domingo, 22 de abril de 2012

OS ESCRITORES E A OCUPAÇÃO




Estando a pôr em dia a leitura das últimas revistas, noto que o nº 516 do Magazine Littéraire (Fevereiro) é dedicado ao tema "Les Écrivains et l'Occupation".

Trata-se de um dossier muito bem coordenado, como é apanágio da publicação, onde ressalta o depoimento de Claire Paulhan, neta de Jean Paulhan, o famoso director da Nouvelle Revue Française (NRF) de 1925 a 1940 e de 1953 a 1968. Claire traça um panorama geral da posição dos escritores franceses durante a ocupação alemã, destacando as opções estéticas, ideológicas e políticas, as hesitações, as ambiguidades, as tergiversações, os oportunismos, os dramas e as tragédias que ocorreram nesse período, em que alguns pensaram que a coabitação com o invasor era o caminho certo, numa Europa entalada entre o comunismo, que triunfara a Leste e o capitalismo, que não sendo ainda o flagelo que hoje conhecemos, manifestava já, a partir dos Estados Unidos, os tentáculos com que agora pretende abraçar o mundo. Depois, para muitos, Hitler, era chefe de um partido socialista (e nacionalista, o que para os franceses tinha algum significado) e chegara ao poder pela via democrática. Aliás, como Mussolini. E, de equívoco em equívoco, defenderam-se ideais, retractaram-se posições, cometeram-se suicídios, ocorreram fuzilamentos.

Desfilam diante de nós os nomes de Céline (um dos maiores escritores franceses do século XX), Brasillach, Drieu la Rochelle, Cocteau, Sartre, Gide, Aragon, Malraux, Colette, Lévi-Strauss, Maurras, Lucien Rebatet, Walter Benjamin, Pierre Benoit, Marcel Arland, Henry de Montherlant, Paul Morand, Jean Giono, Ramon Fernandez, Marcel Jouhandeau, Abel Bonnard, André Breton, Marguerite Yourcenar, Jules Romain, Saint-John Perse, Julien Green, Denis de Rougemont, Saint-Exupéry, François Mauriac, Benjamin Péret, Georges Bernanos, Raymond Aron, Vercors, Jean Guéhenno, Maurice Blanchot, Sacha Guitry, e tantos outros que seria ocioso citar. Sempre presente, o alemão francófilo Otto Abetz, embaixador do Führer em Paris, encarregado de seduzir a intelectualidade gaulesa à bondade da causa germânica.

Imagino que, pelas mais variadas razões, das mais às menos respeitáveis, se tratou de um período a todos os títulos difícil para os escritores franceses e, de uma maneira geral, para todos os homens (e mulheres) de cultura, fosse no teatro, no cinema, nas artes plásticas, nos mais diversos ramos. Muitos livros documentam já esta época controversa da história de França. Mas não posso deixar de saudar a excelente síntese deste número do Magazine Littéraire que, em menos de 50 páginas, traça um panorama elucidativo das atitudes dos plumitivos franceses sob ocupação alemã.

2 comentários:

Xico disse...

Por isso, e porque reconhecemos o quão difícil deve ter sido, temos de estar tão atentos. Muito atentos. Até às nossas próprias raivas e desilusões, porque é fácil cair nas tentações dos fascismos de várias tonalidades. Nos populismos que abundam...depois não vale a pena lamentar!

ZÉ DOS ANZÓIS disse...

Aqui se reflecte e muito bem sobre a dificuldade de tomar certas opções em certas circunstâncias, mesmo quando se já percebeu qual é o lado certo e o errado. É que existem condicionalismo no terreno que muitas vezes impedem tomar a decisão certa no tempo correcto. As hesitações e reviravoltas de muitos escritores franceses são um exemplo claro de como é complicada a vida das nações.