terça-feira, 28 de abril de 2009

BERLIM

Após uma semana em Berlim, regresso ao convívio com os meus eventuais leitores. A cidade mantém a sua imponência imperial e mesmo os novos edifícios, de arquitectura moderna, que substituíram os destruídos durante a Segunda Guerra, não destoam do conjunto na cidade prussiana que foi a capital do Terceiro Reich e é hoje, novamente, a capital da Alemanha.

Ao contrário de Lisboa, onde a construção prossegue desordenadamente, sem gosto e sem planos, Berlim, com os seus espaços verdes em quase todos os quarteirões, a sua limpeza, o seu trânsito automóvel disciplinado e relativamente reduzido, já que a maioria dos cidadãos utiliza a bicicleta ou os transportes públicos, constitui um exemplo que deveria ser imitado, mutatis mutandis, nesta outrora bela capital que é Lisboa.

A oferta cultural é abundante e, para além dos museus e das exposições, dos palácios e das igrejas, os espectáculos dos mais variados géneros são um permanente convite a umas horas de deleite espiritual. Vi, na Staatsoper, um Macbeth, protagonizado por Vladimir Stoyanov e com direcção musical de Julien Salemkour, à frente da Staatskapelle Berlin. Excelente espectáculo, ainda que a encenação fosse demasiado moderna para o meu gosto, mas já nos vamos habituando, por toda a parte, a ver óperas historicamente colocadas fora das suas épocas, o que provoca um óbvio desfasamento entre o que se diz ou canta em cena e a cena em si mesma, refiro-me evidentemente a cenário e figurinos. Quem não conhece a história nada perceberá. Explicar-lhe-ão depois!!! Na Philharmonie, ouvi, pela Berliner Philharmoniker, dirigida por Peter Eötvös, duas peças de Bach, orquestradas por Schönberg, o Idílio de Siegfried e o Requiem für einem jungen Dichter, de Zimmermann, composto em 1969, um ano antes da sua morte. Grande peça da música contemporânea, não faz, naturalmente as delícias dos amantes da música dos períodos anteriores. É interessante conhecer esta obra, mas os ouvidos habituados a Verdi, a Wagner, a Tchaikovsky, a Mozart, a Beethoven, dificilmente a apreciarão; talvez, por isso, muitas pessoas abandonaram o auditório antes do fim, apesar de se encontrarem na casa que, durante décadas, foi dirigida por Herbert von Karajan.

Nos próximos dias, compartilharei com os leitores mais algumas impressões desta estada.

3 comentários:

Anónimo disse...

Curioso,por mim não associo a Berlim actual a "imponência imperial",que veria mais em Viena,Londres,Washington. Alem da Porta, Berlim parece-me uma cidade agradável,estimulante,jovem,moderna no bom sentido,e sem o peso que a noção de "imperial" comporta. E se em música é tudo o que apanhou,teve azar. Eu em quatro dias vi um "Tristão" innesquecivel dirigido pelo Baremboim com a Waltraud Meier,um "Parsifal" excelente na Deutsche Oper,uma Paixão seg. S.Mateus encenada,tambem na Deutsche Oper,alem de um concerto na Philarmonie com a Orquestra de Chicago dirigida pelo mesmo Baremboim,com o 2º concerto de Brahms com o Radu Lupu. O autor do blogue tem de planear melhor a sua próxima visita à fervilhante capital onde se sente uma atmosfera de liberdade ,varridos que foram em boa hora os odores mefíticos do regime mefistofélico que em oposição à tradição de civilização goethiana lá se instalou e só desapareceu depois de ter destruido o que podia da Europa civilizada e civilizante.

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

Felicito o Anónimo das 19:24 por ter assistido em Berlim a quatro espectáculos de música em quatro dias. Confesso que a minha programação para Berlim, ainda que em oito dias, tinha outros objectivos além da música, que muito aprecio, mas não exclusivamente. Há museus, exposições, monumentos, lugares míticos e também lugares comuns, e tudo isto deve ser usufruído com a tranquilidade possível, que é sempre pouca numa cidade com tantas solicitações.

Anónimo disse...

Curioso o tão dinâmico e cultivado autor do blogue parecer esquecer que em Berlim(como aliás na maioria das cidades) os concertos e as óperas funcionam à noite ou ao fim da tarde,e os museus e galerias estão abertos de manhã e à tarde. Ou seja,o facto de ir ver um "Tristão" não impede que se passe a manhã e a tarde na bendita Ilha,ou algures. Referi a minha maratona musical(que nada me cansou,antes pelo contrário)pois o seu post berlinense era sobretudo dedicado a espectáculos musicais que não me pareceram do melhor que cidade oferece,mas tudo depende da oportunidade e do planeamento. Tambem não quis estar a "armar aos cucos" e relatar as evidentes visitas a alguns dos museus de primeira água daquela estimulante cidade. Claro que nas minhas manhãs e tardes passeei pela magnifica "Gemälde Galerie"(2x!)pelo Pergamon,por parte do Altes Museum(então em reconstrução)pelo Museu Egípcio com a Nefertiti,então fóra da Ilha,e fui ver os Românticos,em particular o meu bem-amado Caspar David Friedrich,agora tambem na Ilha,mas no meu tempo(2000) noutro local,talvez Charlottemburg.Foram talvez os quatro dias mais bem aproveitados da minha vida,e tudo aconteceu sem pressas nem cansaços. Foram quatro dias mágicos que dificilmente se repetirão,e por isso falo com tanto entusiasmo do caracter "estimulante" de Berlim. E como há sempre aquele Ghirlandaio,ou aquele vaso ático,ou aquele Friedrich,que talvez não tenha ficado bem visto e revisto,tenho mesmo que pensar nos vôos.Para quando?