domingo, 28 de outubro de 2012

A SÍRIA DESDE A INDEPENDÊNCIA



Publicado poucas semanas antes do início dos confrontos na Síria, que levaram à actual situação de guerra civil, o livro Quand la Syrie s'éveillera... é uma das melhores obras escritas sobre a história do país desde que ascendeu à independência em 1946.

Os seus autores, Richard Labévière e Talal El-Atrache, conhecem profundamente o Médio Oriente e as linhas com que se cosem e descosem os conflitos na região. E estão particularmente bem informados sobre o que tem sido nos últimos anos o relacionamento entre a França e a Síria. Aliás, o autor do prefácio (a todos os títulos notável) é Alain Chouet, antigo director do Service de Renseignement de Sécurité da DGSE (Direction Générale de la Sécurité Extérieure), não só um especialista em informações mas um homem com um conhecimento particular da história da Síria.

A leitura das oito páginas do prefácio não dispensa naturalmente a leitura das cerca de 400 páginas do livro, mas fornece-nos a chave de compreensão da situação política da Síria durante meio século, exceptuando os acontecimentos trágicos que se verificam desde há mais de um ano, e que são posteriores à redacção da obra.

O livro trata especialmente das relações da Síria com o Líbano, com Israel, com o Iraque, com o Egipto, com os Estados Unidos e o mundo ocidental, com a Rússia e com o Irão. Detém-se na criação do partido Ba'ath, no atentado contra Rafic Hariri, nos presidentes Hafez e Bashar Al-Assad, na progressiva entrada, nos últimos anos, de fundamentalistas wahabitas, enviados pela Arábia Saudita e que estão na génese do actual conflito, na cooperação contra o terrorismo internacional, nunca compreendida pelos EUA, e nas previsões de uma evolução política futura mas que o momento actual desmente. Salienta também o carácter laico do Estado (actualmente o único no mundo árabe depois da queda de Saddam Hussein no Iraque), a convivência normal entre pessoas de diferentes religiões e etnias, a igualdade entre os cidadãos e o caminho traçado por Bashar Al-Assad para uma lenta mas progressiva democratização das instituições.

Os autores inspiraram-se, para o título, numa obra de Alain Peyrefitte que fez sucesso há décadas: Quand la Chine s'éveillera... le monde tremblera. A história confirmou as previsões de Peyrefitte relativamente à China, mas as recentes convulsões do mundo árabe infirmaram as previsões, quanto à Síria, dos dois autores da obra em apreço. Não fora a eclosão da chamada "Primavera Árabe" e penso que estariam no caminho certo.


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