segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

SALAZAR

Acabei de ver o segundo episódio da mini-série que a SIC apresentou sobre "A vida privada de Salazar". Tratou-se de um espectáculo confrangedor, um quase hardcore inverosímil. Existem, naturalmente, períodos e aspectos menos bem documentados da vida pessoal do antigo presidente do Conselho de Ministros. Mas, quer pelos testemunhos escritos deixados por aqueles que com ele conviveram de perto, quer pelas memórias dos poucos que ainda restam vivos, quer pela ideia formada por todos quantos não tendo conhecido pessoalmente Salazar viveram parte da sua vida durante o antigo regime, a imagem que da sua personalidade nos foi transmitida pela televisão não se ajusta minimamente à pessoa real.

Já nem falo da questão tão badalada da sua queda: ora caiu da cadeira, ora a cadeira se desarmou, ora não havia cadeira e caiu no chão e, finalmente, agora, a queda na banheira, que, aliás, nem surge neste lamentável folhetim. Não virá longe o tempo em que alguém se lembrará de dizer que Salazar morreu assassinado.

Os cenários propostos para o local e para a época, o guarda-roupa manifestamente desajustado, o perfil atribuído aos intervenientes, a vida no seminário, o relacionamento com o Cardeal Cerejeira, com Christine Garnier, com a governanta Maria de Jesus, com a filha do patrão dos pais, com a astróloga, com a viscondessa (viúva) de Asseca (Carolina Matilde, que em 1950 tinha 73 anos!), a linguagem utilizada, tudo é de um ridículo insultuoso para a inteligência dos espectadores, mesmo dos mais estúpidos e incultos.

Salazar, com todas as suas virtudes e defeitos, marcou uma época e se não poderá considerar-se, como num concurso televisivo, o maior português de sempre (esses concursos valem o que valem) é sem dúvida a figura política mais indelével do século XX português. Foi tudo menos um homem vulgar, a contrastar com a vulgaridade da série ora transmitida. Aliás, no discurso de posse como chefe do Governo, Marcelo Caetano disse precisamente que a "um homem de génio" iria suceder um "homem vulgar" ou um "homem como os outros", não me recordo exactamente da expressão então utilizada.

Ignoro quais as intenções de quem concebeu a série e de quem patrocinou a sua divulgação mas tratou-se de uma péssima reconstituição histórica digna dos piores amadores, de uma interpretação ridícula e de uma direcção delirante.

Não sei se Salazar teve uma vida sexual activa, presumo que a teria na juventude, antes de se encerrar nos claustros do poder. Mas estou certo que, qualquer que ela fosse, nunca seria aquela com que a SIC nos brindou estes dois dias. Portugueses, mais um esforço se quereis ser criativos!

Adenda: É assim que se falsifica a História!

1 comentário:

Anónimo disse...

Perante este deprimente espectáculo,não há que pedir aos portugueses mais esforços,"encore un effort",mais que se deixem estar sossegados,pois ao menos estando quietos não produzem esterco deste jaez,poupam dinheiro,e contribuem para reduzir as probabilidades de apoplexias para quem,acaso de gosto e cultura,tenha visto semelhante imbecilidade. Assim,acabo por preferir os ataques contra Salazar vindos dos historiadores enviesados,dos ex-oprimidos comunas,etc, sem grande público, a esta porcaria em que tudo soa, e é, falso,até o Cadillac em que aparece no atentado de 37,pois aquele modelo é dos anos 50,pelo menos. Um horror! Os responsáveis à fogueira!