domingo, 25 de março de 2012

O AMANTE ROMENO


Foi editado no mês passado o novo livro de Gilles Leroy, Dormir avec ceux qu'on aime. Trata-se do relato da visita do autor a Bucareste, para o lançamento da edição romena de Alabama Song, em Fevereiro de 2008, e do coup-de-foudre, recíproco, pelo jovem Marian Iliescu, de 26 anos, empregado da livraria Globo (um nome provavelmente fictício; não conheço na cidade livraria importante com tal nome), onde teve lugar a apresentação do livro.

Autor de uma vasta obra, Gilles Leroy (n.1958) recebeu importantes prémios literários, nomeadamente o Goncourt, em 2007, pelo citado romance Alabama Song. No livro agora em apreço, Leroy, além de nos contar a paixão súbita pelo jovem romeno, o segundo homem, entre todos os que conhecera, com quem poderia viver a "transcendência romântica" (o primeiro fora um jovem russo muitos anos atrás), descreve-nos a sua vida errante pela Europa, os países árabes e as Américas,  fazendo conferências, apresentando livros (está traduzido em mais de 20 línguas, incluindo o português), trabalhando como jornalista.

São particularmente convincentes as suas descrições da angústia nos aeroportos (as portas, os controles, as bagagens), da monotonia dos quartos dos hotéis (que se repetem cidade após cidade), das viagens de avião (em que se passam horas de imobilidade), das deslocações de comboio através a França (onde os passageiros, dos adolescentes aos idosos, ocupam todo o tempo do percurso agarrados aos computadores, às consolas de jogos, aos telemóveis, sem uma olhadela sequer para a paisagem exterior).

Estas descrições, e muitas outras observações, próprias de quem viaja amiúde pelo mundo, tornam sedutora a leitura de Dormir avec ceux qu'on aime. Gilles Leroy não se furta também a diversos comentários sobre o regime de Nicolae Ceausescu e de sua mulher Elena. E sobre o fuzilamento de ambos, em 25 de Dezembro de 1989. Conta-nos também  uma estória, que lhe teria sido relatada pela governanta da villa onde ficou instalado na Roménia, mas que se afigura apenas fruto da sua imaginação. O filho mais novo do Conducator, Nicu, a quem atribui uma beleza extraordinária (ao contrário dos seus irmãos), seria um playboy, um alcoólico e um toxicodependente que levaria para o Palácio do Povo, por corredores escusos e à revelia dos pais, rapazes do sub-mundo de Bucareste. Ter-se-ia depois relacionado com uma jovem cantora que se deslocava habitualmente envolta em véus e que mais não era do que um jovem de 20 anos, educado num orfanato, e por quem Nicu se apaixonara. Ao ter conhecimento da execução dos pais, Nicu matara o jovem, suicidando-se de seguida.

Esta estória, que surge no final do livro, tem o seu quê de romântico mas não corresponde à realidade. O filho mais novo de Ceausescu, que foi realmente ministro da Juventude e estava a ser preparado para suceder ao pai,  foi preso a seguir à revolução, condenado a 20 anos de prisão mas libertado em 1992, por sofrer de cirrose. Morreu em Viena em 1996, com 45 anos.

Gilles Leroy é, desde 2010, cavaleiro da Ordem Nacional do Mérito (de França).

2 comentários:

Anónimo disse...

TAMBÉM JÁ ESTIVE EM BUCARESTE. UMA ESPLÊNDIDA CIDADE COM GENTE MUITO BONITA. E COM MUITOS CAFÉS.

NÃO ME ADMIRA QUE O ESCRITOR TIVESSE FICADO APAIXONADO. EU TAMBÉM FICARIA EM SITUAÇÃO SEMELHANTE.

E HÁ AINDA MUITA GENTE COM ALGUMAS SAUDADES DO ANTIGO REGIME. SOFREM AGORA COM O NOVO CAPITALISMO.

Anónimo disse...

coisa sem nexo
porque sera q existem algumas pessoas com saudades do Antigo Regime, alias so sistema politico
derrubado.
observação sem qualquer valor,apenas
que o comentador esteve em Bucareste. Parabens