quinta-feira, 9 de abril de 2009

SALAZAR II

No livro recém-publicado Salazar, o maçon, de Costa Pimenta, afirma o autor que o antigo presidente do Conselho de Ministros teria pertencido à Ordem Maçónica. Para isso se baseia numa série de premissas de que retira conclusões tidas como irrefutáveis.

Muito se tem escrito nos últimos anos sobre Salazar, desde a biografia que lhe consagrou Franco Nogueira até a obras de veracidade discutível, algumas fruto de imaginações delirantes. Não se esperava, porém, que alguém viesse sustentar que Salazar fora maçon. Embora sempre rodeado de maçons, como o Marechal Carmona ou o conselheiro Albino dos Reis, para citar apenas um presidente da República e um presidente da Assembleia Nacional, a política de Salazar sempre pareceu contrária à Maçonaria, nomeadamente a partir da célebre lei das Associações Secretas, de 1935, cujo projecto se deveu ao deputado José Cabral.

O livro de Costa Pimenta é, antes de tudo, um manual de introdução à Maçonaria (à Maçonaria Simbólica e à Maçonaria dos Altos Graus), transcrevendo largas passagens dos rituais adoptados em Portugal ou no estrangeiro, e acrescentando em apêndice o "Cobridor Geral dos XXXIII Graus". De todas estas transcrições e de algumas afirmações de Salazar extrai Costa Pimenta a conclusão de que Salazar era Maçon. Mais escreve o autor, na Conclusão da obra: "Por outro lado, se Salazar era maçon, então os seus escritos dizem muito mais do que aparentam dizer. Na verdade, os maçons escrevem da seguinte maneira: [C]om um «positivo» de leitura directa e acessível aos profanos e um «negativo», apenas decifrável por um restrito universo de iniciados. Por conseguinte, os escritos de Salazar serão uma mina de informações, embora só ao alcance de um número restrito de pessoas. Realmente, usando o idioma maçónico, Salazar diz, por exemplo, de Portugal, da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e do Cardeal Cerejeira coisas verdadeiramente surpreendentes." É pena que Costa Pimenta nada nos diga sobre essas coisas, que ele provavelmente sabe, já que tão bem utiliza a linguagem maçónica na sua obra. A menos que reserve tão extraordinárias revelações para um próximo livro.

Anunciado como "um documento histórico único", apresentando "factos inéditos" e revelando "todas as provas ocultas", o livro apenas demonstra o elevado grau de conhecimentos maçónicos do seu autor, sendo substantivamente inconclusivo quanto à alegada filiação maçónica de Salazar. Ainda que num ou noutro ponto se verifique, realmente, uma identificação da linguagem de Salazar com os princípios da Maçonaria.

O que a História até hoje registou (publicamente) foi que Salazar sempre se comportou como um adversário daquela Augusta Ordem. Para que a História possa ser revista são necessárias provas inequívocas que não as conclusões extraídas por Costa Pimenta.

Até lá...que seja trabalhada a pedra bruta.

12 comentários:

Anónimo disse...

Muito bem! Porque não enviar este sucinto e preciso texto crítico ao "Expresso" ou ao "Público",como colaboração "pro bono" e para dar a conhecer o seu Blog a alguma Comunicação Social? Retiraria só a referência final à Augusta Ordem para não confirmar excessivamente a sua posição...

Anónimo disse...

Viva,

Gostaria de lhe perguntar se leu o livro que comentou (presumo que sim)? E em caso afirmativo recomenda a leitura?

Jorge Pinto

Anónimo disse...

Curioso,o desaparecimento dos meus despretenciosos comentários. Limitava-me a lamentar que tivesse investido mais do que um cêntimo nessas folhas de papel,que nunca deviam ter abandonado a sua forma de árvores duma qualquer floresta,onde seriam mais úteis à Humanidade,operando contra o envenenamento atmosférico... E,como diria a minha Avó,não vale a pena gastar cera com ruins defuntos,coisa que esse absurdo livro é à nascença,embora se aproveite,claro da actual "moda salazariana". Deixemo-nos de mais "peregrationes ad loca infecta".

Anónimo disse...

Esta do Salazar ter sido maçon deixa-me perplexo. Então a Maçonaria não esteve proibida durante o Estado Novo, ou estarei a sonhar?

Anónimo disse...

Estou confuso com toda esta cena do Salazar ter sido maçon. Então as perseguições do Estado Novo?

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

Jorge Pinto

Li efectivamente o livro. Interessa mais pelas considerações maçónicas do que convence quanto ao facto de Salazar ter sido maçon. Em todo o caso...

Anónimo disse...

Relativamente ao Estado Novo, indique-se pelo menos um Presidente da República, um Presidente da Assembleia Nacional, um Presidente da União Nacional, um comandante de qualquer dos Ramos das Forças Armadas, um governador de qualquer das pronvíncias ultramarinas, um Procurador-Geral da República, um presidente do Supremo Tribunal de Justiça, um Presidente do Supremo Tribunal Administrativos, um Presidentes do Tribunal da Relação, um bastonário da Ordem dos Advogados, um bastomnário da Ordem dos Médicos, um governador civil, um reitor de qualquer Universidade, um director-geral de qualquer ministério, um director de qualquer força polícial (incluindo a PIDE/DGS), um director da RTP, um director da Emissora Nacional, um director de qualquer teatro, um apresentador do programa Zip-Zip que não fosse maçon.

Anónimo disse...

Para começar: Presidente-Américo Thomás. Governador-Baltazar Rebelo de Sousa. Reitor-Marcello Caetano. Alguns governadores ultramarinos(Sarmento Rodrigues,p.ex.) ou governadores civis terão sido maçons,mas todos? O exagero dá no delírio.Salazar tolerava muita variedade de gente como colaboradores,mais do que parece à primeira vista,desde o lado Santos Costa ao lado Franco Nogueira(odiavam-se) passando por Marcellos e Adrianos. O facto de haver alguns maçons activos ou "adormecidos" no regime, nem significa que o próprio Presidente do Conselho o tivesse sido,nem que o sistema que criou tivesse sido especialmente favorável à instituição. Est modus in rebus. Alem disso,concordo plenamente com a sugestão de maior difusão e publicidade deste simpático blogue,embora não concorde naturalmente com toda a escrita.

Anónimo disse...

Em vez de «conselheiro Albino dos Reis» não será «professor Alberto dos Reis»?

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

Apesar de não constar do "Dicionário de Maçonaria Portuguesa", do Prof. Oliveira Marques, o conselheiro Albino dos Reis integrou aquela instituição, de que mais tarde se desvincularia. Tanto ele como o também maçon Prof. José Alberto dos Reis foram presidentes da Assembleia Nacional.

Anónimo disse...

Para dizer que Salazar era maçon há que ser tolo. Para escrever um livro a tentar demonstrar tal coisa há que viver num Portugal repleto e conivente com qualquer mentira.

Uhmm... e isto não é revisionismo ?!

Anónimo disse...

o franco nogueiro e o bissaia barreto eram, mas Oliveira Salazar obviamente que não o era