domingo, 24 de dezembro de 2023

PEDRO HOMEM DE MELLO


Consultei Poesias Escolhidas, de Pedro Homem de Mello (1904-1984), na edição da Imprensa Nacional-Casa da Moeda (1983). 

Procurei o célebre poema, "O Rapaz da Camisola Verde", que foi imortalizado pelas vozes de Amália Rodrigues e de Hermano da Câmara. Não o encontrei!!!

O poema é este:

 

De mãos nos bolsos e de olhar distante,
Jeito de marinheiro ou de soldado,
Era um rapaz de camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.

Perguntei-lhe quem era e ele me disse
“Sou do monte, Senhor, e um seu criado”.
Pobre rapaz de camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.

Porque me assaltam turvos pensamentos?
Na minha frente estava um condenado.
Vai-te, rapaz da camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.

Ouvindo-me, quedou-se o bravo moço,
Indiferente à raiva do meu brado,
E ali ficou de camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.

Soube depois ali que se perdera
Esse que só eu pudera ter salvado.
Ai do rapaz da camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.

Ai do rapaz da camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.


Creio que foi incluído na obra Quadras ao Gosto Popular, de 1972. 

Na presente edição da IN-CM, chamada "poesias escolhidas" e não "obra completa", talvez intencionalmente, não figura este poema. A edição, lamentavelmente sem qualquer aparato crítico, integra 25 livros de PHM, entre os quais o livro O Rapaz da Camisola Verde (1954), que inclui um poema intitulado "O rapaz da camisola verde", mas que nada tem que ver com o poema que referimos (excepto o título), não mencionando qualquer rapaz de camisola verde. O assunto é totalmente diferente. E a edição não inclui a obra Quadras ao Gosto Popular!

Trata-se certamente de uma atitude censória da então administração da IN-CM, por causa dos costumes. 

UMA VERGONHA!!!

Sem comentários: