terça-feira, 25 de janeiro de 2022

A ORIGEM DO CRISTIANISMO


Tenho estado a ler Jésus après Jésus, de Gérard Mordillat e Jérôme Prieur, publicado em 2004 e que adquiri nessa altura. Só agora tive oportunidade de sobre ele me debruçar.

Trata-se de um livro sobre a origem (histórica) do Cristianismo, muito bem documentado, mostrando o profundo conhecimento dos autores sobre a matéria. Recheado de citações da Bíblia (algumas das quais me empenhei em confirmar), a obra recorre especialmente ao Novo Testamento, mas também ao Antigo, apontado as inúmeras contradições dos textos bíblicos (o que não constitui surpresa para ninguém) e as circunvoluções dos exegetas para conciliar afirmações realmente tão díspares.

Ao contrário do que ensina a doutrina da Igreja, Jesus Cristo não criou nenhuma religião nova. Sendo judeu, provavelmente da seita dos essénios, Jesus cresceu com os ensinamentos do Antigo Testamento, propondo algumas vias diferentes das proclamadas pelos sacerdotes de Jerusalém. A ira destes, que se consideravam os verdadeiros intérpretes da tradição, levá-los-ia a desejar, e a conseguir, a sua morte. Digamos que o "cristianismo" primitivo não terá passado de uma dissidência do judaísmo, só mais tarde assumindo personalidade própria.

Segundo os Actos dos Apóstolos, foi em Antioquia que os discípulos receberam pela primeira vez o nome de Cristãos, uma das três vezes em que a palavra é mencionada no Novo Testamento (p. 177). Recorde-se que Antioquia era a terceira comunidade judaica do Império Romano, depois de Jerusalém e de Alexandria.

No início, os judeus que seguiam a palavra de Jesus oravam nas sinagogas em conjunto com os demais crentes da Antiga Aliança, ao princípio misturados e depois separados uns dos outros, constituindo dois grupos. Só mais tarde foram erigidas igrejas, muitas das quais chamadas basílicas, já que utilizavam os edifícios das antigas basílicas romanas, que eram espaços de reunião. A própria palavra "igreja" mais não é que a derivação da palavra grega ekklesia, isto é, assembleia, pois era em ekklesia que os cidadãos gregos se reuniam em assembleia, na agora, para deliberarem sobre a administração da cidade.

Porque o livro é denso e muito pormenorizado na análise do Cristianismo dos primeiros tempos, só posso registar algumas das afirmações que me parecem mais importantes. Uma delas é a referência sistemática ao facto de Tiago (Tiago Maior, filho de Zebedeu) ser irmão de Jesus. Segundo os autores, foi ele o sucessor natural de Jesus na chefia da "igreja" de Jerusalém, e não Pedro, considerado o primeiro chefe da Igreja (em Roma). Como Jesus, também Tiago viria a ser supliciado, devido à sua contestação do sumo-sacerdote judaico de Jerusalém. 

Ocorre dizer aqui que os livros do Novo Testamento (Evangelhos, Epístolas, Actos dos Apóstolos, Apocalipse) referem muitas vezes os mesmos acontecimentos de forma diversa e anacrónica. Não são naturalmente fontes históricas mas tão só os livros sagrados de uma nova religião. Aliás, não existem propriamente fontes históricas dos primórdios do Cristianismo. As únicas referências coevas sobre a emergência desta nova "crença" constam das obras do historiador judeu romano Flávio Josefo, Antiguidades Judaicas e A Guerra dos Judeus, e são parcas.

Afigura-se, pois, que a criação do Cristianismo como religião nova, autónoma do Judaísmo, se deve a Paulo (de Tarso), denominado o "apóstolo das gentes", isto é, dos gentios, dos estrangeiros, dos não judeus. Paulo, originalmente chamado Saulo, era um jovem judeu, provavelmente fariseu, que combatia a "seita" de Jesus. Converteu-se à Boa Nova na estrada de Damasco, quando Jesus lhe apareceu e o cegou. Em Damasco, Saulo (a quem Deus muda o nome para Paulo) é baptizado por Ananias [numa casa onde já estive, na Rua Direita da Cidade Velha] e recupera a vista, após se ter convertido. Perseguido pelos judeus ortodoxos, foge de um edifício [hoje igreja desactivada também na Cidade Velha de Damasco e onde também estive] escondido num cesto, de que existe uma pretensa reprodução na tal igreja, oferecida por católicos italianos. Do episódio da ida de Paulo para Damasco, da sua fuga, do regresso a Jerusalém, das suas viagens, da sua pregação, dos seus escritos, há versões não coincidentes no Novo Testamento mas que convergem num ponto: Paulo foi uma figura enigmática, estranha. 

Transcrevo da página 157: «Si Paul est le dernier de la liste, il est surtout, comme on dit, le dernier des derniers. "Je suis le moindre des apôtres; je ne mérite pas d'être appelé apôtre" (1 Co 15,9). C'est un moins que rien, un "avorton". L'ektroma, selon le mot grec qu'il emploie, désigne le nouveau-né d'une mère morte en couches. Après lui le déluge, ou plutôt la fin des temps. Il est le Macduff de cette histoire dont Pierre ou Jacques seraient Macbeth: "Ne crains rien Macbeth, nul homme né d'une femme n'aura pouvoir sur toi!" (Macbeth, acte V, sc III). Et, bien que dernier de la liste, cet avorton, cet enfant né d'une mère morte en couches (le judaïsme?), Paul prendra l'avantage sur tous les autres apôtres.»

Sobre a harmonia dos contrários, pode ler-se na página 187: «La bataille pout l'orthodoxie était commencée. Bien que l'élaboration du Nouveau Testament allait durer encore deux siècles, les chrétiens seront quasiment parvenu à ce mettre d'accord sur son contenu dès la fin du IIe siècle. Il en allait de leur survie en tant que communauté de fidèles. En édictant un canon, une règle de foi commune, le Nouveau Testament définissait en fait un consensus acceptable par des partenaires très différents, un modus vivendi. Les textes réunis par lui exprimaient des options à l'intérieur du christianisme primitif, des luttes de tendances entre des groupes qui se reconnaissaient dans des traditions écrites différentes et qui, le plus souvent, s'excluaient. Quoi de commun en effet entre l'évangile de Mathieu, l'école johannique, la tradition paulinienne, l'Apocalypse et l'épitre aux Hébreux? C'est une orthodoxie à géometrie variable. La chance du christianisme aura été ce Nouveau Testament qui réussira, à terme, à imposer l'harmonie des contraires, à préserver la multiplicité tout en sauvant le groupe du risque majeur qui le menaçait: l'implosion.»

Porque o texto é riquíssimo de informações, e não é possível escrever sobre tudo, parece-me mais útil proceder a algumas transcrições.

«Après l'opposition entre les disciples et la famille de Jésus, après la dispute entre les Hébreux et les Hellénistes, le concile de Jérusalem  et surtout l'incident d'Antiochie marquent la troisième fracture significative dans l'histoire de la communauté primitive. Malgré les efforts du récit  des Actes des Apôtres pour embellir la fresque des premiers temps, nul ne peut contester qu'après la prise de pouvoir par Jacques, la mise en cause de Pierre et l'éloignement de Paul, plus rien ne sera comme avant.

De façon schématique, on peut dire que deux interprétations se feront désormais face au sein du mouvement des disciples du Christ Jésus, l'une tournée vers Israël et encadrée par Jacques, l'autre impulsée par Paul, tournée vers les païens, c'est-à-dire les craignants-Dieu, parmi lesquels les partisans de Jésus vont obtenir l'audience la plus large. Ces deux courants, qui ne cesseront de s'éloigner l'un de l'autre, ne se réuniront plus jamais. Il y aura désormais des communautés "pagano-chrétiennes" affranchies de la circoncision et de l'observance de la Loi, et des communautés "judéo-chrétiennes" totalement inscrites dans la tradition d'Israël. Après la séparation de corps entre circonscris et incirconscris, l'affaire de la collecte marque la séparation de biens, une frontière infranchissable entre le pur et l'impur. Dès lors, le divorce est inévitable.» (pp. 220-1)

A questão da circuncisão foi sempre um pomo de discórdia entre os partidários de Jesus pagãos e os partidários judeus. Estes últimos queriam a manutenção da circuncisão contra a vontade daqueles, aliás sustentados por Paulo.  

«"Pour la communauté juive, et pour la communauté chrétienne juive, qui n'accordaient aucune créance à sa vocation particulière ni à sa mission, Paul était un apostat", conclut Alan Segal dans son livre sur Paul [Paul le converti. Apôtre ou apostat], un apostat un raison de son attitude à l'égard de la Torah et tout particulièrement en raison de son hostilité à la circoncision, signe d'appartenance au peuple juif.» (p. 307)

«Ce à quoi le personnage fictif de Pierre fait allusion, c'est à d'autres fictions de Pierre. À Simon-Pierre-Céphas, la figure tutélaire du chef des disciples de Jésus, quelques textes chrétiens ont en effet confié la charge de réconcilier les frères ennemis du christianisme primitive, Paul et Jacques, l'aile pagano-chrétienne et l'aile judéo-chrétienne.» (p. 312)

«Paul fut-il, comme le prétend souvent, l'inventeur du christianisme? D'un point de vue catholique, Jésus est le fondateur du christianisme - mais un fondateur qui n'aurait pas fondé de religion. Poutant le christianisme n'est pas fondé sur Jésus, mais sur la croyance en Jésus-Christ. Or  cette reconaissance de Jésus comme Christ est postérieure à Jésus, elle remonte aux disciples, à Paul qui l'annonce dans ce qu'il appelle son évangile. Un évangile qui ignore le Jésus historique, le Jésus de chair (seules quatre paroles du Seigneur sont évoquées par Paul dans l'ensemble de ses épitres!), mais un évangile qui met en pleine lumière le Jésus ressuscité, le Jésus envoyée des cieux, le Jésus surnaturel.» (p. 316)

O autor debruça-se pormenorizadamente sobre a extraordinária figura de Marcião de Sinope, que, pela primeira vez, propôs a constituição de um cânone bíblico.

«Marcion est un personnage capital du christianisme primitif. Sans lui peut-être Paul n'aurait-il pas l'envergure qu'il a prise aujourd'hui. Mais Marcion est le premier "hérétique" du christianisme.  Si son apport reste décisif, sa mémoire a été occultée. Ainsi tous ses écrits ont disparu, ils ont été perdu ou détruits. Nous ne les connaissons qu'à travers les citations qu'en donnent ceux qui le combatirent, comme Tertullien, qui lui a consacré tout un ouvrage en quatre volumes, Contre Marcion, pour le réfuter. La troisième rédaction, la seule qui a été conservée, date de la période 207-212.» (p. 319)

«Le nom de Marcion n'est aujourd'hui connu que des spécialistes du Nouveau Testament. Paradoxalement, pourtant, l'influence de ce banni a été sans doute plus déterminante sur l'évolution de l'Église que celle de bien des saints vénérés sans raison. Ses idées imprègnent la pensée chrétienne, son dieu bon se retrouve sous la forme populaire du "bon Dieu", et son anti-judaïsme militant a structuré toute la chrétienté jusqu'à nos jours. Quant à la canonisation des textes, qui commencera à se réaliser une vingtaine d'années après sa mort, il est certain qu'elle est venue en réaction contre ces choix draconiens. C'est ainsi que se constituera, sur le même principe, pour définir un ensemble de textes de référence, la deuxième partie de la Bible chrétienne: le Nouveau Testament - la "nouvelle alliance" comme il est dit dans Jérémie: "Voici venir les jours - oracle de Yahvé - où je conclurai avec la maison d'Israël (et la maison de Juda) une alliance nouvelle" (Je 31,31)» (p. 325)

Os "Actos dos Apóstolos" é o último livro a integrar o Novo Testamento.

«Vers 960 avant notre ére, le premier Temple de Jérusalem construit par Salomon, fils de David, avec l'aide d'Hiram, le roi de Tyr, dépassait en richesses et en splendeurs toutes les autres constructions: l'or et l'argent y étaient partout, les pierres précieuses, les bois les plus coûteux avaient servi à son édification selon la demande de Dieu lui-même: "Pourquoi ne me bâtissez-vous pas une maison de cèdre?" (2S 7,7). Ce Temple sera détruit par les Babyloniens sous Nabuchodonosor, en 586 avant notre ère. Soixante-dix ans plus tard, vers 515, Cyrus autorise le retour des juifs exilés en Babylone et, malgré l'hostilité farouche des populations non juives, décrète qu'ils peuvent reconstruire un nouveau temple.

Le second Temple...

En 66 la révolte juive éclate en Palestine, et Titus est appelé pour la mater. En 70 il assiège Jérusalem et, le 29 août, les légionnaires prennent d'assaut le Temple. Dans La Guerre des Juifs, l'historien Flavius Josèphe raconte: "Et c'est là qu'un soldat, sans attendre les ordres, sans être effrayé par une telle initiative, mû par un sorte d'impulsion surnaturelle, arracha un brandon aux boiseries en feu et, soulevé par un de ses camarades, jeta le brandon par une petite porte d'or qui donnait accès, du côté nord, aux habitants entourant le sanctuaire. Les flammes jaillirent et provoquèrent chez les juifs une clameur digne de la catastrophe. Ils s'élancèrent à la rescousse sans souci d'épargner leurs vies ou de ménager leurs forces, maintenant qu'allait disparaître l'objet de leur vigilance passée." Et plus loin: "Dieu certes avait depuis longtemps condamné le bâtiment à être brulé, mais le jour fatal, du fait de la révolution des temps, était maintenant arrivé ce dixième jour du mois de Loüs où, déjà auparavant, il avait été incendié par le roi de Babylone."

Flavius Josèphe recense quatre-vingt-dix-sept mille prisonniers et plus d'un million de morts dans le camp juif après la guerre de 70! Même si les chiffres astronomiques sont à relativiser très largement, l'hyperbole signifie l'étendue du désastre. La Judée passe sous le contrôle exclusif de la 10e légion, tandis que Yohanan ben Zacchaï, par faveur spéciale de l'empereur Vespasien, est autorisé à s'établir à Yabné: il y fonde une école dont les travaux arrêtent le canon de la Bible hébraïque et centrent le judaïsme sur l'enseignement et la pratique de la Loi. Il n'y aura plus désormais ni rois, ni prêtres, ni sages, mais des savants: des rabbins. Le Temple détruit, une page de l'histoire du judaïsme est tournée pour toujours.

De cet embrasement vont naître, comme le dit Guy Stroumsa [Savoir et Salut. Traditions juives et tensions dualistes dans le christianisme ancien], "trois religions nouvelles": le judaïsme rabbinique tel que nous le connaissons encore aujourd'hui, le christianisme et la gnose, qui se diluera dans les hérésies juives, chrétiennes et musulmanes. Sans la destruction du Temple, vraisemblablement n'y aurait-il jamais eu de christianisme. La chute du Temple de Jérusalem est donc une date capitale de l'histoire juive - et, par contrecoup, de l'histoire chrétienne - dans la mesure où disparaît en même temps que le monument voué à Yahvé tout le système cultuel placé sous l'autorité des grands prêtres, majoritairement de tendance sadducéenne.» (pp. 331-2)

«En 70 on ne peut pas encore parler de "chrétienté", le mot lui-même est inconnu. Disons que les communautés qui manifestent leur foi en Jésus le Christ se divisent en trois groupes: d'une part des païens (les "pagano-chrétiens"), essentiellement hors de Palestine, d'autre part des communautés mixtes à travers la diaspora, enfin des juifs des communautés fermées (les "judéo-chrétiens") qui sont en Judée, en Galilée, en Samarie.» (p. 338)

«En 132, l'empereur Hadrien décrète l'interdiction générale de la circoncision, considérée comme une castration; il proscrit le respect du sabbat et rebaptise la Jérusalem romaine de Aelia Capitolina. La lex Cornelia de sicariis et veneficis a pour ambition de forcer l'assimilation des juifs dans l'Empire romain. Aussitôt, les mêmes causes produisant les mêmes effets, comme du temps d'Antiochus Épiphane et des Maccabées, l'insurrection est générale. Une fois encore les juifs prennent les armes. Leur chef s'appelle Bar Kochba, nommé par rabbi Akiva "fils d l'Étoile". On voit en lui le messie attendu et la réalisation de l'oracle: "Un astre issu de Jacob devient chef, un sceptre se lève, issu d'Israël" (Nb 24,17)» (p. 343)

«Dans sa préface d'Harmonia abramica, Henri Corbin formule cette idée provocatrice: "Le Coran n'est lui-même anti-juif ou anti-chrétien que précisement parce que il est judéo-chrétien." Et ce n'est pas le moindre paradoxe de l'histoire chrétienne que de constater que c'est le courant le plus fidèle au judaïsme à l'intérieur des partisans de Jésus qui, chassé de Palestine après 135, va trouver refuge en Arabie, et y survivre suffisament longtemps pour être une des composantes importantes de la naissance de l'islam. De nombreux personnages de la Bible hebraïque et du Nouveau Testament apparaissent dans le Coran: Abraham, Isaac, Ismaël, Jacob, Jonas, Joseph, Marie, Jean le Baptiste, Jésus...» (p. 345)

«En 1906, Mgr Duchesne prononce cette oraison funèbre sans aménité: "Le judéo-christianisme a fini obscurément et misérablement." Ce à quoi H. Lietzmann ajoute: "L'Église qui représantait le christianisme universel et s'efforçait de conquérir le monde ne s'apperçut pas de  cette disparition." [François Blanchetière, Enquête sur les racines juives du mouvement chrétien]

Si avec la chute du Temple en 70 une page de l'histoire du judaïme était définitivement tournée, avec la défaite de 135, c'est une page du christianisme qui se ferme pour toujours. Sa dernière page juive. Entre les païens et les juifs, on parlera désormais à propos des chrétiens de tertium genus, le "troisième genre".

La situation des pagano-chrétiens hors de Palestine, sans être aussi désastreuse que celle des judéo-chrétiens, n'a pas été pour autant très confortable. Aux yeux des autorités romaines, ce sont peu ou prou des juifs messianisants - même s'ils ne sont pas juifs mais simplement craignant-Dieu, et même s'ils n'ont pas aucune part directe dans la guerre de Judée. À ce titre, ce sont des suspects, des sujets dangereux. Le livre des Actes indique, au chapitre 11, au moment même où Barnabé recrute Paul pour le seconder: "C'est à Antioche, por la première fois, que les disciples reçurent le nom de chrétiens" (Ac 11,26)

C'est une appelation venue des Romains. Le terme christianoi ("chrétien") est un néologisme qui présente la particularité d'associer au latin christiani le suffixe oi qui indique une relation particulière, une sujétion; ainsi les Herodianoi sont, dans l'évangiles synoptiques, les partisans ou les fidèles du roi Herode. Autre particularité remarquable, la désignation des disciples de Jésus ne se fait pas en fonction du nom de ce dernier mais de son titre, christos.» (p. 348)

«Comme le résume bien Alfred Loisy [La Naissance du christianisme], "bien que les chrétiens prétendissent avoir le même dieu que les juifs, ils n'étaient pas juifs, ils ne voulaient pas l'être, et les juifs leur refusaient cette qualité, pour la bonne raison que les chrétiens s'étaient mis hors de la Loi et de ses observances. Quoi qu'il en fût du dieu, la religion n'était pas la même. D'ailleurs, si les chrétiens n'étaient pas juifs, ils n'étaient pas davantage une nation particulière à côté des juifs. Ils n'étaient pas que les fidèles d'un dieu très jaloux, aussi absolu que celui des juifs, mais n'ayant que des prétentions, sans nation qui aurait été à son service héréditairement. Il aspirait à l'empire du monde, et il refusait d'être inscrit au catalogue des divinités nationales, qu'il entendait bien déposséder toutes, sans délai ni rémission. Car ce n'était pas une divinité abstraite et lointaine, avec des droits théoriques dont l'échéance d'application aurait été indéterminée. Il était là, pressant les hommes de se soumettre à lui, au plus tôt, c'est-à-dire de renier comme faux et mauvais tous les dieux de l'institution impériale".» (p. 349)

«Flavius Josèphe, à travers son histoire des juifs, avait voulu prouver aux Romains que la Loi de Moïse devait devenir la loi morale universelle, donc s'imposer à l'empire. Son discours qui s'adressait à la cour et aux lettrés n'atteignit jamais les couches populaires. En empruntant le chemin inverse, le christianisme va réussir à acclimater le christianisme à l'empire, mais au prix d'un sacrifice: celui des juifs.

Les pagano-chrétiens et la Rome païenne et impériale s'accordent sur ce point: les juifs sont l'obstacle permanent dont il faut se défaire. Selon Marcel Simon, "montrer que le juif éternellement insurgé contre Rome est aussi l'ennemi du christianisme, et que ses menés atteignent au même titre le vieil État que l'Église naissante, c'est fournir à l'entente désirée un motif de plus". [Verus Israël]

Les Romains les ont combattus par les armes, les chrétiens vont les combattre par les textes. La manoeuvre est savante: il s'agit tout à la fois de conserver les écritures juives comme précieux héritage du passé et d'en déposséder les juifs sous prétexte qu'ils n'ont pas su les lire. Ils ne savent pas voir que chaque ligne de la Bible hébraïque, depuis la Genèse jusqu'au dernier des Prophètes, tout annonce la venue et la manifestation du Christ Jésus. Le Christ "est le trésor caché dans les écritures", dit Irénée.» (p. 355)

«Plus tard, dans le Dialogue avec Tryphon, son oeuvre la plus célèbre, Justin assènera au rabbin qu'il a inventé pour mieux dialoguer avec lui un argument définitif: puisqu'il est prouvé - selon lui - que les juifs méconnaissaient leurs propres textes, il faut en conclure qu'ils ne sont pas le véritable Israël! Pour preuve il rappelle ceci: "Lorsque l'Écriture dit 'Je suis le Seigneur Dieu, le Saint d'Israël, celui qui a montré Israël à votre roi' (Is 43,15), n'entendez-vous point qu'on parle en réalité du Christ, le roi éternel?"; et plus loin: "De même donc que le verbe appelle le Christ, Israël et Jacob, de même nous aussi qui avons été comme taillés du sein du Christ, nous somme la véritable race israélite." D'un trait de plume les chrétiens effacent l'histoire et deviennent Verus Israël, le véritable Israël".

La Bible hébraïque - qui est le livre des juifs, y compris des juifs chrétiens - change de mains. Rebaptisée "Ancien Testament" par opposition au "Nouveau Testament", la Bible va de plus être confisquée par les chrétiens: "Vos Écritures, ou plutôt, non pas les vôtres, mais les nôtres car nous nous laissons persuader par elles, tandis que vous les lisez sans comprendre l'esprit qui est en elles", explique Justin à Tryphon.» (p. 356)

«Sur le plan historique, il n'y a pas de synchronisme. Le divorce entre les juifs (y compris les derniers judéo-chrétiens) et les chrétiens (c'est-à-dire les pagano-chrétiens) est un long processus. Il a commencé bien avant 150 et se poursuit bien après la conversion de l'empereur Constantin au christianisme en 312, qui entérine le statut légal de la nouvelle religion, voire après 380 quand elle devient religion d'État et que, dans la foulée, vont être interdits les cultes païens et, sous peine de mort, la conversion au judaïsme.» (p. 357)

«Cette sainte alliance entre l'empire et l'Église scelle la fin du christianisme comme religion de l'amour du prochain. Elle inaugure un système religieux qui servira de caution spirituelle à la puissance impériale et, au cours de l'histoire, à tous les pouvoirs qui s'en revendiqueront, aussi tyraniques soeint-ils. Paradoxalement l'Église, en se confondant avec le pouvoir séculier, va apparaître comme l'instrument par excellence des classes dominantes tout en prétendant défendre, au nom de l'Évangile, la cause des pauvres, des déshérités, des purs, des intègres et des justes. D'un côté, il y a donc une organisation puissament hiérarchisée, fondamentalement conservatrice et coercitive qui tiens le discours de l'ordre dominant, et de l'autre un message de liberté, de justice et de miséricorde. Les textes du Nouveau Testament offrent suffisament d'arguments pour étayer l'une ou l'autre interprétation.» (pp. 360-1)

Registei, pois, algumas das passagens que me pareceram mais importantes das derradeiras páginas do livro. Mas todo ele é prenhe de considerações sobre os textos que viriam a sustentar a nova religião, sobre as suas contradições e anacronismos, sobre as primeiras heresias, as lutas entre os "novos" cristãos e os "velhos" judeus, que o Catolicismo designava por "pérfidos" na Missa, ainda no meu tempo e que a História (e a Literatura: Shakespeare, em O Mercador de Veneza) estigmatizou.

Os interessados no tema deverão ler este livro.


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