quarta-feira, 1 de novembro de 2023

JERUSALÉM, 1913

Por sugestão de um amigo, revisitei Jerusalem 1913: The Origins of the Arab-Israeli Conflict (2007), da escritora e jornalista judia norte-americana Amy Dockser Marcus, que recebeu em 2005 o Prémio Pulitzer para a Melhor Reportagem.

Amy Dockser Marcus, autora de diversas obras, foi correspondente de "The Wall Street Journal" em Israel de 1991 a 1998, tendo o seu primeiro livro, The View from Nebo: How Archaeology is Rewriting the Bible and the Reshaping the Middle East (2000), obtido assinalável sucesso.

O conflito israelo-palestino é uma das questões com mais profundas repercussões internacionais ao longo do último século. As origens do antagonismo entre as duas partes são habitualmente referidas ao período do Mandato Britânico (1920-1948), quando o Reino Unido assumiu o controlo administrativo da Palestina a seguir à Primeira Guerra Mundial, embora a tensão entre as duas comunidades seja realmente anterior.

O livro de Amy Dockser Marcus é o primeiro relato "popular" de uma era chave na história do Médio Oriente, assunto sobre o qual têm sido escritos centenas de livros eruditos e também vários de pura propaganda política. Durante séculos, Jerusalém foi um local onde conviveram em paz as três grandes religiões monoteístas (judeus, cristãos e muçulmanos), de acordo com as suas ricas e diversificadas culturas. A ascensão do Sionismo e as grandes vagas de imigrantes judeus, procurando reclamar o que consideravam ser a sua casa ancestral e adquirindo consecutivamente terras e imóveis, alarmou a população árabe, que anteviu, judiciosamente, a sua progressiva perda de poder. 

A Palestina integrava, desde há cinco séculos, o Império Otomano, onde coexistiam credos diferentes, quase sempre pacificamente desde que aceitassem a autoridade da Sublime Porta. A Revolução dos Jovens Turcos (1908) obrigou o sultão Abdul-Hamid II a restaurar o Parlamento, sendo o poder real entregue a um triunvirato de três paxás (Mehmet Talat, Ismaïl Enver e Ahmet Djemal) que procuraram imprimir um novo rumo ao Império. Mas essa data assinala também, com o despertar dos nacionalismos, o início da decadência otomana. A eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914) constituiu o desastre final. Mehmet V tinha sucedido a Abdul-Hamid II em 1909 e permaneceu no poder até à sua morte em 1918. Foi neste reinado que o Império Otomano, tendo-se juntado aos Impérios Centrais, viria a perder a guerra. O seu sucessor, Mehmet VI, não conseguiu impedir que os britânicos ocupassem Baghdad e Jerusalém, tendo a maioria do Império sido dividida pelos "aliados". Na Conferência de San Remo, em Abril de 1920, foram constituídos os territórios de mandato: a Síria e o Líbano para a França, a Palestina e a Mesopotâmia para O Reino Unido. O Tratado de Sévres (Agosto de 1920), confirmou San Remo e retirou ao Império Otomano o controlo da Anatólia e de Izmir, reduzindo-o à Turquia. Por outro lado, surgiu, independente, o Reino do Hejaz. Os nacionalistas ficaram decepcionados com Mehmet VI e foi instaurado um governo temporário sob a liderança de Mustafa Kemal Atatürk (1920). Em 1 de Novembro de 1922 a Monarquia foi abolida e proclamada a República, sendo primeiro presidente Mustafa Kemal Atatürk, que ganhara a guerra da independência turca (1919-1922). Mehmet VI foi exilado e sucedeu-lhe, já não como Sultão mas apenas como Califa, Abdul Mejid II (1922-1924). A República Turca foi reconhecida pelo Tratado de Lausanne em Julho de 1923. Em 1924, a Grande Assembleia Nacional Turca aboliu o Califado.

Achei por bem registar estes acontecimentos, que nos ajudam a compreender as vicissitudes ocorridas na Palestina durante o conturbado período da Primeira Guerra Mundial.

Mas regressemos ao conteúdo do livro. Quando chegou, em trabalho, a Telavive, em 1991, Amy Dockser Marcus apaixonou-se pela terra e pela sua história, e começou as suas investigações. Documentou-se, falou com a população local, árabes e judeus, e foi enviando as suas crónicas para o jornal, das quais resultou, em parte, o presente livro.

A questão da criação de um Estado para os judeus assumiu uma especial projecção com a publicação do livro Der Judenstaat (O Estado Judaico), em 1895/1896, do jornalista judeu austro-húngaro Theodor Herzl, que se  mostrou indignado com o famoso caso Dreyfus e com as perseguições e discriminações a que os judeus vinham sendo sujeitos em vários países da Europa. Depois das guerras dos judeus contra os romanos, admiravelmente descritas no célebre livro A Guerra dos Judeus, do famoso historiador judeu (cidadão romano) Flavius Josephus (37-100), a revolta da província romana da Judeia foi oficialmente encerrada em 70, com a vitória dos romanos, embora a luta se tenha prolongado até 73, com a tomada da fortaleza de Massada. As operações foram comandadas pelo imperador Vespasiano, tendo seu filho (e futuro imperador) Tito sitiado e destruído Jerusalém e arrasado o Segundo Templo (70). Em sua honra, ergueu-se, no Forum Romano, o Arco de Tito. No reinado do imperador Adriano eclodiu uma nova revolta judaica contra os romanos conduzida por um indivíduo que aqueles consideravam ser o Messias anunciado no Antigo Testamento. Adriano, que os judeus detestavam pela sua afeição pela cultura grega, sufocou a revolta e construiu, em 131, sobre as ruínas de Jerusalém anteriormente devastada por Tito uma nova cidade, Élia Capitolina (do seu nome, Públio Élio Adriano (Publius Aelius Hadrianus), edificando no local do Segundo Templo um novo templo dedicado a Júpiter Capitolino. Alterou também para Palestina o nome da província romana da Judeia, nome proveniente de Filistia, designação do território ocupado pelos filisteus desde os tempos faraónicos e que correspondia a uma vasta porção de terra compreendida entre o Mar Mediterrâneo e uma linha terrestre situada sensivelmente entre as actuais cidades de Gaza e de Telavive. Em consequência, os judeus dispersaram-se na sua maioria por territórios na Europa, na Ásia e na África, onde permaneceram maioritariamente até ao século XX, e ainda hoje parcialmente permanecem. A partir do século XIX, registou-se um importante fluxo migratório desses países para o continente americano, especialmente para os Estados Unidos da América. Esta migração do povo judeu, começada em 70, ficou conhecida como Diáspora, ainda que o termo também seja utilizado noutras circunstâncias. Costumam citar-se, a propósito, estas passagens do Antigo Testamento (Livro de Ezequiel - 22,15: «Eis que Eu mesmo te espalharei entre as nações e te expatriarei por todas as terras; colocarei um ponto final à tua imundície.»). Ou do (Livro de Jeremias - 9,16: «Também os espalharei por entre nações que nem eles nem seus pais conheceram; enviarei contra eles a espada, até que os tenha exterminado.»). Existem outras passagens semelhantes nos Livros do Antigo Testamento.

A Organização Sionista Mundial foi fundada por iniciativa de Theodor Herzl no primeiro Congresso Sionista Mundial, reunido em Basileia em Agosto de 1897. Herzl foi o seu primeiro presidente até à sua morte em 1904. A intenção primordial, além da conservação dos usos, costumes e rituais judaicos era a criação de um Estado para os judeus. Foram aventadas diversas hipóteses, entre as quais um território no Uganda, o planalto de Benguela (em Angola) e mesmo a ilha de Madagascar, mas a maioria dos delegados preferia a Palestina, especialmente por causa de Jerusalém. Deve dizer-se que Herzl não privilegiava a Palestina, que nem sequer conhecia e que acabou finalmente por visitar aquando da viagem àquele território do imperador alemão Guilherme II. O que ele realmente pretendia era um Estado independente, mas acabou por se vergar à tendência maioritária dos sucessivos Congressos sionistas.

Os congressos sionistas realizados posteriormente consideraram que a Palestina era o único território para a constituição do novo Estado Judaico e iniciaram uma progressiva aquisição de terras, inicialmente por métodos normais e posteriormente com o uso da força, aos seus legítimos proprietários Havia sido, entretanto, estabelecido um escritório judaico em Jaffa, próximo do local onde hoje se ergue a cidade de Telavive, para tratar da compra de terrenos e casas e começar a instalar os colonatos judeus. Apesar do Império Otomano ter sido sempre terra de acolhimento para judeus, o sultão Abdul-Hamid II não via com bons olhos a entrada maciça de judeus na Palestina, apesar da intenção da criação de um estado ter sido, tanto quanto possível, mantida em segredo. Refira-se que a aquisição de propriedades se fazia nos terrenos mais férteis em detrimento de solos improdutivos, mas privilegiando sempre a cidade de Jerusalém, que era o objectivo primordial da Organização Sionista. Aliás, os judeus costumavam despedir-se no fim das suas reuniões com a expressão: «No próximo ano em Jerusalém!».

A autora resolveu intitular o seu livro Jerusalém 1913 devido a um facto que ela expressamente refere. Em Maio de 1913, o realizador judeu russo Noah Sokolovsky chegou à Palestina com a intenção de realizar um filme sobre os colonatos judaicos. Estávamos nas vésperas da Primeira Guerra Mundial e Sokolovsky pretendia registar o empreendimento dos judeus na Palestina. O realizador trabalhou rapidamente e concluiu o filme em Junho seguinte. Regressou à Rússia para a edição do mesmo que veio a ser apresentado em Setembro no Congresso Sionista anual, em Viena. O filme foi muito criticado, mesmo pelos sionistas, pois Sokolovsky focou-se quase exclusivamente nos judeus, ignorando as vibrantes comunidades árabes de Jaffa e Haifa, que eram largamente maioritárias e raramente são mostradas nas imagens.

Segundo Amy Dockser Marcus, 1913 é o ano decisivo para a colonização judaica da Palestina. As vagas de judeus são incessantes, o que começa a provocar alarme nas populações árabes, que já não ignoram as intenções políticas do fenómeno. São realizados protestos junto da Sublime Porta pelas mais importantes famílias palestinianas, os Husseini, os Khalidi, os Nashashibi. Ruhi al-Khalidi (sobrinho de Yussuf al-Khalidi, presidente da Câmara de Jerusalém entre 1899 e 1907), que chegou a ser deputado ao Parlamento Otomano, foi um dos principais activistas e o conservador da mais notável biblioteca privada de Jerusalém, que ainda hoje existe. Escritor, professor, artista e político, Ruhi al-Khalidi deixou umas memórias inacabadas (morreu subitamente em Constantinopla em 1913, talvez envenenado) que a família nunca publicou.

O relacionamento entre as sucessivas instalações judaicas na Palestina e o Império Otomano sofreu várias flutuações. Os Jovens Turcos preferiram a concepção de um Império em que a otomanidade prevalecesse sobre o islão, como o demonstra a extinção do Califado. Exigiam a submissão ao Império, em detrimento das confissões religiosas e também eles tentaram travar a imigração judaica. Mas a guerra foi desfavorável a Constantinopla e os ingleses aliciaram os árabes para combater os turcos com a (falsa) promessa de um Grande Estado Árabe. O livro do coronel Thomas Edward Lawrence (Os Sete Pilares da Sabedoria) e o célebre filme Lawrence da Arábia ajudam a compreender a sinistra intriga britânica.

Em 1918, segundo a estatística das Nações Unidas, viviam na Palestina 50 000 judeus e 500 000 árabes (maioritariamente muçulmanos sunitas, mas incluindo um número significativo de cristãos católicos e ortodoxos), além de outras minorias religiosas. 

A população judaica foi aumentando a um ritmo impressionante, nomeadamente depois dos Acordos (secretos ?) Sykes-Picot, de 1916, que previa a divisão de esferas de influência no Médio Oriente entre o Reino Unido e a França, na previsível derrota do Império Otomano.

E, sobretudo, depois da Declaração Balfour, de1917, em que Lord Balfour, ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, no governo do primeiro-ministro David Lloyd George, endereçou uma carta ao barão Lionel Rothschild, líder da Comunidade Judaica do Reino Unido, para ser transmitida à Federação Sionista da Grã-Bretanha, em que declarava o seguinte:

"Caro Lord Rothschild,
 
Tenho o grande prazer de endereçar a V. Senhoria, em nome do governo de Sua Majestade, a seguinte declaração de simpatia quanto às aspirações sionistas, declaração submetida ao gabinete e por ele aprovada:
`O governo de Sua Majestade encara favoravelmente o estabelecimento, na Palestina, de um Lar Nacional para o Povo Judeu, e empregará todos os seus esforços no sentido de facilitar a realização desse objetivo, entendendo-se claramente que nada será feito que possa atentar contra os direitos civis e religiosos das coletividades não-judaicas existentes na Palestina, nem contra os direitos e o estatuto político de que gozam os judeus em qualquer outro país.´
Desde já, declaro-me extremamente grato a V. Senhoria pela gentileza de encaminhar esta declaração ao conhecimento da Federação Sionista.
Arthur James Balfour."

A ascensão de Adolf Hitler ao poder na Alemanha e as perseguições nazis aceleraram ainda mais o êxodo de judeus para a Palestina.

Segundo a Encyclopedia Britannica, havia em 1946, na Palestina, 1 200 000 árabes e 678 000 judeus, isto é, 64 % de população árabe. De 1918 para 1946 o número de judeus aumentou assim de 50 000 para 678 000,

O livro acompanha, quase quotidianamente, as actividades das principais personalidades árabes (muçulmanas e cristãs) e judaicas durante o ano decisivo de 1913, das suas relações entre si e das respectivas relações com os dirigentes otomanos, e depois turcos.  Os Jovens Turcos tinham-se comprometido adoptar uma série de reformas para a convivência das diversas comunidades mas as vicissitudes da guerra não permitiram a sua concretização. O Triunvirato que passou a governar o Império após a derrota na Primeira Guerra Mundial era constituído, como dissemos, por Ismaïl Enver, Mehmet Talat e Ahmet Djemal, a quem viria a ser atribuído o governo da Palestina. Em 1915, foi criada a Comissão do Crescente Vermelho, presidida por Husayn al-Husseini, e que englobava muçulmanos, judeus e cristãos, com a participação do judeu sefardita de Damasco Albert Antebi, grande amigo da família e figura proeminente que desempenhou um papel fulcral em todo o processo do estabelecimento judaico na Palestina, ainda que ele mesmo não se considerasse um sionista. Esta entidade tinha por missão negociar com o Governo Otomano as questões mais delicadas, já que os Jovens Turcos não privilegiavam qualquer confissão mas apenas exigiam a submissão a Constantinopla.

Em 1917, as tropas britânicos saem do Egipto em direcção à Palestina com a clara intenção de tomarem Jerusalém. Na iminência de perder a guerra, Ahmet Djemal, que não queria uma Palestina árabe (dado o apoio fornecido aos árabes pelos ingleses), persegue árabes cristãos e muçulmanos culpando-os de alianças pró-britânicas.

A autora recolheu sabiamente as memórias e testemunhos de pessoas, ou seus descendentes, desses conturbados tempos. E frisa a acção de duas personalidades notáveis que não sobreviveram ao fim da guerra: o árabe muçulmano Ruhi Khalidi (o herdeiro da celebérrima biblioteca) e o judeu não-sionista, mas que acabou por se ver envolvido na trama sionista, Albert Antebi: rivais, colaboradores, ambos devotos de Jerusalém, poderia mesmo dizer-se amigos. 

Uma outra figura notável da época, Wasif Jawhariyyeh, cristão ortodoxo de cultura árabe, poeta e compositor, escreveu no seu diário, depois da Declaração Balfour e da tomada de Jerusalém pelos britânicos: «the loss of our homeland» (p. 156)

Sobre Albert Antebi, a autora escreve: «During the war Albert Antebi ws also at work on a document describing his vision for the future, and it was clear that in it he no longer saw his place as being in Palestine. In 1914, soon after the war broke out, he had complained that the Zionists "claimed to be the only heirs of tomorrow." He recognized that this left him and others who shared his worldview as part of the past. The Zionists, he noted, had "conquered Palestine from the Arabs, Turkey, the European powers and the non-Zionists Jews." In papers found in his briefcase after he died, he argued that the region should be divided into cantons, with different groups controlling each one and the entire country overseen by France.» (pp. 156-7)

Entretanto, os judeus sionistas organizaram grupos terroristas armados que provocaram graves incidentes, como a explosão, em 22 de Julho de 1946, do grande Hotel King David, em Jerusalém, onde se encontrava o quartel-general britânico e de que resultou a morte de uma centena de pessoas de várias nacionalidades. O ataque foi protagonizado pela milícia sionista Irgun e organizado por Menachem Begin, que viria ser, posteriormente e por duas vezes, primeiro-ministro de Israel. Foi dito na altura que o objectivo era a destruição de planos comprometedores dos grupos paramilitares Irgun e Haganah relativos à estratégia sionista de ocupação da Palestina.

Em 1919, reunira-se o primeiro Congresso Árabe/Palestiniano em Haifa, para tentar coordenar a estratégia de afluxo de imigrantes judeus que chegavam cada vez em maior número. Tinham começado por essa altura as confrontações violentas entre os recém-chegados e os habitantes árabes instalados há milénios. Os judeus pretendiam impor a sua cultura, os árabes conservar a que desde sempre possuíam. Todavia, o aproximar do fim da guerra e da queda do Império Otomano dificultavam a adopção de soluções adequadas.

Em Abril de 1939, seis líderes árabes, reuniram-se e formaram o que ficou conhecido por Alto Comando Árabe, dirigido por Haj Amin al-Husseini, pertencente a uma das mais eminentes famílias de Jerusalém, e que fora amigo pessoal de Albert Antebi. O Alto Comando apelou a uma greve geral dos trabalhadores árabes e ao boicote dos produtos judeus. Iniciava-se um período de pré-guerra civil com os britânicos pelo meio. O professor e escritor palestiniano cristão ortodoxo Khalil Sakakini, uma das mais respeitadas figuras dos cristãos árabes, escreveu: «I pray to God the end will be good.» (p. 166)

«Arthur Ruppin [activista sionista, considerado o pai da sociologia hebraica e figura do maior destaque na época] found himself frequently involved in disagreements over how the Jews should respond. Some want to revive the peace talks that had been initiated in 1913 and then suspended because of the war. Ruppin himself even joined a new group called Brit Shalom, which advocated attempting to find a way for the two sides to share Palestine. But he began to find himself increasingly at odds with his friends , who continued to adhere to the idea that Herzl himself had promoted: namely, that eventually the Arabs would realize the economic advantages the Zionist movement brought to Palestine and come to terms  with their presence in the country. Ruppin now found himself taking the position that rational approaches such as these had no relevance for the tribal conflict that existed between the Jews and the Arabs. Political conflicts were not governed by "rational arguments", he told them, "but by instincts." (pp. 166-7)

Não é possível no espaço de um post desenvover a excepcional narrativa de Amy Dockser. O seu livro merece uma atenta leitura. Já me alonguei demasiado. Mas ainda referirei alguns momentos essenciais.

Atendendo à chamada Grande Revolta Árabe contra o Império Otomano instigada pelos ingleses, ao desenvovimento das milícias sionistas e da resistência árabe, cita a autora: «By 1942, Khalil Sakakini was writing in his diary that he saw one of only two possible ways to end the fighting: either the Arabs would remain in control of the land, or the Jews would undertake to assume that control. War was inevitable.» (p. 169)

Amy Dockser Marcus regressou à Palestina no período 2004-2006. 

Em 2004 conseguiu visitar a Biblioteca Khalidi, agora dirigida por Haifa Khalidi, familiar do fundador, que se encontra quase encostada à yeschiva Beir Idra, o que chegou a suscitar problemas judiciais. A Biblioteca contém obras preciosas e há um projecto para a sua digitalização e disponibilização internacional. Retrospectivamente, Amy Dockser confirma a sua convicção que o ano de 1913 foi o momento da grande separação entre a maioria árabe e a minoria judaica que haviam convivido pacificamente durante séculos, até à mise-en-marche do projecto sionista.

Em 2006, Dockser lê uma pequena notícia no jornal israelita "Haaretz", segundo a qual a Turquia anunciava a transferência para a Autoridade Palestiniana do imenso arquivo Otomano, compreendendo cerca de 14 000 páginas de documentos acerca de Jerusalém e da Palestina datando de 1500 a 1914. «The archive apparently contained records and information about land deals and land purchases that would be relevant in Jerusalem today. It wasn't clear yet what the archive would reveal, but the shadow cast by 1913 seemed to loom ever larger over the city's future.» (p. 188)

«Haim Ramon, an Israeli politician, told the press in an interview in December 2005, as Israel embarked on an election campaign, that he feared for the city. Jerusalem, he said, could end becoming "the non-Jewish and non-Zionist capital of Israel", referring to the growing number of ultrareligious Jews and Palestinian Arabs in the city, neither of whom identified with the state. Because the borders of the city have been expanded far beyond what would have been recognizable to Albert Antebi or Ruhi Khalidi in 1913, Israel's Jewish demographic control is now in danger. Out of the larger city's population today of 650,000, one in three people is a Palestinian Arab. The Old City, where Antebi e Khalidi once lived side by side, and where the sites with the deepest national and religious significance to the different ethnic communities are located, is now home to approximately 32,000 Arabs and only 4,000 Jews, according to government statistics published by the Israeli press.» (pp. 189-190)

«In a book published in 2005 called The Jerusalem Lexicon by researchers at the Institute, the geographer Shlomo Hasson articulated what had become clear to most people who studied the problem of Jerusalem's future. "The existence of a democratic state and the continuation of Jewish hegemony in Jerusalem necessitate getting out of the existing situation and adopting new solutions," Hasson wrote. "Above all it is desirable to separate the space in which Jews live from the space where Arabs live and for each side to have the most sovereignity in its area." This is where things had led, from 1913 to our own time - back to the idea of a separate peace.» (p. 190)

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Já vai longo este texto. Li o livro aquando da sua publicação. Como referi no princípio, reli-o agora. Desde a sua edição, em 2007, muito água correu sob as pontes. Mas o livro de Amy Dockser Marcus, norte-americana e judia, de que referi as passagens que se me afiguraram mais importantes, talvez ajude a explicar a situação a que se chegou nos dias que correm. A autora é insuspeita de parcialismo e exprime a sua nostalgia dos tempos idos, dos que ainda conheceu e dos que já não chegou a conhecer. Ignoramos a sua posição sobre a situação actual mas não é difícil acreditar que se sinta profundamente angustiada.

Diga-se, em jeito de conclusão, que as colonizações e descolonizações britânicas foram dos fenómenos mais perversos que a História Universal conheceu num período inferior a meio milénio.


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