O livro de Jeremy Scahill Blackwater: The Rising of the World's Most Powerful Mercenary Army
Em 1997, o multimilionário cristão fundamentalista Erik Prince, de 28 anos, sentindo-se investido por uma missão divina, criou uma empresa militar privada - a Blackwater - instalada em Moyock, na Carolina do Norte, para formar os soldados americanos. Após os atentados de 11 de Setembro, essa empresa tornou-se uma das peças-chave do dispositivo de guerra americano desenvolvido por George W. Bush.
Os mercenários da Blackwater, os "cães de guerra" dos EUA no Afeganistão e no Iraque (por enquanto), encarregam-se das missões "sujas" consideradas inconvenientes para os soldados do exército regular norte-americano. Dispondo dos mais modernos equipamentos, os homens da Blackwater, nas palavras de um membro do Congresso, constituem "um exército capaz de derrubar a maior parte dos governos do mundo".
Entre 2001 e 2009, a empresa de Prince obteve contratos públicos de mais de mil e quinhentos milhões de dólares (1.500.000.000,00), e possui um dos mais importantes stocks privados de armas pesadas, uma frota de aviões e de helicópteros Blackhawk, navios, veículos blindados, carreiras de tiro, etc., sendo anualmente formados nas suas bases 30.000 polícias e soldados.
O seu poder deve-se em larga medida aos laços que unem a família de Prince à franka mais religiosa do Partido Republicano. Em 1992, o jovem Prince apoiou a nomeação de Pat Buchanan, líder da extrema-direita cristã, para a nomeação à candidatura presidencial. Depois, integrou o corpo de elite dos Marines e, após a morte do pai, fundou a Blackwater, verdadeira guarda pretoriana que se tornou no braço direito do Pentágono, e que permite dissimular algumas operações sensíveis à vigilância do Congresso.
Erik Prince
A ambição de Prince, porém, não conhece limites. O seu sonho é substituir-se aos exércitos enfraquecidos de todo o mundo e, desde logo, ao mais vulnerável, os capacetes azuis, que considera incapaz de assegurar as tarefas de manutenção de paz conduzidas pelas Nações Unidas. Está na sua mente a criação de uma brigada internacional de profissionais apta a substituir os "soldados da paz", isto é, a privatização dos capacetes azuis, ideia chocante e que nos parece irrealista, embora tenha seduzido alguns círculos influentes dos republicanos evangélicos.
Aquando da carnificina de Bagdad (Praça Nissur) realizada pelos homens de Prince, em 2007, Hillary Clinton exigiu uma lei que pura e simplesmente interditasse a Blackwater no Iraque, mas hoje, que os democratas estão no poder, a secretária de Estado tem-se mostrado mais complacente com as atrocidades e os assassinatos selectivos levados a cabo no Afeganistão e no Iraque, onde o número de mercenários e de soldados regulares já é praticamente igual.
Mercenários da Blackwater no Iraque
Segundo Michael Ratner, presidente do Centro para os Direitos Constitucionais, e que tenta levar a tribunal os responsáveis por actos criminosos, a utilização deste sistema é uma subversão da democracia: "A utilização crescente de contratados facilita a condução das guerras. Apenas é preciso dinheiro; já não o acordo dos cidadãos".
A privatização da guerra, a concretizar-se, constituiria o estádio último do capitalismo, antes do desmoronamento final e completo da civilização ocidental.
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