quinta-feira, 22 de junho de 2023

OS NEGÓCIOS DE JÚLIO CÉSAR

A biografia de Júlio César, por Luciano Canfora, refere, logo no início, uma afirmação de Bertolt Brecht: «En écrivant le César, je n'ai pas à croire un seul instant, je le découvre maintenant, que les choses devaient obligatoirement se passer comme elles se sont passés» (Brecht, no seu "Diário de Trabalho" (Arbeitsjournal), de 23 de Julho de 1938, que testemunha uma concepção precoce do seu livro, aliás inacabado, Die Geschaefte des Herrn Julius Caesar, publicado em 1957, e editado em português, em 1962, com o título Os Negócios do Senhor Júlio César, em tradução do poeta António Ramos Rosa, quando as traduções ainda eram efectuadas por pessoas com um adequado nível de cultura.

Resolvi, por isso, reler este romance de Brecht que se distingue na sua produção literária, quase integralmente dedicada ao teatro, onde introduziu o "efeito de distanciação", coisa que estudei quando era novo, e que esteve na base do teatro didáctico ou narrativo, por oposição ao teatro dramático.

Já não me recordava do texto, lido há uns cinquenta anos, e que é uma original abordagem de um período da vida de César. Imagina Brecht um cidadão romano, anos depois da morte do Ditador Vitalício, tentando obter de um agente fiscal um Diário que teria sido escrito por um escravo, Raro, que durante anos fora secretário de César. Anota Raro as atribulações da carreira do Divino Júlio, as suas permanentes dívidas, o arresto periódico de alguns dos seus bens, as suas conspirações políticas, tudo isto numa atmosfera de uma Roma mergulhada em problemas financeiros, que Brecht faz corresponder a uma City, usando a linguagem dos banqueiros e dos empresários dos nossos dias. Exercício largamente irónico, realizado numa perspectiva marxista, em que o autor pretende transmitir-nos a alienação do mundo capitalista, recorrendo a factos reais como o negócio dos escravos, a questão agrária, a distribuição do pão e tantas outras facetas que povoavam o quotidiano de Roma. Aproveita Brecht para alternar as vicissitudes do imperator, descritas pelo escravo Raro, com considerações deste sobre a sua própria vida, ilustrando os costumes da época. Não se coíbe Raro, em muitas das entradas do Diário, de se lamentar das infidelidades do seu jovem amante Caébio (cidadão romano), que mantém por conta, e que acaba por abandoná-lo, passando-se para os partidários de Catilina, por Raro não lhe ter montado uma loja de perfumes, como lhe prometera. Uma fina ironia, um escravo sustentar um homem livre em troca de favores sexuais.

Apesar do texto ser em alguns momentos repetitivo quanto às matérias tratadas, este livro ilustra bem as preocupações económicas, financeiras e sociais no fim da República e alguns aspectos menos conhecidos da vida doméstica quotidiana de Júlio César. 


sexta-feira, 16 de junho de 2023

O JARDIM DE CINZAS

Concluí a leitura da tetralogia La reine oubliée, de Françoise Chandernagor, com a finalização do IV volume, Le Jardin de Cendres. São, no total, cerca de 2000 páginas dedicadas a Cleópatra Selene, a filha de Cleópatra VII e de Marco António, que, pelo seu casamento com Juba II, se tornou rainha da Mauritânia romana. Apesar do vivo interesse suscitado pela escrita da autora, baseada nas fontes históricas disponíveis e ficcionando os espaços históricos de que não existem registos, e do elevado nível da efabulação, talvez Françoise Chandernagor se tenha alongado demasiado, enchendo a obra com pormenores eventualmente dispensáveis, ainda que não desprovidos de interesse e que atestam a sua vastíssima cultura.

Os três primeiros volumes narram a vida de Selene em Alexandria, em Roma e, depois de casada, na Numídia. Este quarto volume encerra a narrativa, com Selene na Numídia, em Roma, no Oriente.

Neste IV volume, entre os factos históricos mais relevantes importa salientar a adopção por Augusto (17 AC), de Caius César e de Lucius César, filhos de sua filha Julia e de Marcus Agrippa e "adquiridos" aos pais pelo imperador. As crianças passaram de netos biológicos a "filhos adoptivos" de Augusto e presumíveis herdeiros do Império. Mas morreram ambos cedo. A sucessão de Augusto revelava-se periclitante. O herdeiro presuntivo do Império, Marcellus, filho de Caius Claudius Marcellus e de Octávia (irmã de Octávio Augusto), o sobrinho predilecto do imperador (que o casara com sua filha Julia), morrera subitamente em 23 AC. Pensou então Augusto "legar" o Império a Marcus Agrippa, general notável, grande construtor, homem de confiança e verdadeiramente o nº 2 da ainda "República" e a quem obrigara a divorciar-se da mulher Claudia Maior (sobrinha do próprio Augusto) para casar com Julia. Mas Agrippa morreu em 12 AC. Pensando na sucessão, Augusto optara por retirar a Julia e Agrippa os ditos filhos e adoptá-los para garantir a transmissão do Poder na Família.

Entretanto, Livia Drusilla, a mulher de Augusto (o casal não tinha filhos), vigiava as movimentações do marido, tentando acautelar o destino dos filhos do seu primeiro casamento com Tiberius Claudius Nero: Tibério (o futuro imperador) e Nero Claudius Drusus. Mas Augusto não gostava dos enteados e optara pelos netos. E quer Caius César (m. 4 AD), quer Lucius César (m. 2 AD) morreram antes do imperador. Augusto detestava Tibério, preferindo, se necessário. o irmão mais novo deste. Mas Nero Claudius Drusus, morreu de uma queda de cavalo em 9 AC.

O imperador foi então obrigado a uma derradeira jogada, adoptando Tibério (4 AD) e obrigando-o a divorciar-se de sua mulher Vipsânia Agripina (filha de Marcus Agrippa) para lhe dar em casamento a própria filha Julia, agora viúva de Agrippa, o que desagradou imensamente aos novos esposos. Tibério deveria ter por sucessores seu filho biológico Castor, do seu casamento com Vipsânia, filha de Agrippa, e  Germanicus, filho de seu irmão Drusus (entretanto falecido) e de Antonia. Diga-se que os novos esposos, Tibério e Julia, se detestavam mutuamente, tendo casado por imposição de Augusto.

Mas Octávio César Augusto, na sua sinistra ambição pelo poder, obrigou todos os familiares a casarem, divorciarem, recasarem, à medida das suas conveniências pessoais. 

Regressando a Selene. Numa das campanhas no norte de África em que insistiu em acompanhar o marido, Selene, ainda desconsolada pela morte dos filhos, como relatado no post anterior, descobriu um bébé berbere que resolveu adoptar (6 AC) e a quem deu o nome de Aedemon (o Discreto) que, com uma ama da Bitínia, passou a viver no palácio real. A rainha tinha construído junto à residência um jardim quase fúnebre, a que chamou jardim de cinzas, recordando, em túmulos e cenotáfios, os seus filhos e os seus irmãos também mortos. Dir-se-ia que Selene vivia agora de recordações e com o desgosto de não possuir um filho varão, apenas lhe restando a filha mais velha Théa. Mas, talvez por milagre de Isis, Selene voltou a conceber, e desta vez um rapaz, a quem chamou, obviamente, Ptolemeu. O filho adoptivo e o filho biológico cresceram juntos, tornaram-se amigos, e embora Aedemon fosse mais forte manifestou sempre uma certa deferência pelo príncipe herdeiro.

Mas um novo desgosto atingiria Selene. Tendo obtido uma pequena serpente para divertimento de sua filha Théa, cujo veneno era diariamente extraído pelo encantador, aconteceu que um dia o homem esqueceu-se da operação e numa brincadeira a serpente mordeu Théa. Apesar dos rápidos socorros, a mordedura revelou-se fatal. O encantador foi morto e Selene mergulhou de novo num pesado luto.

Esta longa narrativa, em quatro volumes, da história de Selene, a "rainha que a história esqueceu", permitiu a Françoise Chandernagor uma descrição documentada da vida em Roma no tempo de Augusto, mais precisamente da vida da família de Augusto.

As más notícias continuaram a perseguir Selene. Em 2 AC, Julia (única filha de Augusto, casada com Tibério em 11 AC, por imposição do pai, e de quem vivia praticamente separada desde 6 AC), foi exilada para a ilha de Pandatária por decisão do imperador, sob o pretexto de uma vida dissoluta. Augusto, que desde muito cedo se arvorara em guardião da "moral e dos bons costumes", informou o Senado que não poderia tolerar o comportamento da própria filha, acusada de actos libidinosos com os jovens da aristocracia romana. Pior, foi acusada de ser amante de Iullus Antonius (filho de Marco António e de Fulvia), marido de sua prima Marcella. Os acusados de deboche foram condenados à morte mas Iullus Antonius suicidou-se. Lucius Antonius, filho do casal foi desterrado para Marselha. Escribónia (que fora mulher de Augusto) e mãe de Julia, decidiu acompanhar a filha no exílio, tendo ambas vivido com as maiores dificuldades, até que em 3 AD, perante a crescente impopularidade em Roma da atitude do imperador, este decidiu permitir que ambas regressassem ao continente, ficando alojadas em Reggio di Calabria. No seu testamento, Augusto dispôs que Julia não fosse sepultada no mausoléu imperial e Tibério, futuro imperador, agravou ainda mais as condições de vida de Julia, que morreu, dizem que à fome, em 14 AD, com 54 anos. Segundo a autora (e ainda que a história registe a leviandade de Julia), este "escândalo sexual" escondeu uma eventual conspiração, já que uma certa aproximação de Julia e Iullus Antonius (que apesar da sua serenidade não teria esquecido que se devia a Augusto a morte de seu pai) e de mais alguns aristocratas teria por objectivo o restabelecimento do normal funcionamento da República, que para o imperador já só existia formalmente. O exílio de Julia magoou profundamente Selene, já que ambas tinham convivido na infância em casa de Octávia.

Dos cinco filhos de Julia com Marcus Agrippa, Caius César e Lucius César (ambos adoptados por Augusto) morreram jovens e sem geração; Julilla (ou Julia a Jovem), veio a casar com Marcus Emilius Lepidus; Agripina (a Velha) casou com Germanicus (filho de Druso, o Velho que era irmão de Tibério) e de Antónia Menor; e Agrippa Postumus (já nascido depois da morte do pai e que se comportava animalescamente, o que levou Augusto a desterrá-lo para uma ilha, seria assassinado por ocasião da morte do imperador, talvez por decisão deste ou de Tibério). Acrescente-se que quando Augusto designou Tibério como sucessor impôs a este a adopção de Germanicus e do próprio Postumus.

Castor, filho único de Tibério e de sua primeira mulher Vipsânia, de seu nome Nero Cláudio Druso Júlio César, usou este pseudónimo por alusão a um lutador célebre. Casou com sua prima direita Livilla, filha de Antonia e de Druso, o Velho e teve três filhos. Morreu ainda em vida de seu pai e nenhum dos filhos teve direito à sucessão do avô.

Julilla foi desterrada para as ilhas Tremiti, em 8 AD, acusada de adultério com o senador Silano. Curiosamente, foram estas ilhas as escolhidas por Mussolini para deportar os homossexuais italianos durante o regime fascista. Deixou duas filhas e um filho e ainda um bébé, já nascido nas ilhas, e que Augusto obrigou fosse abandonado. A exemplo de sua mãe Julia, parece que o desterro, também neste caso, não seria por causa do adultério invocado pelo imperador mas por razões políticas, pois seu marido (que Augusto mandou depois matar) estaria envolvido numa revolta. Acresce que por detrás de tudo estaria Livia, da família dos Claudii, sempre desejosa de destruir todos os ramos da família dos Julii.

Finalmente, Caio Octávio César Augusto morreu em 19 de Agosto de 14 AD, em Nola, na casa que fora de seu pai, depois de uma frustrada visita à ilha de Capri.  Os funerais foram sumptuosos.

Selene, que viera com Juba a Roma assistir às cerimónias fúnebres, encontrou-se depois com o novo imperador Tibério, numa residência que este tinha sobre o mar, uma espécie de estranha caverna na Câmpania chamada Spelunca. Selene convivera com Tibério quando eram miúdos e mantivera com ele uma relativa amizade, se era possível manter amizade com Tibério cujo feitio desconfiado e hesitante o tornava uma criatura problemática. Estando o filho de Selene, o jovem Ptolemeu, em idade de casar, Selene aconselhou-se com Tibério sobre a possibilidade de o unir a uma família aristocrática, o que o imperador logo descartou, pois o rapaz, apesar de filho de reis, era um berbere e nenhuma família romana o aceitaria. Propôs a Selene que procurasse esposa nas famílias reais do Oriente.

Entretanto, Germanicus pacificava a Germânia com grande êxito (daí o apelido) na companhia de sua querida esposa Agripina, a Velha, segunda filha de Julia e de Marcus Agrippa, que sempre o acompanhava nas campanhas militares, e dos sucessivos filhos. O terceiro filho, Caius, foi alcunhado pelas tropas de "Caligula", devido às botinhas (caligae), semelhantes às sandálias dos militares, que usava em miúdo nos teatros de guerra. Tendo sido enviado para o Oriente, Germanicus decidiu visitar o Egipto (região que Augusto interditara a toda a sua família e a todos os altos dignitários e que era administrada por um funcionário menor. Era ainda a maldição de Marco António e de Cleópatra). 

Tibério enfureceu-se com a atitude de Germanicus, recordando que o Egipto era desde Augusto uma propriedade pessoal do imperador e que nenhum membro da Família ou alto funcionário estava autorizado a visitar. E mandou-o regressar a Roma. Houve, pelo meio, uma intriga e, aprestando-se a voltar a Roma, Germanicus morreu em Antioquia, presumivelmente envenenado. Pensa-se que o suposto envenenamento tenha sido provocado por Pison ou por sua mulher Plancine e ordenado por Lívia, que abominava os descendentes de Marco António: ele era filho de um Claudii e de Antónia Menor, filha de Marco António. Tibério não estaria envolvido na conspiração. Agripina, mulher de Germanicus, acompanhada pelos filhos organizou, com grande pranto, o cortejo fúnebre para Roma. E não mais deixou de atribui à Família a responsabilidade pela morte do marido, o que viria a causar grande mal-estar. Tibério ordenou uma investigação, mas não foi às últimas consequências devido à pressão da mãe e entretanto Pison suicidou-se. Germanicus era muito querido em Roma e a sua morte suscitou a maior emoção. 

Tendo também morrido Castor (23 AD), único filho de Tibério e de Vipsânia, sua primeira mulher, que o imperador esperava lhe sucedesse, tentou aprontar para a sucessão os dois filhos gémeos deste, Tiberius Gemellus e Drusus Gemellus, mas que ainda eram crianças. Apesar de haver um filho vivo de seu irmão Nero Cláudio Druso, o futuro imperador Cláudio (Tibério Cláudio César Augusto Germânico), aparentemente débil mas um estudante brilhante, embora não fosse encarado como um possível sucessor. Cláudio era irmão do falecido Germanicus, e eram os filhos deste que estavam na linha de sucessão: Nero César, Drusus Celer e Calígula. 

Farto das pretensões de Agripina, Tibério desterrou-a para a ilha de Pandataria e a seu filho Nero César para a ilha de Pontia e encerrou Drusus Celer nos subterrâneos do Palatino. Todos haveriam de morrer em pouco tempo, assassinados.

Em 23 AD, morrera também Juba II, marido de Selene e sucedeu-lhe seu filho Ptolemeu, que casou com a princesa Shalmar do reino de Osroene, que viria a morrer de parto ao mesmo tempo que o recém-nascido.

Entretanto, um jovem de origem humilde, Lucius Aelius Sejanus, que subira na carreira militar, foi designado por Tibério prefeito da Guarda Pretoriana e foi ganhando influência até se tornar no braço direito do imperador. Quando Tibério se retirou para Capri, Sejanus assumiu de facto o poder em Roma.

Tibério não apreciou a casa que Augusto mandara edificar na ilha e mandou construir em Capri uma sumptuosa moradia, a Villa Jovis, onde se instalou até morrer. Dada a sua desconfiança e misoginia não recebia praticamente ninguém, ficando Sejanus encarregado de transmitir todas as ordens e fornecer todas as informações ao imperador. Durante onze anos Tibério não foi a Roma, nem mesmo às sessões do Senado, nem sequer ao funeral de sua mãe Lívia, que morreu em 29 AD, com 86 anos.

Viúvo, Ptolemeu casou em segundas núpcias com uma princesa judia, Phasael, em Antium, na Villa marítima de Selene. [Curiosamente, segundo a minha investigação, Phasael é nome de homem, mas cito Chandernagor].

O poder de Sejanus cresceu imparavelmente, a ponto de ele pretender mesmo casar com a viúva de Castor, filho de Tibério, a que o imperador evidentemente se opôs. Embora misógino, tendo amado, ao que consta, sua primeira mulher Vipsânia de quem foi obrigado por Augusto a divorciar-se para se casar com Júlia, com quem nunca manteve relações, não há, ao longo da sua vida, notícia de ter possuído, como era de norma na aristocracia romana, os seus delicati, salvo, para o fim da vida, as crianças da sua piscina de Capri, como relata Suetónio. Mas no momento do grande favoritismo de Sejanus, Françoise Chandenagor insinua que o imperador poderia ter ficado seduzido pelo prefeito, que teria começado a vida como mignon. Nunca ouvira, mas registo a opinião da autora que, aliás, mais adiante refere que não partilha da convicção de Suetónio.

Mas apesar de ter entregue a administração a Sejanus, Tibério, avisado de que ele estaria envolvido numa conspiração, mandou matá-lo  de forma hábil, atendendo ao poder que o prefeito pretoriano já tinha alcançado. Depois, nomeou Naevius Macron, um homem da sua confiança, para o substituir (em latim é Macro mas Chandernagor escreve Macron...).

Finalmente, Tibério morre no ano 37, designando seu sobrinho-neto Calígula como sucessor. Havia ainda Tiberius Gemellus (filho de Tiberius Drusus, dito Castor, já falecido), e em consequência neto de Tibério, que o adoptara tal como a Calígula. O Senado proclamou Calígula como imperador e este, num gesto de amizade, decidiu que co-governaria com Gemellus, mas pouco depois mandou matá-lo.

A história, já longa, aproxima-se do fim, e devido à extensão abreviarei o relato. Ptolemeu, que havia sido chamado a Roma por Calígula, acompanha-o na campanha da Germânia e é por este assassinado. Selene, que ficara a governar a Mauritânia, coadjuvada por seu filho adoptivo Aedemon, é informada da morte de seu filho Ptolemeu e presente que Roma irá invadir o seu reino. O pressentimento concretiza-se e a esquadra romana entra no porto de Cesareia. Selene recorda-se da tomada de Alexandria por Octávio e recusa-se a fugir para zona segura; prefere afogar-se numa cisterna, evocando a sua cidade natal. Calígula será mais tarde assassinado e substituído por seu tio Cláudio, mas estes acontecimentos estão já fora do horizonte temporal do romance.

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NOTA: Os nomes próprios estão grafados neste texto umas vezes em português, outras em latim, tal como na obra de Françoise Chandernagor estão escritos umas vezes em francês, outras em latim. Tal deve-se ao facto de algumas figuras terem já assumido historicamente o seu nome nas línguas latinas.

Os volumes desta Tetralogia são romances, na vizinhança do género romance histórico. Mas o enquadramento geral é histórico. A autora refere no fim de cada volume o seu método de trabalho: seguir cronologicamente os acontecimentos e preencher com ficção os intervalos para os quais as fontes são mudas. E deve salientar-se que a parte claramente efabulada é de grande criatividade. Também é possível, mas dificilmente verificável, que alguns factos históricos tenham sido ligeiramente distorcidos para se conformarem ao fio da narrativa. Françoise Chandernagor não menciona usualmente datas, pelo que as indicadas no post decorrem quase todas da  minha pesquisa e são de minha responsabilidade. Entendi referi-las para facilitar, em alguns casos, a compreensão do texto.