domingo, 3 de novembro de 2013

ALBERT COSSERY




Completam-se hoje 100 anos sobre o nascimento, no Cairo, do escritor egípcio Albert Cossery, falecido em Paris em 2008. Pertencendo a uma família greco-ortodoxa sírio-libanesa natural de Al-Qusayr (perto de Homs, na Síria), viajou para Paris com 17 anos e estabeleceu-se definitivamente na capital francesa em 1945, vivendo no Hotel La Louisiane até morrer.

Amigo de muitos escritores como Albert Camus, Jean Genet ou Lawrence Durrell. frequentou assiduamente o Café de Flore e o Café des Deux Magots, no coração de Saint-Germain-Des-Prés, a zona da cidade que mais apreciava.

A sua obra, ao longo de 60 anos, inclui apenas oito romances (Cossery cultivava a preguiça na vida como nos livros, onde a exaltava) socialmente "incorrectos", embora não tão "escandalosos" como os de Genet. Só saía do hotel da parte da tarde, e por isso nunca arranjou um emprego, que aliás não pretendia.

Os seus títulos incluem Les hommes oubliés de Dieu (1940), La maison de la mort certaine (1944),
Les fainéants dans la vallée fertile (1948), Mendiants et Orgueilleux (1955),  La violence et la dérision (1964), Un complot de saltimbanques (1975),  Une ambition dans le désert (1984) e Les couleurs de l'infamie (1999). Deixou um livro inédito e inacabado, Une époque de fils de chiens, que será publicado brevemente em apêndice a uma nova edição de Mendiants et Orgueilleux, a sua mais emblemática obra. 

O autor adaptou ao teatro o seu romance Les fainéants dans la vallée fertile, que foi passado ao cinema (realização de Nikos Panagiotopoulos). Também existem filmes de Mendiants et Orgueilleux (Beggars and Noblemen, direcção de Asma Al-Bakri) e de La violence et la dérision (The Jokers, direcção de Asma Al-Bakri).

Sobre Albert Cossery podem ler-se Conversations avec Albert Cossery, de Michel Mitrani, L'Égypte de Cossery, de Sophie Leys e Monsieur Albert: Cossery, une vie, de Frédéric Andrau.

Na obra de Cossery, independentemente de referências locais, está sempre presente o Egipto da sua juventude, nomeadamente a cidade do Cairo, e o povo egípcio, que tanto amava, com os seus vícios e as suas virtudes. Especialmente com os seus "vícios".

Os livros de Cossery encontram-se traduzidos em português.

2 comentários:

Zephyrus disse...

«Na obra de Cossery, independentemente de referências locais, está sempre presente o Egipto da sua juventude, nomeadamente a cidade do Cairo, e o povo egípcio, que tanto amava, com os seus vícios e as suas virtudes. Especialmente com os seus "vícios".»


Consta que no deserto egípcio, antes da Segunda Guerra, os homens da tribos ainda preferiam os prazeres proibidos das Cidades da Planície aos prazeres proporcionados pelas descendentes de Eva. Consta que diziam que as mulheres eram pérfidas. Entretanto, com o avançar do fundamentalismo islâmico, o costume morreu, e hoje as autoridades egípcias e os líderes tribais negam os hábitos amorosos dos seus ancestrais, descritos pelos homens do Ocidente.

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

PARA ZEPHYRUS:

Observação pertinente. Estes costumes têm diminuído, pelo menos na aparência, se bem que eu esteja convencido de que, na realidade, prevalecem em muitos lugares, dissimulados.

Tal facto é ainda uma consequência da colonização. Lembremo-nos de que foram os ingleses que introduziram a criminalização de certas práticas em terras da África e da Ásia.

Mais um dos efeitos nefastos do colonialismo. Todavia, os mesmos ingleses não prescidiam delas. Recordemos, tão só no Egipto, Cecil Rhodes e Gordon Pasha.