o consideram o mais importante burgomestre da capital, atendendo à forma extraordinária como administrou a cidade. O troço do Ring (a grande artéria circular que delimita a velha da nova cidade) frente à Câmara Municipal e à Universidade ostentou mesmo o nome de "Doktor Karl Lueger Ring" embora, por estúpidas decisões que pretendem apagar a história, tenha passado a designar-se, desde 2012, "Universitätsring". 




Activista do Movimento Social Cristão, membro do Partido Nacional Germânico e deputado ao Parlamento Imperial, o Doutor Lueger tornou-se também conhecido pelo seu anti-semitismo militante, o que lhe granjeou as simpatias dos austríacos. Um dos seus mais calorosos apoiantes foi Adolf Hitler, que viveu na cidade entre 1907 e 1913 e lhe prestou homenagem no Mein Kampf. Acrescente-se, todavia, que Lueger nunca perseguiu os judeus, tinha muitos judeus no seu círculo de amigos e costumava dizer: «Sou eu que decido quem é judeu». O próprio escritor judeu vienense Stefan Zweig, que cresceu em Viena durante a administração de Lueger, referiu que o seu governo da cidade era «perfeitamente justo e tipicamente democrático».


O Doutor Karl Lueger está sepultado num mausoléu na cripta da igreja do Cemitério, sob o altar-mor. O templo é hoje designado por Karl Borromäuskirche (Igreja de São Carlos Borromeu), embora continue a ser habitualmente chamado Igreja do Doutor Karl Lueger.


Em frente da igreja encontra-se o mausoléu dos presidentes da República da Áustria desde 1945, a saber: Karl Renner (1945-1950), Theodor Körner (1951-1957), Adolf Schärf (1957-1965), Franz Jonas (1965-1974), Rudolf Kirchschläger (1974-1986), Kurt Waldheim (1986-1992) e Thomas Klestil (1992-2004).




Uma das principais atracções do cemitério é o talhão dos compositores. Encontram-se aqui, além do cenotáfio de Mozart (que foi enterrado em local desconhecido, no Cemitério de São Marcos (Sankt Marx) em 7 de Dezembro de 1791, após ter sido velado, na véspera, na Capela da Cruz da Catedral de Santo Estêvão, onde o local é recordado por uma placa comemorativa), os despojos de Beethoven, Schubert, Brahms, Gluck, Johann Strauss, Johann Strauss (Pai), Josef Strauss, Eduard Strauss, Schönberg, Franz von Suppé, Hugo Wolf, etc. e Antonio Salieri no talhão 0, à entrada da porta nº 1.

Mozart (cenotáfio), Beethoven e Schubert (mausoléus) e Príncipe Aloys de Liechtenstein, que sucedeu ao Doutor Lueger na chefia do Partido (sepultura)


Mozart (em memória), Beethoven e Schubert (sepultados) e Eu (por ora, em carne e osso)
Placa evocativa de Mozart na Catedral de Santo Estêvão
Mozart
Beethoven
Schubert


 Brahms
Gluck
Johann Strauss
Johann Strauss (Pai)
Josef Strauss
Eduard Strauss
Franz von Suppé
Hugo Wolf
Arnold Schönberg

Antonio Salieri (junto à porta nº 3, muito distante do talhão dos compositores)

Entre as muitas e notáveis figuras mencionemos ainda os chanceleres Julius Raab e Bruno Kreisky, o cineasta Georg Wilhelm Pabst, o empresário e mecenas artístico Nicolaus Dumba, Carl Ritter von Ghega (o mais famoso engenheiro do seu tempo, que projectou o caminho de ferro de Semmering, o primeiro a atravessar montanhas), o escritor e jornalista Karl Kraus, o arquitecto Adolf Loos, o cantor Falco, o futebolista Matthias Sindelar, etc., etc.

Julius Raab
Bruno Kreisky
G. W. Pabst
Adolf Loos
Carl Ritter von Ghega
Nicolaus Dumba
Falco (pseudónimo de Hans Hölzel)
Matthias Sindelar

Existem dois conjuntos de arcadas. Um par, próximo da entrada principal, as Arcadas Antigas (Alte Arkaden), o outro par, em redor da Igreja, as Arcadas Novas (Neue Arkaden). Nestas arcadas encontram-se numerosas sepulturas, algumas das quais ornamentadas com notáveis esculturas.

Arcadas Antigas

Arcadas Antigas
Arcadas Novas (lado esquerdo)
Arcadas Novas (lado direito)

No lado esquerdo da entrada principal encontra-se a capela ortodoxa russa, dedicada a São Lázaro, num talhão dedicado aos russos ortodoxos.

Capela Ortodoxa Russa

Os obeliscos da entrada principal, na parte de trás, ostentam os nomes do imperador Francisco José I e do burgomestre Doutor Karl Lueger.

Obelisco do lado direito de quem entra (parte de trás)
Obelisco do lado esquerdo de quem entra (parte de trás)


Também do lado esquerdo, à entrada, se encontra a Casa Mortuária.

Casa Mortuária

Vista do Cemitério

Vista do Cemitério
Nas extremidades do lado direito e do lado esquerdo, ocupando vasta superfície, encontram-se os talhões, respectivamente, do Antigo e do Novo Cemitério Judaicos.

Muito mais haveria a dizer, mas esta história já vai longa.


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