Vi ontem o filme Une histoire d'amour et de désir, da realizadora tunisina Leyla Bouzid (2021).
Ovacionado no último Festival de Cannes, a película conta a história do relacionamento entre Ahmed, 18 anos, francês de origem argelina, não arabófono, que estuda literatura na Sorbonne e trabalha também em mudanças, e de Farah, uma jovem tunisina que chegou a Paris para completar os estudos e é sua colega na universidade.
A realizadora desenvolve o tema da literatura árabe erótica, através da evocação dos grandes poetas Abu Nuwas e Cheikh Nefzaoui, autor de O Jardim Perfumado, que são ensinados nas aulas. Ahmed apaixona-se rapidamente por Farah, a quem mostra Paris, mas recusa-se a passar das palavras aos actos, revelando uma timidez decorrente da sua educação. Farah chega mesmo a supô-lo impotente ou homossexual. Só com o tempo Ahmed consegue corresponder aos desejos ardentes de Farah, rapariga muito desenvolta, como as jovens tunisinas modernas. Todo este percurso nos é relatado por Leyla Bouzid, que aproveita para evocar a emancipação feminina na Tunísia (fruto de Bourguiba e de Ben Ali, poderia eu acrescentar, embora pareça que a sociedade tenha começado a fechar-se depois da primavera árabe) e a riqueza da cultura erótica árabe.
O filme apresenta as cenas mais íntimas com grande discrição mas suficientemente elucidativas da atracção dos corpos. E dá também a imagem da importância da reputação que é exigida em França às raparigas de origem árabe, através das censuras de Ahmed à sua irmã, que se encontra livremente com os amigos.
Algumas particularidades culturais muçulmanas são-nos também reveladas, como, por exemplo, o facto de Farah beber vinho e Ahmed coca-cola (ou bebidas semelhantes).
O papel de Ahmed é interpretado pelo actor francês Sami Outalbali (n. 1999), que foi considerado um ícone gay pela comunidade LGBT francesa. Ignoro se ele é homossexual. Farah é interpretada pela actriz tunisina Zbeida Belhajamor (n. 1999).
Sem comentários:
Enviar um comentário